Os 10 momentos mais marcantes da WWE na década

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6. A Aposentadoria de Edge

Não só de momentos felizes fomos marcados na década de 2010, lágrimas também fizeram parte. Existem várias razões para um pro wrestler se aposentar dos ringues, seja por idade avançada, por conta de projetos paralelos ou até por brigas nos bastidores. Porém, sem a menor sombra de dúvidas, a mais devastadora de todas é quando seu corpo não mais aguenta os impactos sofridos e alguma lesão interrompe uma carreira, muitas vezes precocemente. A perda de alguém que continua vivo traz uma sensação de inconformabilidade, pois mesmo que o lutador esteja por ali assumindo outras funções, continua aquele pensamento de como seria o presente se ele estivesse apto para entrar em um ringue. Bem, temos que nos ater ao fato de que a saúde deles é muito mais importante do que nossa vontade, tendo em vista que poderiam ter ocorrido complicações muito mais graves. Tyson Kidd, por exemplo, um highflyer fenomenal, teve de se aposentar em 2015 graças a uma lesão na médula espinhal, tão acima do pescoço que apenas 5% das pessoas sobrevivem a cirurgia e dessas a grande maioria acaba tetraplégica, o que felizmente não foi o caso do atleta. Mostrando como a luta livre pode ser perigosa, Kidd não foi o único a sofrer um traumatismo nessa região do corpo na WWE apenas nessa última década. Além dele, casos semelhantes ocorreram com Santino Marella, Jason Jordan e Paige, fora Daniel Bryan que passou algum tempo se recuperando até ser liberado para voltar à ativa. Outro lutador que também teve sua carreira preventivamente encurtada pelo mesmo motivo e deixou nossos corações partidos foi Edge, anunciando a todos o seu adeus dos ringues pouco tempo depois de sua vitória na Wrestlemania XXVII.

Havia rumores na época e também esperança que fosse algo menos grave, mas durante o Raw exibido em 11 de abril de 2011 Edge revela toda sua situação. Com a cabeça cabisbaixa para evitar que a emoção interrompesse seu discurso, o lutador explica as razões que o levariam a ter de se aposentar tão de repente. Edge enfatiza como dura é a vida no wrestling e torna-se exemplo das consequências que ela pode trazer. Uma lesão na parte do pescoço que ele tinha sofrido há oito anos e tratava desde então tinha se agravado, ao ponto dele não sentir em alguns momentos o controle total de seus braços. Para seu próprio bem, era necessário largar a vida dos ringues e assim ele segue as instruções dos médicos. Era triste perdemos um dos maiores lutadores de nossa época, mas não havia alternativa. A plateia, totalmente emocionada, agradecia tudo que ele tinha nos proporcionado e recebia em retribuição o carinho do lutador, que relembrava suas glórias na WWE. Se pararmos para analisar friamente, Edge encerrava sua história como pro wrestler de maneira digna, continuando com o título mundial dos pesos-pesados após sua vitória sobre Alberto Del Rio na Wrestlemania daquele ano, um evento tão clássico sendo o palco de sua última luta. Foi uma carreira estrondosa e naquele dia tinha seu ponto final, levando consigo os aplausos dos fãs e de todos as pessoas no locker room, quebrando o kayfabe naquele instante por algo tão especial. No próximo episódio do Smackdown, ele voltaria apenas para renunciar o cinturão e pela última vez deixar tocar sua inesquecível música de entrada como lutador. Desde então ele fez algumas aparições esporádicas e até foi induzido ao WWE Hall of Fame do ano seguinte por seu companheiro inseparável, Christian. Aliás, com a saída de Edge, o Captain Charisma teve a oportunidade de conquistar seu primeiro cinturão mundial, o que de fato ocorreu no Extreme Rules ’11. Esse por si só seria um momento que poderia entrar nessa lista de mais marcantes, se a WWE não o tivesse destronado dois dias depois de forma revoltante. De qualquer forma, obrigado não somente a Edge, mas todos os artistas dos ringues que arriscam seus corpos para arrancar as mais profundas reações de todos nós.

