15 nomes para o próximo WWE Hall of Fame – Parte 3/3

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Bem vindo, novamente. Chegamos a terceira e última parte de nossa jornada para sabermos quem são os 15 nomes que mereceriam estar no próximo WWE Hall of Fame, por tudo que fizeram no pro wrestling. Depois de Kurt Angle e a dupla Rock’n’Roll Express, a WWE revelou que Teddy Long também fará parte da próxima edição de sua cerimônia. Sendo assim, até o momento, nenhum lutador listado por aqui foi nomeado para a Class of 2017, e posso adiantar que nenhum dos que ainda faltam ser mencionados hoje foi apontado pela empresa. Sim, uma infinidade de outros lutadores importantes ficaram de fora, foi uma missão difícil escolher apenas os 15 dessa lista. Mas conseguimos, e aqui estão os 5 últimos a ser lembrados. Espero que gostem. E como vocês podem perceber, hoje sim tem Chris Benoit. Vamos lá.

Christian

 

Não sei qual certo é o tempo para que um lutador possa entrar para o Hall of Fame após sua aposentadoria. Na verdade, nem sei se Christian está realmente aposentado. Desde sua última luta oficial em 2014, ele simplesmente foi se afastando dos ringues após algumas lesões, mas o próprio nunca assumiu oficialmente sua saída como lutador e nem a WWE. De qualquer forma, ele tem que fazer parte do hall da empresa por tudo que fez em sua carreira de aproximadamente 20 anos no wrestling, quase todos ao lado de seu parceiro de profissão e da vida, Edge.

Aliás, uma coisa tem de ser dita, o nosso Captain Charisma foi sempre posto como uma sombra de Edge, o que é algo injusto. Christian era tão bom nos ringues quanto seu companheiro de tag team, levava toda a experiência desde a Attitude Era para a nova geração de fãs. É verdade que ele teve alguns bons momentos solos, como sua feud com seu compatriota Chris Jericho que culminou em uma luta no Wrestlemania XX, sua passagem pela (nova) ECW e seu então last run onde o chant de “one more match” ecoava entre os fãs. De qualquer forma, nada comparado quando estava ao lado de Edge, onde sua popularidade verdadeiramente explodiu. Além dos momentos hilários com seu partner, vale lembrar apenas das revolucionárias TLC matches que os dois participaram, que já é o bastante para esse paralelo. Mesmo estando bem debaixo dos holofotes, Christian servia para ajudar Edge a se destacar cada vez mais dentro da empresa, como se ele o colocasse nos ombros para que ficasse mais visível para todos. Não foi lhe dado o mesmo tratamento que Edge recebeu, e isso é um fato. Essa situação tem até nome, chamam carinhosamente de “Sindrome de Michaels-Jannety”, uma referência à dupla The Rockers, onde Shawn Michaels teve uma ascensão absurda enquanto Marty Jannety amargou o total ostracismo. Christian não chegou tanto ao fundo do poço, mas certamente não teve a mesma sorte de seu parceiro de dupla. Lembra daquele reinado de 2 dias com o World Heavyweight Championship que Christian teve quando finalmente permitiram ele segurar um título mundial? Foi algo lamentável, mesmo ele recuperando o cinturão algum tempo depois. Para perder de novo em pouco menos de um mês…

Mesmo assim, Christian constituiu uma legião de fãs ao longo dos anos. Ou peeps, como ele costuma chamá-los. Diferente de muitos outros lutadores, Christian teve um afastamento discreto das lutas, não tão espetaculoso, digo até que uma forma mais digna. Quem é realmente fã de wrestling sente nem que seja um pouco a falta de Christian nos ringues. E também irá concordar que ele merece um lugar no Hall of Fame. Tenho minhas dúvidas se seu corpo aguenta ainda algo mais dentro de um ringue da WWE, está na hora realmente de consagrá-lo com essa honraria de uma vez por todas. Nem é difícil pensar em quem iria introduzi-lo, obviamente que seria Edge, retribuindo o favor que recebeu de Christian em 2012, em sua indução na cerimônia. Quem sabe veríamos uma “five second pose” no palco, marcando o momento em que a dupla se torna por fim lendária.

