Os 7 pecados dos fãs de wrestling – os erros e acertos de um fandom

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A palavra fandom é o diminutivo da expressão em inglês fan kingdom, que significa reino dos fãs, numa tradução literal para o português. Em resumo, um fandom é um grupo de pessoas que são fãs de determinada coisa em comum, como um seriado de televisão, uma música, um artista, um filme, um livro e o que mais você puder imaginar.

A ascensão da internet e das redes sociais, possibilitou o aumento da comunidade online de fãs de forma significante. No mundo do wrestling, isso gerou maior facilidade no acesso das pessoas a materiais de empresas independentes; proporcionou a aproximação dos fãs através do gosto em comum; estimulou debates em ambientes como o Twitter, Facebook e em fóruns como o SquaredCircle; além de encorajar a produção de conteúdo de fã para fã no formato de sites, blogs, podcasts, e canais do Youtube. Nós mesmos aqui do WrestleBR somos um exemplo e uma consequência dessa ascensão do fandom de professional wrestling.

Em teoria (ênfase na parte da teoria), um fandom é caracterizado pela camaradagem e empatia dos membros aos seus parceiros pertencentes à comunidade, havendo trocas de conhecimento, materiais e trabalhos. E pensando bem, isso de fato faz total sentido, afinal, se todos nós temos uma paixão em comum, deveríamos ser todos amigos e conviver tão maravilhosamente bem que seria digno de um sonho. Certo? Certo?

Errado.

Peraí? Como assim os fãs de lutinha fake não vivem unidos como uma grande família feliz?

Problemas dentro de fandons não são exclusividade dos fãs de pro-wrestling. Existem inconvenientes em quase todo tipo de grupo, seja ele sobre Harry Potter, Naruto ou Game of Thrones.

O fandom de pro-wrestling, mais conhecido IWC (sigla para internet wrestling community), tanto nacional quanto internacionalmente, não tem lá sua melhor reputação. É recorrente ver por aí situações tóxicas e destrutivas por parte de alguns integrantes da comunidade. Algumas atitudes corriqueiras, umas mais graves que as outras, tendem a afetar negativamente a boa convivência entre os fãs, deixando um gosto amargo na boca de todo o coletivo, e criando desavenças desnecessárias.

Por isso, esse texto vem como uma tijolada de auto-reflexão para todos nós que fazemos parte dessa bolha. Quais atitudes ruins estamos cometendo? Como estamos afetando o outro? E será que podemos melhorar  nossas ações?

Para isso, descreverei o que chamarei carinhosamente de os sete pecados capitais da IWC. Todos aqui sendo baseados em situações que já vivi ou presenciei nesses meus 12 anos sendo fã de luta livre.

A IRA

“É o intenso e descontrolado sentimento de raiva e ódio. A ira torna a pessoa furiosa e descontrolada com o desejo de destruir aquilo que provocou sua raiva.”

Sentir raiva faz parte do que é ser fã de wrestling. Somos naturalmente submetidos a situações de deixam nossas emoções a flor da pele e despertam a nossa pior versão.

Afinal, quem é que conseguiu manter a compostura quando viu Brock Lesnar vencendo o WWE championship de Kofi Kingston numa luta de nove segundos? Ou então quando KENTA apareceu ao final do WrestleKingdom 14 para atacar o até então campeão Tetsuya Naito? Que atire então a primeira pedra quem nunca xingou o velhinho Vince McMahon num momento de histeria? Coisas assim acontecem. 

Indo para o contexto das redes sociais, também é sempre muito comum ver fãs se estapeando virtualmente por aí. Brigas pra saber quem é o melhor wrestler do mundo, gente querendo se matar na pedrada pra saber qual a melhor empresa de PW, ou discutindo se o abdômen mais definido  é o do Finn Bálor ou do Hiroshi Tanahashi. Os assuntos motivadores para o bate-boca são dos mais variados. 

Mas é só parar uns bons 2 ou 3 segundos para chegar a conclusão de que na maioria dessas brigas nunca chegamos a conclusão nenhuma. Por isso, saibam diferenciar debates de discussões, e não se esqueçam que o único debate realmente válido é se a Capitu traiu ou não o Bentinho.

A AVAREZA

“É o apego excessivo e descontrolado pelos bens materiais. O pecado da avareza conduz à idolatria.”

