Estou há quase 10 anos nesse mundo incrível do pro-wrestling. E a cada ano que passa, atingimos um nível acima no que se refere à nossa imagem perante o mundo da luta livre. Nosso país não possui a cultura de ser fã de luta livre, nós perdemos essa credencial décadas atrás com a queda do Telecatch. Mas nós, que éramos poucos e podemos ser muito maiores ainda, chegamos lá.
Eu comecei em 2008 graças àquela que seria a maior aposta na WWE até então, com a lenda da TV, Silvio Santos, trazendo para cá a transmissão aos sábados do compacto do RAW e Smackdown. Nas vozes de Michel Serdan e Jarbas Duarte, tivemos o começo dessa história. Não durou muito, como o programa começou a bater a audiência do horário das tardes de sábado, surgiu uma ordem judicial obrigando o SBT a trocar de horário, por conter violência demasiada. Coitados, nem estávamos entranhados na PG era ainda. Com isso, deu-se o fim das transmissões do SBT e todos nós fomos forçados a buscar via internet o acesso aos conteúdos da WWE. Era unanimidade que ali era nosso fim e que nunca mais veríamos nosso show semanal na TV.
Mas o ponto de partida já havia sido dado, crescíamos através das redes sociais, a base de fãs se alargava e se enriquecia de conteúdos. Criava-se até a própria história dos fãs, porque é inevitável você acompanhar a fantasia da luta livre e não se encorajar a ser um dos fantasiados também. Mas não éramos notados, nosso crescimento era interno, mas nunca chegaria tão evidente aos olhos dos empresários de Stamford. De 2008 a 2010, quando alguém debatia uma possível volta à TV brasileira, todos desdenhavam. Pois era algo fora da nossa imaginação, afinal, quem apostaria novamente as fichas no nosso país?
E então surgem duas coisas as quais podemos creditar quase todo o motivo de chegarmos aonde estamos. O avanço das redes sociais e o espírito pioneiro do Esporte Interativo. Entramos em 2011 e surgiram os primeiros boatos de que uma TV brasileira havia fechado acordo com a WWE para o direito de transmissão do Monday Night RAW. E eles foram perfeitos. Com uma divulgação de gente grande, em meio a um canal com o cunho esportivo tão focado e forte, colocar algo que uma margem muito menor conheceria e apreciaria era um tiro no escuro. Mas foi O tiro.
Nas vozes de Marco Alfaro e Roberto Figueroa, motivos maiores dessa postagem, começamos a perceber um largo crescimento na base de fãs. Pudemos nos sentir novamente representados. Nós tínhamos um nome oficial na WWE. O retorno disso foi facilmente percebido, e aqui começa a nossa revolução anual. Em 2012, recebemos a notícia de que a WWE viria ao Brasil. Logo depois, o The Miz veio ao nosso país para divulgar o evento, e deu entrevistas ao Agora é Tarde e aos programas do Esporte Interativo. O evento teve seus problemas, além de ter sido adiado em um dia por conta de problemas de voo, a lenda Chris Jericho quase saiu da arena preso por ter chutado a bandeira do Brasil. O incidente com Jericho de fato impactou no retorno ao nosso país, que ainda não aconteceu. Mas eles ouviram pela primeira vez nossa voz, e gostaram.
Tivemos até um ensaio do retorno à TV aberta com o Smackdown na RedeTV, mas não durou muito. O Esporte Interativo se manteve com seu padrão alto nível de cobertura, colocando cada vez mais WWE na sua programação. O fator diferencial de tudo que está acontecendo hoje está aqui, na combinação perfeita do canal com os narradores. Eu sempre bato nessa tecla, Marco Alfaro e Roberto Figueroa começaram apenas sendo dois profissionais embarcando numa nova aventura, e o que tornou tudo ser como é hoje é a paixão que eles desenvolveram por nossa paixão. Eles abraçaram a luta livre de uma forma esplêndida. Sem essa paixão, sem esse calor de se envolver na narração, nada disso aconteceria.
No final de 2014, fomos pego de surpresa novamente. Eu estava até um pouco desacreditado do wrestling, tentava manter o papel que sempre tive de levar o conhecimento aos outros, mas não tinha muito mais porquê. Até que é anunciado que a Fox Sports Latin America assinou um contrato de exibição com a WWE, e isso incluía a transmissão ao vivo do RAW, além da transmissão de todos os outros programas principais da WWE no Fox Sports. E foi com a confirmação dessa notícia que o WrestleBR foi criado. Reservei o nome nas redes sociais, preparei tudo e dei início juntamente com o primeiro RAW ao vivo na tela da TV brasileira, no dia 06 de outubro de 2014. Dia que nunca esquecerei.
Desde a estreia, a WWE no Brasil não parou mais de crescer. Podemos agora acompanhar PPVs, ver a programação ao vivo, fazer tudo que sofríamos para fazer 10 anos atrás, e em português. Não bastasse isso, começamos a ver o interesse da WWE em levar nossos talentos para lá. William Regal veio até nosso país acompanhar as federações, e levou consigo Cezar Bononi, o V8, e Adrian Jaoude. Alem deles, também acompanhamos Gabi Castrovinci tentar a sorte no Tough Enough, e ela não precisou vencer para conquistar a vitória pro Brasil.
Eu já falei sobre isso antes aqui, e me questionei qual seria o próximo passo evolutivo do Brasil com a WWE. E novamente, nos pegaram de surpresa. Chega a notícia, via Roberto Figueroa, que o Brasil teria uma mesa no maior evento do ano, a Wrestlemania 32. Ficamos nos perguntando se isso seria no ringside ou em algum outro lugar da arena, não foi tão perto assim, mas logo no início do evento vivenciamos algo que ficou cravado em lágrimas no meu peito, um momento ao qual eu nunca mais vou esquecer e que sempre lembrarei com as mesmas lágrimas nos olhos.
Esse momento não foi apenas nossos dois comentaristas mandando um alô para o Brasil. Esse momento foi quando Vince McMahon, Stephanie McMahon, Triple H e Shane McMahon vieram na sua frente, estenderam a mão e disseram em alto e bom tom: “Oi, nós enxergamos você.” Sim, eles disseram isso a você aí. Você que está lendo esse texto. Estamos todos lá. Somos parte do WWE Universe mais do que nunca. Além disso, ainda tivemos a garantia de Stephanie de que muito em breve nos veremos mais uma vez em terras brasileiras.
E agora, mais uma vez acompanhamos nossos comentaristas presentes no evento, o que parece que será definitivo daqui em diante. Demos mais um passo na nossa conquista. Agora, daqui de cima, ficamos na dúvida se a WWE conseguirá nos surpreender. Vemos as primeiras lutas do V8 nos eventos não televisionados do NXT e já não nos perguntamos o que será que virá a seguir, mas sim quando teremos outra conquista.