 

Dean Malenko

 

Eu tenho 1000 razões para que Dean Malenko faça parte do WWE Hall of Fame. Ou melhor, 1000 holds. Ele é mais um daqueles lutadores que ganharam fama fora da WWE, e quando finalmente são contratados para fazer a mesma coisa na empresa só que agora em nível estratosférico, são mal aproveitados. Teve o apoio dos companheiros de trabalho, teve o apoio dos (verdadeiros) fãs, porém foi desvalorizado pelos maléficos McMahons. Uma pena que Malenko nunca saiu do mid-card, pois ele era a definição de um wrestler perfeito. Bem, ao menos nos ringues a perfeição de Dean Malenko podia ser contemplada ao máximo. Talvez a sua mic skill tenha atrapalhado em sua ascensão a lugares mais altos no roster, não tendo o nível desejado no universo do pro wrestling, um problema recorrente entre muitos outros lutadores pouco apreciados. O carisma também não era dos melhores, não é a toa que seu apelido era The Iceman. Como definiria Kevin Nash, ele era um “vanilla midget”. Acredito que Malenko surgiu na época errada, onde o entretenimento é mais valorizado do que o wrestling em si.

De qualquer forma, o lutador passou por todas as grandes federações dos anos 90 ao longo de sua carreira, dominando as cruiserweights divisions sem ser um highflyer e as demais com seu talento natural. Meu Deus, como Dean Malenko era fantástico nos ringues. Um lutador ágil, habilidoso, tecnicamente completo, com um arsenal infinito de golpes. Em suas lutas, ele sempre trazia algo diferente, algum movimento ou hold novo que fazia o público ficar maravilhado. Aprendeu tudo com seu pai, o também lutador Boris Malenko, se aperfeiçoou nos ringues da América, México e Japão, e prosseguiu essa linha de ensinamento sendo o treinador de inúmeras novas estrelas ao lado de seu irmão Joe Malenko. Alguns discípulos dos Malenkos já tiveram passagem na WWF/E, como Marc Mero, Shelton Benjamin, Jamie Noble e Kane.

Underrated. Se existe uma figura que possa representar esse termo, esse seria Dean Malenko. Doou-se tanto para o pro wrestling, e não recebeu muito em troca. Sendo assim, é quase um dever moral nomeá-lo ao WWE Hall of Fame, mesmo que colocá-lo no centro das atenções atrás de um microfone não seja o lugar preferido de o lutador estar. Não seria algo impossível, tendo em vista que Malenko trabalha atualmente como road agent para a WWE. Joe, seu irmão e ex-partner da tag The Malenko Brothers poderia introduzir o nome da família através de Dean Malenko. Outro candidato possível seria Perry Saturn, parceiro e outro único membro ainda vivo da stable The Radicalz, um conjunto de wrestlers de alto teor técnico que tiveram algum sucesso nas feds que lutaram. Talvez essa seja não só a maior vitória na carreira de Dean Malenko, mas também para uma vasta lista de outros lutadores desvalorizados que já passaram por um ringue de wrestling profissional.

 

Luna Vachon

 

O WWE Hall of Fame tem como costume induzir ao menos um lutador desconhecido ou esquecido do grande público. Talvez para não ser taxado como um evento elitista, o ponto é que a empresa traz a tona todo ano algum nome improvável. Essas indicações geralmente tem um valor maior para os lutadores nos bastidores e para aqueles que são realmente admiradores do pro wrestling, pois para a grande massa nada significam. O bom é que essas mesmas pessoas, por meio do Hall of Fame, acabam por conhecer lutadores que talvez nunca iriam saber que existiam, caso dependesse de suas vontades para pesquisar sobre eles. Em meio a isso, Luna Vachon deveria ser premiada com essa honraria.