Cada fã de wrestling, sem exceção, tem predileção seja por um estilo de luta, um wrestler ou uma empresa, sendo tudo isso muito relativo a questões de gosto pessoal. E como diz o ditado: “Gosto é igual braço, uns têm, outros não!”.

A questão que precisa ser destacada aqui, é que não é porque você ama sua empresa de wrestling favorita, seja ela WWE, AEW, NJPW, ROH, IMPACT ou NWA; que você tem a obrigação de defendê-lá e idolatrá-la 24 horas por dia, ao ponto de achar tudo o que ela faz maravilhoso e rejeitar tudo aquilo que externo a ela. Não é porque você é super fã de um wrestler que você tem que brigar com todas as pessoas do universo, quiçá da galáxia, para provar que você está certo. Contestar e criticar algo que se gosta, também faz parte do que é ser um fã.

Além disso, é importante apontar que independente da sua opinião e de suas preferências, saber escutar diferentes pontos de vistas também é essencial para evitar brigas e estimular uma boa convivência. Pro-wrestling não precisa ser eternamente uma briga de torcida organizada.

Dito isso aproveito esse espaço pra dizer que WWE EU NÃO TE AGUENTO MAIS! O fã-clube da empresa do Vince que me perdoe. 

A GULA

“É o desejo insaciável, além do necessário, por algo. Está relacionado ao egoísmo humano, ao querer ter sempre mais e mais, não se contentando com o que já tem.”

A gula possui dois jeitos de se manifestar dentro da IWC (e infelizmente nenhuma delas envolve comida): a primeira é através da premissa da insatisfação. Fã de pro-wrestling é um bichinho muito difícil de ser agradado com as coisas que lhe são oferecidas. Estando quase num limiar entre o exigente e o chato, o fã sempre tem aquele impulso de desejar mais do que a empresa pode ou quer oferecer. Um exemplo disso é o fato de que mesmo se o CM Punk voltasse a lutar nesse exato instante, acontecimento aguardado por muitos, ainda sim existiria uma grande parcela do fandom que sairia insatisfeita de algum forma.

Em segunda instância, a gula também pode aparecer na forma do eu chamo de fantasias molhadas. Essa fantasias podem surgir, por exemplo, na forma de dream matches que são impossíveis de acontecer, mas que mesmo assim teimam em permanecer no imaginário coletivo de que dia ainda poderão vir a se realizar. Menção honrosa para Undertaker vs Sting, cujas chances de acontecer são diretamente proporcionais as chances de eu entrar na academia esse ano, ou seja, zero.

O ORGULHO

“É associada à soberba, arrogância e vaidade.”

Dentro da IWC, o orgulho é quase sempre diretamente associado ao fator conhecimento e/ou fama. Quanto mais você sabe sobre o tema, ou quanto mais famoso você for dentro da comunidade de fãs, mais propriedade você tem para falar ou opinar sobre algo. 

Quem nunca esbarrou por aí com um fã que se sentia o próprio Albert Einsten só pelo fato de saber o nome do porteiro do condomínio onde mora o primo de segundo grau do Ric Flair? Ou então quem nunca conheceu alguém que se acha a última bolacha do pacote por conhecer especificamente as empresas indies de pro-wrestling do Uzbequistão?

Muitas pessoas dentro do fandom ainda confundem domínio sobre o assunto com superioridade, e acabam por menosprezar e desestimular muitos dos fãs que ainda estão começando e pouco sabem.

Por isso, se você é uma dessas pessoas com um alto grau de conhecimento, compartilhe suas informações valiosas com todos (comigo inclusive!) em formas de textos, vídeos, artigos, sinais de fumaça, código Morse ou até mesmo linguagem em Libras. Mas não se esqueça de ser bem educado, e lembrem-se de que, até a enciclopédia mais famosa do mundo, a Wikipédia, também possui seus erros.

A PREGUIÇA

“Caracterizado pela pessoa que vive em estado de negligência, morosidade, lentidão e moleza. Frequentemente associada ao ócio.”

Com certeza o pecado mais cometido por essa que vos escreve. A preguiça aparece na vida dos fãs de wrestling como aquela entidade maligna que te impede e tira toda sua força de acompanhar qualquer coisa que seja relacionada ao PW. 