5. Women’s Revolution

A década mais importante para as mulheres em toda a história da WWE. Não há o que se discutir, isso é um fato concreto. Com muita garra, as lutadoras se desvencilharam dos paradigmas impostos e construíram sua própria relevância. E olha, não foi e não tem sido nada fácil. No meio de um espaço tão dominado por homens, principalmente nos bastidores, quando não postas como acompanhantes dos lutadores ou objetos sexuais, sobrava para as mulheres um tempo ridiculamente reduzido na programação. Suas lutas tornavam-se irrelevantes ao ponto de servir aos fãs como intervalo para ir ao banheiro ou pegar algo para comer, culpa da própria empresa que não dava a devida atenção e com certeza não planejava nada visionário para os talentos femininos que tinha. Entretanto, durante os anos 2010, vimos sopros de mudanças se transformarem em tornados subversivos. Nos programas tradicionais já se via que algo novo poderia acontecer, encabeçado principalmente por AJ Lee, que se tornou tão expressiva quanto os lutadores principais daquela geração. Mesmo assim, continuava a não haver muito espaço para as mulheres, principalmente após a criação do Total Divas, um reality show genérico que acabou se tornando o foco da empresa pelo sucesso mediano que fazia. Foi graças ao NXT e seu crescimento que o futuro da divisão feminina da WWE começou a ser desenvolvido, recebendo o apoio total dos fãs que também ansiavam por mudanças. Aquela atmosfera de independência era propícia a isso, quebrando várias barreiras e mostrando respeito com as mulheres que batalham no ringue e também fora dele, como ocorreu com Renee Young, a primeira comentarista da história da WWE. A luta de inauguração do NXT Women’s Championship, onde corou a “anti-diva” Paige com apenas 21 anos de idade, durou mais do que 15 minutos, algo totalmente fora do comum aos padrões do que já estávamos cansados de assistir no main roster. Tanto é que a gota d’água ocorreu em 23 de fevereiro de 2015, em uma luta entre as Bella Twins contra Paige e Emma que durou exatos 30 segundos, gerando uma onda de críticas por parte do público e a criação do movimento #GiveDivasAChance nas redes sociais, que perdurou muito tempo como assunto mais comentado no mundo. Tanto clamor fez com que nossos pedidos fossem ouvidos, levando o próprio Vince McMahon e sua filha prometerem mudanças, que de fato ocorreram.

Stephanie McMahon assumiu um papel de liderança para as lutadoras e instaurou a então “Diva’s Revolution” em julho daquele ano, como se ela tivesse decidido espontaneamente fazer uma reforma de empoderamento feminino na WWE. Não vamos ser tão inocentes em achar que não havia nenhum interesse empresarial em lucrar com a atenção que essas mudanças poderiam gerar, porque estamos falando de uma corporação multibilionária. Porém, isso diminui a revolução que estava efervescendo naquele momento? Não, absolutamente não! As minas estavam dando o sangue para que isso acontecesse e o mérito de tudo é exclusivamente delas. Fomos testemunhas da primeira iron woman match da história entre Bayley e Sasha Banks em 2015, sendo parte não a toa do NXT Takeover com o subtítulo de Respect. Foi o evento principal da noite, um embate espetacular de 30 minutos, entretanto, esse não é considerado o primeiro protagonizado só por mulheres em um PPV devido ao porte pequeno do NXT, mas sim o que aconteceria no ano seguinte, a primeira hell in a cell match feminina, realizada por Sasha Banks contra Charlotte Flair. A divisão feminina conquistou também as primeiras elimination chamber, money in the bank, royal rumble, war games e survivor series matches exclusivamente com lutadoras, até chegarmos a um PPV inteiramente estrelado por elas, o WWE Evolution de 2018. Se antes era comum que as lutas das divas durassem menos que suas entradas, na 35ª edição do Wrestlemania tivemos o ápice absoluto dessa revolução, o primeiro evento principal só por mulheres no maior palco da luta livre do mundo entre Ronda Rousey, Charlotte Flair e Becky Lynch, essa última sendo um dos maiores nomes da atualidade por mérito próprio. Se não fosse bastante ousadia para um ano só, ainda em 2019 Natalya e Lacey Evans protagonizaram uma luta de pro wrestling histórica em um país machista, a primeira entre mulheres na Arábia Saudita, fora que no último WWE Hall of Fame finalmente ressaltaram a importância de Chyna depois de anos a escondendo por sua decadência pós-WWE, mostrando que esse grito de rebeldia teve inicio há muito tempo, escrita por todas as mulheres que arriscaram suas vidas para inspirar muitas outras. É bom não tirarmos os olhos da divisão feminina antes de 2020 chegar, porque ninguém sabe o que pode acontecer até as 23h59 do dia 31 de dezembro. Repito, essa foi a década mais importante para as mulheres em toda a história da WWE… ainda. O que será que o destino nos aguarda nas próximas que virão?