Antes de focarmos na atleta, vamos falar sobre o sobrenome que ela carrega. Os Vachons são uma dinastia de lutadores lendários, que por décadas marcaram o universo do wrestling e não são tão prestigiados como deveriam. Luna é filha adotiva do lutador Butcher Vachon, e assim desde criança basicamente respira o esporte, vivendo na companhia de lutadores no calibre de Andre the Giant e Fabulous Moolah. Além de seu pai, sua maior inspiração seria sua tia Vivian “The Wrestling Queen” Vachon, um ícone feminino que transferiu toda sua experiência dentro e fora dos ringues para sua sobrinha. Outro famoso membro da família é Mad Dog Vachon, uma estrela no período antes do boom da luta livre em nível mundial, que já foi introduzido no Hall of Fame da WWE em 2010 por tudo que fez pelo esporte. Luna herdou a mic skill eletrizante e explosiva dos Vachons, e os golpes nada ortodoxos aplicados em suas lutas. Além disso, ela tinha um visual agressivo, sendo reconhecida por seu cabelo raspado nas laterais, sua voz rasgada e as tatuagens em seu rosto. Ela era intimidadora, indo contra o padrão de beleza inserido na divisão feminina, era a anti-diva original muito antes de outras lutadoras se auto-intitularem assim.

Em sua carreira, chegou a lutar na WCW, WWE e até na ECW, mostrando sua versatilidade como atleta. É válido dizer que sua aparência incomum trouxe alguns empecilhos em sua carreira, a impedindo de chegar a um título de expressão e alcançar maior destaque entre os fãs. Em sua passagem pela WWF, por exemplo, Luna teria afirmado que sua chance de se tornar Women’s champion lhe foi tirada pela então campeã Sable, que teria utilizado sua influência (ela tinha uma relação “suspeita” com Vince McMahon) para impedir a ascensão de Vachon ao título máximo das divas. Tudo bem que seu comportamento impulsivo nos bastidores não ajudava muito, mas quase sempre Luna Vachon era posta em rivalidades como uma aberração, uma vilã perversa contra as lindas e indefesas divas, servindo apenas para alavancar outras lutadoras. Ela também por muito tempo desempenhou papel de valet, estando ao lado de lutadores como Shawn Michaels, Bam Bam Bigelow, Gangrel (seu ex-marido) e dos Oddities, stable que teve a presença de Giant Silva, primeiro brasileiro a pisar nos ringues da WWE. Mesmo se entregando de corpo e alma para o bem da luta livre, Luna foi basicamente esquecida pela indústria, e viveu uma vida depressiva, decadente, até falecer em agosto de 2010. Sendo assim, sua introdução ao WWE Hall of Fame seria muito importante, uma redenção para a memória de uma grande lutadora. Entre alguns nomes que fizeram parte da carreira de Vachon e que ainda tem alguma relação com a WWE, destacaria Goldust como o nome que poderia introduzi-la ao saguão das estrelas da federação, por compartilharem uma carreira totalmente insana e exótica, onde ela acompanhava o Bizarre One em suas lutas. Luna Vachon teria seu momento de glória, outra vez influenciando as pessoas que não se encaixam em lugar nenhum nesse mundo.

 

Vader

 

O homem que chamam de Vader é um lutador que já deveria fazer parte do Hall of Fame da WWE há muito tempo. Por quê? Bem, porque ele era um cara de quase 200 kg que dava moonsaults, só por isso ele deveria estar em todos os halls da fama do mundo. Brincadeiras a parte, a habilidade técnica de Vader era realmente de impressionar. Fora as manobras da terceira corda, que certamente não se encaixam no perfil de um homem de seu tamanho, ele era um rolo compressor em forma de lutador dentro dos ringues. Chegava até a ser perigoso para os seus adversários, porque de vez em quando Vader não controlava sua força e exagerava nos golpes. Em uma luta contra um jobber chamado Joe Thurman, por exemplo, ele o paralisou temporariamente após aplicar um powerbomb. Dizem que Vader até chorou nos bastidores após o ocorrido. A questão é que você tinha de estar preparado fisicamente para enfrentar Vader, o apelido de “Mastodon” não era a toa. O que esperar de um cara que continua normalmente uma luta após o seu olho sair de sua orbita ocular? Pois é…

