É necessário combater o discurso de ódio na Luta Livre

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Eu assisto Luta Livre há 11 anos. Provavelmente muitos de vocês estavam na frente da TV no sábado, às 16h, sintonizados no SBT para assistir mais um show da WWE.

Eu tinha 11 anos quando comecei a assistir. Metade da minha vida.

Vivi minha adolescência nas comunidades de Luta Livre. Ganhei e perdi muitos amigos. Alguns deles ainda estão presentes na minha vida. Eu e Airton sempre estamos aproveitando a promoção de uma pizzaria aqui do Rio.

Eu tenho muito o que agradecer à Luta Livre.

Meu pensamento mudou bastante durante essa década. Isso se deve a muitos fatores, erros e acertos que me fizeram chegar a minha condição atual. Com a idade mais avançada, evoluí o suficiente como ser humano para compreender que existem coisas inadmissíveis e que devem ser combatidas.

Isso fez com que eu entrasse numa bolha. Não a que o Borges descreveu há duas semanas. Mas sim, de pessoas e informação.

Adquirir conhecimento e sensatez é doloroso, por isso decidi evitar confrontos. Venho para o WrestleBR, escrevo um texto sobre temas fáceis, me divirto, vejo meu twitter com pouquíssimos seguidores, assisto à shows semanais e só.

Mas essa semana não deu.

Ontem, postamos no twitter as declarações de Lars Sullivan sobre negros, pessoas LGBT, mulheres, portadores de doenças mentais e até sobre Daniel Bryan.

Todas elas eram discriminatórias. Todas.

O WrestleBR é uma das únicas plataformas de conteúdo de Luta Livre no Brasil na qual seus idealizadores são negros. Sendo assim, sabemos que é nosso dever combater qualquer discurso discriminatório, seja na Luta Livre ou fora dela.

O esporte, que sempre privilegiou homens brancos, hoje abre espaço finalmente para lutadores de gênero e raças diferentes.

Eu, como homem negro, pude ter a maior emoção como espectador de Luta Livre, quando outro homem negro pode se tornar campeão mundial na WrestleMania. Isso NUNCA havia acontecido.

Nos últimos 20 anos, apenas 4 negros foram campeões mundiais da WWE. Quatro. Se levarmos em consideração as outras duas grandes organizações dos Estados Unidos (ROH e IMPACT) o número não chega a 10. Em 20 anos.

Isso sem falar nas mulheres.

Após anos servindo apenas para o deleite de homens e nunca reconhecidas como lutadoras nas principais companhias, finalmente elas ganham espaço.

O resultado? Reclamações em relação à qualidade das lutas e até mesmo a capacidade de sediar um evento oficial da empresa, no caso do evento principal da WrestleMania, mesmo que Ronda Rousey já tivesse sido a protagonista de diversos eventos do UFC, dentro e fora dos Estados Unidos.

Mesmo assim, dentro da divisão feminina ainda há uma valorização maior de mulheres brancas.

Os menores reinados dos títulos femininos da WWE pós-2016 (RAW e Smackdown Women’s Title) são de mulheres negras e latinas. Mesmo que Sasha Banks tenha 4 reinados como campeã do RAW, todos eles somados são menores que um único de Alexa Bliss ou Charlotte.

Isso sem falar dos comentários ofensivos à população LGBT. Sonya Deville, primeira lutadora lésbica a participar de uma WrestleMania, sempre é alvo de comentários ofensivos em relação a sua amizade com Mandy Rose, por exemplo.

A dificuldade de fãs e lutadores brancos e heterossexuais de assumirem seu privilégio e a existência de discriminação na Luta Livre é evidente. O pensamento é de que apenas o mérito é utilizado para fazer com que lutadores tornem-se ou não estrelas, mesmo que possamos provar por números e relatos que há preconceito dentro e fora da luta livre.

E é nosso dever, como fãs de Wrestling e criadores de conteúdo, estarmos dispostos a cada dia combater a discriminação e discursos ofensivos, tornando-os cada vez menos frequentes, ajudando a conscientizar e fazendo a comunidade da Luta Livre na internet cada dia melhor para todos.

Reconhecer privilégios é evoluir como ser humano. Combater discriminação, idem.

Abraços.

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