4. A Emancipação do NXT

A WWE passou por vários períodos críticos nos últimos anos, tanto em audiência, alcançando recordes negativos de toda sua história, quanto em valor corporativo, ao ponto de boatos sobre falência ou venda surgirem algumas vezes. O NXT foi essencial para renovar todo o sistema e continua a sustentar o futuro em suas costas. Desde o primeiro ano desta década, o programa de cor amarela faz sua presença ser notada, passando por reformulações até se tornar uma terceira brand da WWE, a aposta vital da empresa contra a AEW nas “Wednesday Night Wars”. Surgindo em fevereiro de 2010 para substituir o vácuo deixado pelo cancelamento da ECW (outro momento marcante), o NXT tinha uma estrutura distinta da que conhecemos hoje em dia, porém trazia a mesma essência de revelar novos nomes ao grande público. Em seu começo, ele era exibido como uma espécie de game show, onde os lutadores do Raw e do Smackdown serviam como treinadores para os rookies vindos do território de desenvolvimento em meio a uma competição para consagrar a nova estrela da WWE. Esse formato perdurou por cinco temporadas, trazendo ao mainstream atletas como Daniel Bryan, AJ Lee, Bray Wyatt, sem contar a Nexus, uma das melhores e mais originais stables dos últimos tempos. O começo do NXT refletia muito do que a WWE tinha a nos oferecer naquela época, mas gradativamente foi tomando um caminho diferente bem diante de nossos olhos e ganhando uma importância muito mais significativa. A WWE não sobreviveria sem o NXT e talvez eles mesmos tivessem conhecimento disso. Antigamente, a FCW servia como o celeiro oficial da WWE para novos lutadores. A partir de 2012, a NXT recebeu essa função e pouco a pouco foi ganhando espaço, principalmente quando Triple H tomou as rédeas para si. Começou sendo um termômetro para a WWE e acabou se tornando uma alternativa para quem estava cansado do produto oferecido pelas brands clássicas da casa, constituindo uma base forte de fãs que agora recebiam algo que há muito tempo lhes fazia falta: respeito.

Esse se tornou o diferencial do NXT, a forma sincera que o público é tratado tal como vemos nas federações independentes de luta livre desde a época da ECW, dando liberdade para os lutadores darem o seu melhor e criando oportunidades para todos mostrarem seu potencial. Pense só, onde mais Bo Dallas poderia ser campeão por quase um ano e isso ser tratado como algo normal? Somente ali esse experimentalismo poderia ser testado por uma empresa tão engessada quanto a WWE, uma inovação drástica de parâmetros que ela estava realmente necessitando. Muitas das posições que apareceram nessa lista só foram possíveis de acontecer por o NXT existir, fora que mais da metade do roster atual das brands principais é composto por lutadores que passaram por ela em alguma etapa de suas carreiras, muito desses tornando-se campeões mundiais. A WWE finalmente percebeu que ela não é o centro do universo da luta livre como era no passado e com isso, abriu-se a porta para nomes consagrados das indies trazerem o brilho de seus próprios holofotes. Se Shinsuke Nakamura mostrava a essência do puroresu na NJPW, se Adam Cole chocava o sistema da ROH, se Aleister Black emanava sua escuridão na ICW, se Keith Lee estremecia os ringues da PWG, agora todos eles e várias outras estrelas de talento inestimável deixavam suas marcas no NXT, rascunhando muito do que o futuro nos reserva. Esse ano, o Survivor Series foi dominado pela brand estreante, mostrando a sua soberania. Foi maravilhoso ver crescimento do NXT durante toda essa década, que continuará na próxima com uma força nunca antes vista. Com seu sucesso com o público, o NXT expandiu para novos territórios, chegando na Europa ao ser criado o NXT UK. Imagine se eles olharem um pouco para o sul do mapa e resolverem criar uma NXT Latina ou, quem sabe, uma NXT Brasil. Sonhar é totalmente gratuito, e com o que veremos na posição 3 dessa lista, não seria algo tão inacreditável caso viesse a ocorrer.