Big Van Vader se tornou uma lenda no Japão e na América, um ícone entre os super heavyweights de todos os tempos. Mesmo sendo subestimado em sua passagem pela WWF/WWE, sua presença deveria ser marcada no Hall of Fame da empresa. Ainda mais com a noticia de que o atleta teria apenas 2 anos de vida por um problema no coração, como Vader afirma em suas redes sociais. Porém, não somente por esse anuncio mórbido que a WWE deveria homenageá-lo, o conjunto de sua obra já é o suficiente para isso.

Algum lutador que tenha feito parte de sua carreira poderia introduzi-lo na cerimônia. Dentre alguns nomes que poderiam fazer esse papel, como Harley Race, Stan Hansen (ao qual Vader introduziu no último HoF) e Great Muta, aparece Mick Foley como minha maior sugestão. Primeiro, porque ele é o Mick Foley. Segundo, porque ele é um dos que mais está fazendo campanha para que Vader seja homenageado no evento. E terceiro, Foley conseguiu nutrir sua amizade com o lutador mesmo após ele ter arrancado sua orelha acidentalmente em uma luta. Acho que isso são motivos suficientes. Só digo uma coisa para a WWE sobre o próximo Hall of Fame: It’s time, it’s time, it’s Vader time!

 

Owen Hart

 

Um sobrenome, um lutador, uma lenda. Um dos nomes mais importantes dentro do clã preto e rosa dos Harts, que partiu muito antes do planejado, deixando uma enorme lacuna na história da WWE. Era nítido que ele poderia alçar voos mais altos, e é justamente por isso que a forma que ele nos deixou traz um vazio tão imenso, um sentimento de “e se ele estivesse vivo?” em vários momentos. E se ele estivesse vivo, ele seria um lutador tão aclamado quanto seu irmão, Bret Hart? Se ele estivesse vivo, ele teria maior destaque dentro da empresa e chegaria finalmente ao título mundial? Se ele estivesse vivo, ele já faria parte do WWE Hall of Fame? São perguntas que nunca teremos resposta. De qualquer forma, temos que focar menos no que seria e celebrar mais o que já foi. E assim, lembrar a carreira de Owen Hart, e entender de uma vez por todas porque ele deveria ser eternizado ao lado das estrelas da história da luta livre.

Como um bom Hart, o lutador começou sua carreira no lendário The Dungeon, e como muitos que passaram por ali e que se tornaram famosos, Owen teve um fim de carreira trágico. Mas vamos deixar esse assunto para depois, vamos focar em sua passagem na WWF, onde seu nome ficou realmente conhecido. Owen Hart conseguiu ter uma carreira digna, não tão ascendente quanto a de seu irmão, porém consistente. Mesmo depois do Montreal Screwjob, acontecimento controverso que ocorreu no Survivor Series ’97 onde Bret Hart foi propriamente humilhado na frente de seu povo canadense por conta de Vince McMahon, Owen foi o único dos Harts a ficar na empresa e trilhar por ali seu caminho. Agora sozinho, o então “Black Hart” tinha o apoio dos fãs e um eminente futuro como campeão mundial. Entretanto, ele acabou voltando para o midcard, agora na gimmick do super heroi conhecido como Blue Blazer. Era um personagem cômico, que ele já tinha interpretado em seu começo na empresa, e que não enaltecia todo o talento do lutador ainda mais naquele momento de sua carreira. Essa gimmick, aliás, de certa forma contribuiu com sua morte.

Over the Edge, 23 de maio de 1999. Data marcante para qualquer fã de pro wrestling. Vestido como Blue Blazer, Owen Hart estava marcado para lutar contra The Godfather pela título intercontinental. Fontes internas confirmam que ele sairia vencedor daquele combate. Porém, Owen não teve a chance nem de se por em ringue para lutar. Como parte de seu personagem, ele desceria por uma espécie de tirolesa do teto da arena diretamente ao ringue, há mais de 20 metros de altura. Por um problema no equipamento, os cabos de segurança romperam, levando Owen para sua morte ao cair de peito em cima de um dos postes do ringue. Médicos tentaram reanimar o lutador, mas de nada adiantou. Foi de Jim Ross a difícil missão de anunciar a morte de um dos melhores pro wrestlers que o mundo já viu. A transmissão do PPV foi interrompida, impedindo que o público em casa assistisse o acidente. As imagens da queda de Owen Hart ainda existem, mas estão guardadas s sete chaves nos arquivos da WWE. Temos na Internet como vestígios dessa tragédia algumas fotos tiradas por fãs e o áudio de poucos segundos depois da queda, onde se houve um barulho e os gritos espantados de Jim Ross e Jerry Lawler, o que já é uma assombrosa lembrança daquele momento.

Uma história interrompida prematuramente, que poderia ter sido muito mais gloriosa. É tido que a gimmick de “The Game” seria dada para Hart, que acabou sendo o ponto de virada na carreira de Triple H. Quase 20 anos depois de sua morte, Owen Hart ainda marca presença na memória das pessoas. É um dos nomes mais lembrados entre os fãs toda vez o que o WWE Hall of Fame se aproxima, algo que vem se adiando há muito tempo. E o grande motivo para que isso aconteça surpreendentemente não é a própria WWE, mas sim a viúva do lutador, Martha Hart. Ela já processou a empresa algumas vezes, a culpa pela morte de seu marido e não quer que a companhia lucre ou ao menos mencione o nome de Owen Hart, algo que ninguém pode dizer que ela está errada. A empresa não apagou o lutador de sua história, mesmo com o acidente acontecendo sob sua própria responsabilidade. Mas existem tantos assuntos ainda inacabados do passado que tornam a entrada de Owen Hart ao WWE Hall of Fame algo definitivamente imprevisível.

 

Bônus: Chris Benoit?

 

Acredito que alguns de vocês estavam esperando por esse nome. Ele chega como um bônus, pois se trata apenas de uma hipótese remota, por se tratar de um assunto totalmente delicado. Todo ano, quando o WWE Hall of Fame se aproxima, sempre surge uma legião de apoiadores para que o legado de Chris Benoit seja eternizado na cerimônia. Muitos justificam que temos de separar o personagem do homem, de enaltecer o que ele fez nos ringues e esquecer o que ocorreu em sua vida pessoal. Mas isso de alguma forma é possível? Por mais que eu me esforce, por mais que eu entenda esse argumento, simplesmente não dá. Os acontecimentos que tiveram inicio naquele fatídico 22 de junho de 2007 e se encerraram dois dias depois são obscuros demais para que possamos apenas relevar. Não é um assunto legal de ser lembrado, mas é bom para esclarecer a situação, caso você não esteja familiarizado.

Chris Benoit foi um grande atleta, um dos mais técnicos a pisar em um ringue. Outro prodígio que surgiu no calabouço de Stu Hart, o jovem lutador tinha Dynamite Kid como ídolo, outro ícone que por coincidência também atingiu o fundo do poço em sua vida muito por conta do pro wrestling. Após alcançar sucesso nos ringues canadenses, ele foi direto para o Japão para depois se tornar uma estrela na América, passando assim pela NJPWECW e WCW antes de chegar na toda poderosa WWF. Gradativamente, Chris Benoit se tornava um lutador de ponta na federação, alcançando seu destaque entre os grandes ao menos por um breve momento. O ápice de sua carreira na WWF foi a conquista do World Heavyweight Championship na Wrestlemania XX sobre Triple H, um momento lindo e marcante para quem teve a oportunidade de ver. Depois disso, sua estrela foi vagamente perdendo o brilho, Benoit foi pouco a pouco voltando para o mid-card, e foi ai que as coisas perderam o completo controle. É dito que Chris Benoit estava se cobrando demais como atleta anos antes de sua morte, pois via a ação do tempo em seu corpo surtir efeito e queria se manter no topo a qualquer custo. As drogas e o álcool surgiram como válvula de escape, o que agravou muito a situação lamentável que passava o lutador. O uso de esteroides foi peça fundamental na destruição do legado de Benoit.