3. WWE e o Brasil

O relacionamento entre a WWE e o nosso país foi bastante fortificado nos anos 2010, trazendo consigo inúmeras boas memórias e uma legião de fãs brasileiros nunca antes vista. Depois que o SBT cancelou os shows da empresa de sua programação, muitos órfãos de Jarbas Duarte e Michel Serdan continuaram a acompanhar como podiam pela Internet e assim, através das redes sociais, criava-se também uma base de criadores de conteúdo. Muitos sites voltados ao público brasileiro vieram desse momento, tal como o WrestleBR, contribuindo a propagar conhecimento sobre luta livre para um maior número de pessoas. Dessa forma, nunca foram extintos os fãs de WWE em território nacional, mesmo sem haver alguma transmissão direta como antes acontecia. Esse movimento contínuo certamente não passou despercebido aos executivos do canal Esporte Interativo e influenciou no retorno da exibição da WWE no Brasil. Eles receberam criticas de alguns de seus antigos espectadores que tinham preconceito por não consideraram luta livre um esporte propriamente dito, mas ganharam muitos outros com a boa audiência que recebiam. O Smackdown ainda teria uma rápida passagem pela RedeTV! em 2012, mas o Esporte Interativo foi o responsável pela revigoração de nossa fã-base e foi importante para que a WWE realizasse o primeiro evento em nosso país, que ocorreu no dia 24 de maio de 2012, em São Paulo. Muitos empecilhos apareceram pelo caminho e até o grande dia havia um ceticismo se de fato eles iriam se apresentar por aqui, tanto que o evento que também ocorreria no Rio de Janeiro semanas após ser anunciado foi cancelado por “problemas de logística e agenda”. Enquanto isso em São Paulo, houve um reagendamento de última hora do dia 23 para o dia 24 por problemas no voo dos lutadores, uma mudança que parece mínima, mas que foi uma tragédia para a logística de fãs que vieram de várias partes do Brasil. Isso se refletiu pela quantidade de lugares vazios no dia da house show, causado também pelo preço um pouco pesado dos ingressos. Se isso não fosse o bastante, naquela semana havia também uma greve metroviária na cidade, fora que chuvas fortes estavam ocorrendo. Foi um milagre tudo ter dado certo, e apesar dos pesares, deu.

Quem conseguiu comparecer deu o seu melhor e construiu uma energética recepção de boas-vindas aos lutadores em nosso país. Menos ao Chris Jericho, que quase foi preso por ser um ótimo heel ao chutar a bandeira do Brasil como parte do entretenimento. Isso é engraçado e hipócrita ao mesmo tempo, tendo em vista que a WWE sempre foi desvalorizada pela grande maioria dos brasileiros justamente por acusações de ser falsa. Enfim, foi uma apresentação ótima, mas a única até hoje. A baixa venda de ingressos foi apontada como responsável por isso, mas a esperança continua acesa. O Esporte Interativo perdeu os direitos de exibição em 2015 para a Fox Sports, mas nos presenteou trazendo o Impact Wrestling para sua programação até o fim do canal em 2018.  Por sua vez, até 2019 a Fox Sports transmitia WWE até sua recente fusão com a ESPN, o que traz incerteza ao futuro do programa para os televisores brasileiros. De qualquer forma, se a WWE não virá ao Brasil, o Brasil vai até a WWE. O jejum sem nenhum lutador brasileiro na empresa foi quebrado pela paranaense Gabi Castrovinci, participando da sexta edição do Tough Enough, em 2015. Depois dela, o NXT abriu as portas para Cezar Bononi, Arturo Ruas, Taynara Conti e a mais recente aquisição, a lutadora Rita Reis, todos desenvolvendo cada dia mais e representando a nossa nação. Com a força do apoio dos fãs brasileiros, não é difícil vislumbrar uma luta de algum deles pelo titulo mundial em alguma Wrestlemania no futuro, isso é algo realmente possível. O espírito do telecatch continua vivo dentro de todos nós e alcança cada vez mais destaque mundo a fora.

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