No draft que ocorreu em 2007, ele acabou sendo transferido para o roster de uma ECW muito diferente do que aquela que ele ajudou a construir com seu talento. Na semana antes do PPV Vengeance daquele ano, Benoit se classificou com uma vitória contra Elijah Burke naquela que seria a última luta de sua vida, como competidor contra CM Punk pelo ECW World Title no evento. Essa luta, infelizmente, nunca chegou a acontecer, devido o desaparecimento repentino do lutador na mesma noite do PPV, onde Johnny Nitro (ou John Morrison, como também ficou conhecido posteriormente), o substituiu de última hora. Ninguém sabia do paradeiro do lutador, nem seus amigos mais próximos. Bem, agora todos nós sabemos o que ocorreu, ou ao menos o que nos foi informado recém-chegando o 10º aniversário dessa fatalidade. Chris Benoit teria dopado seu filho, Daniel, de apenas sete anos, e amarrado sua mulher e ex-valet, Nancy, e então os estrangulados até a morte. Após alguns dias, seu acesso de loucura foi encerrado com seu suicídio por enforcamento. A única testemunha daquela noite seria uma Bíblia que se encontrava no local.

Eu acho muito doido como há uma ligação em tudo. Benoit participou de uma luta na WCW contra Bret Hart em homenagem a Owen Hart, meses após sua morte no acidente do Over the Edge ‘99. Benoit também estava no tributo a Eddie Guerrero no Raw após a morte irreparável do Latino Heat, como também ajudou a introduzir seu nome no Hall of Fame de 2006. Por ironia do destino, seria ele a próxima tragédia do universo do pro wrestling a ser lamentada por todos os fãs. Na verdade, a maior de todas. A WWE promoveu um show em memória a carreira de Chris Benoit, lembrando o legado que ele deixou nos ringues, isso antes dos acontecimentos daquela noite virem a tona. Como uma queima de arquivos, tudo relacionado a Chris Benoit foi apagado por completo da história da empresa. Seu rosto e todo e qualquer símbolo que venha a lembrar vagamente o atleta em qualquer luta dos arquivos da WWE foram escondidos atrás de um borrão. Resquícios de Benoit aparecem raramente em vídeos da WWE, sempre em um ângulo que o torne irreconhecível apenas quando realmente não é possível tirá-lo da imagem. Suas lutas não mais existem, nem suas conquistas. Existe uma lacuna entre o vencedor dos Royal Rumbles 2003 e 2005, e o abraço inesquecível entre Benoit e Eddie Guerrero após a vitória do canadense no Wrestlemania XX foi eternamente enterrado junto ao corpo do lutador. Mesmo o WWE Network dando uma abertura para seu nome, Chris Benoit não existe mais para a WWE.

Essa atitude é criticada até hoje por inúmeros fãs do lutador. Entendemos que o que correu é algo traumático demais para ser lembrado a todo o momento, porém Benoit fez tanto para o pro wrestling e a WWE simplesmente extermina seu passado por completo, impossibilitando novas gerações a conhecer um dos maiores atletas técnicos que já vimos em um ringue. Dessa maneira, a empresa rotula Chris Benoit como um mero assassino, o que é um termo um pouco raso para se referir ao ocorrido. Não estou defendendo de forma nenhuma o lutador, Chris Benoit não foi inocente. O único que eu posso garantir que não teve a mínima culpa do que aconteceu foi Daniel Benoit, e só. Porém, ninguém que estava naquela noite está vivo para confirmar o que aconteceu. Além disso, uma questão de suma importância a ser levantada se refere a saúde do atleta, pelos anos de desgaste em cima de um ringue de luta livre. Encomendado pelo ex-lutador Chris Nowisnki e pela família de Benoit, testes em seu cérebro apontaram danos severos, nos levando a crer que suas ações não foram premeditadas e sim guiadas por uma demência crônica. Isso muda algo em sua relação com a WWE? Não, somente nos mostra o que a empresa quer verdadeiramente com esse afastamento da imagem de Benoit. Ela não quer somente apagar o nome de um criminoso de seus registros, ela quer também abafar qualquer provável vestígio de culpa que ela possa ter no desequilíbrio do lutador. Alguma precaução que ela possa não ter tomado, alguma discussão sobre os limites que a empresa possa ter passado sobre seus wrestlers, tudo isso é evitado de forma crua para que não haja maiores problemas no futuro. Um dos quesitos levantados nas pesquisas realizadas mostrou que impactos contínuos na cabeça de Chris Benoit, provenientes de seu trabalho, danificaram seu cérebro a um ponto que ele podia ser comparado com o cérebro de uma pessoa com 85 anos portadora de Alzheimer. Entendeu como esse assunto é mais profundo do que aparenta?

Enfim, vamos voltar ao tema desse texto, a indução de Chris Benoit ao WWE Hall of Fame. Por um instante, eu me propus deixar minha opinião de lado e qualquer julgamento sobre a ocasião, para assim imaginar se de alguma forma Chris Benoit poderia ser um Hall of Famer. Eu realmente me esforcei para pensar na maneira perfeita de trazer o nome do lutador para o evento sem fazer um total estardalhaço. A minha conclusão mais perto do possível seria a respeito da stable The Radicalz, que era composta por ele, Eddie Guerrero, Perry Saturn e Dean Malenko. Fiquei confiante por um momento nessa ideia, porque em uma só tacada Saturn e Malenko iriam fazer parte do Hall of Fame como merecem, e todo o carisma de Guerrero iria desviar um pouco as atenções. Mesmo assim, nunca iria dar certo, o sobrenome Benoit por si só se destacaria entre os quatro, o que seria injusto com a carreira dos outros membros do grupo. Outro pensamento que me passou pela mente como uma possibilidade foi a introdução da The Benoit Family, onde Chris, Nancy e também Daniel seriam homenageados juntos no evento. Chamariam ao palco os lutadores mais íntimos da família para falar algo sobre a vida dos Benoits, Vince McMahon também se pronunciaria em nome da WWE e por fim, os filhos remanescentes de Chris Benoit, Megan e David, discursariam para mostrar o lado de dentro da família sobre o ocorrido para por um ponto final definitivo nessa história. Principalmente seria importante o depoimento de David Benoit, que ainda cultiva uma ligação com alguns lutadores da WWE e já marcou presença nos bastidores de alguns shows da empresa. Para mim, esse seria o gesto mais sincero e honesto com a carreira de um atleta tão marcante, e a única maneira de fazê-lo.

Entretanto, nada disso nunca vai acontecer. Minha experiência com a WWE me ensinou que ela raramente sai de sua zona de conforto e muito menos assume seus erros. Lembrar o nome de Benoit seria algo arriscado demais para a imagem da federação, nada pode expor a verdade de um esporte taxado de falso. Não seria bom para os negócios. Todo ano iremos ver mais um Hall of Fame, seguido de uma enxurrada de mensagens solicitando a presença de Benoit, sumariamente descartada pela empresa. Metade dessas mensagens, aliás, vindas de fãs que nem mesmo sabem quem é o lutador, que só querem confrontar o Império dos McMahons e ver o circo pegar fogo. Isso nunca vai mudar. Nunca. Chris Benoit nunca vai entrar para o WWE Hall of Fame. Aceitemos de uma vez por todas. E sabe de uma coisa? Que se dane o WWE Hall of Fame. Sim, eu enalteci a premiação para no final chutar o balde. Não fazer parte dele não significa que você não fez parte da história. Vamos lá, Drew Carrey participou de uma Royal Rumble match e já entrou para o HoF, qual a seriedade dessa premiação? O melhor é simplesmente deixar quieto, e seguirmos com nossas vidas. Chris Benoit está mais do que homenageado em nossas memórias, o que já é suficiente.

 

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