Seja derivada da falta de tempo, do cansaço de viver, ou simplesmente uma consequência da procrastinação, a preguiça sempre será um dos maiores inimigos da IWC, impedindo que muitos deixem de conhecer materiais novos de outras empresas, e condicionando-os a sempre assistir uma única coisa eternamente. Esse pecado também pode vir a afetar em maior gravidade diretamente os produtores de conteúdo, que por preguiça, ou simplesmente má vontade, não colocam o máximo de si em seus projetos, que poderiam por ventura ser bem mais desenvolvidos e interessantes.

Mas fica aqui um segredo entre a gente: não sinta-se mal se por acaso você dormir durante uma luta do Baron Corbin. Esse tipo de preguiça a gente compreende .

A LUXÚRIA

“Desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Consiste no apego aos prazeres carnais, sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.”

Vejam bem, estamos falando de um esporte/entretenimento esportivo construído em cima de padrões específicos de beleza. Nós assistimos semanalmente pessoas no auge de seu condicionamento físico, se agarrando em cima de um ringue, quase sempre besuntadas de óleo corporal, e usando attires bem grudadas ao corpo. Isso emana tanta sensualidade em uma frase só que poderia ser um trecho de um livro soft porn da autora de Cinquenta Tons de Cinza.

E de fato, não há nada errado em achar um lutador ou lutadora em específico muito bonito(a). Ao contrário, quem é a pessoa em sã consciência não acharia o Adam Cole bonito?!

No entanto, tudo muda de cenário quando há a sexuallização banalizada e desrespeitosa dos lutadores por parte dos fãs. Infelizmente, tal atitude é extremamente comum, principalmente na internet. Proporcionalmente as wrestlers femininas são as que mais sofrem com isso, onde muitas ainda são vistas por uma parcela dos fãs apenas como bons pares de peitos, bundas, e objetos para satisfação pessoal (se é que vocês podem me entender).

Além disso, é bom destacar que essa sexualização também ultrapassa o escopo do esporte, atingindo as próprias fãs do sexo feminino que assistem e curtem pro-wrestling.

A INVEJA

“É o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo que outra pessoa tem e consegue.”

Enquanto escrevia esse texto, fiquei por horas pensando em como poderia encaixar a inveja aqui. Por fim, decidi dedicar esse pecado em especial aos amigos produtores de conteúdo.

Primeiramente porque, são esses os principais porta-vozes da IWC, divulgando informações, produzindo diferentes tipos de materiais, e influenciando  pessoas. E segundamente porque somos MUITOS! E de forma alguma Isso seria um problema, ainda mais quando isso nos dá a oportunidade de consumirmos conteúdos dos mais variados tipos. 

É muito óbvio que nosso fandom não está aos pés do roteiro do filme Meninas Malvadas em nível de picuinhas escolares por causa de inveja e popularidade. Mas seria hipocrisia dizer que nunca houve sequer uma rixa ou rivalidade entre quaisquer que fossem as equipes virtuais. E seja por motivo de inveja ou não, fica aqui a mensagem a todos de sempre respeitar o trabalho do colega ao lado. Fazer conteúdo parece simples, mas não é fácil, e ter apoio mesmo que do seu “concorrente” é bem bacana.

No mais, admito que meu sonho de princesa atual é ver todos os amigos blogueirinhos se dando bem e viajando numa grande tour pela Wrestlemania. Por enquanto fica só no sonho (mas se alguém aí quiser me patrocinar quem sabe?).

QUAL MENSAGEM APRENDEMOS AO FINAL DISSO TUDO?

Antes de finalizar esse texto acho importante esclarecer que nada aqui escrito, foi em momento algum, direcionado a alguém em específico. Como disse anteriormente, a ideia disso tudo surgiu na minha cabeça como uma maneira de por no papel, situações corriqueiras da IWC que podem estar, ou não, estimulando no adoecimento da comunidade de fãs.

É bom deixar claro também que existe sim um lado muito bom do fandom. Muita gente legal, que faz um trabalho bacana, e que promovem muitos debates saudáveis e inteligentes. Até a parte da zoeira é maravilhosa (aliás, saudades Humor Wrestling)! 

Muitos dos meus próprios amigos pessoais são derivados de horas e horas de conversas que tiveram como fio condutor assuntos como “Quem vai vencer o Royal Rumble?” ou “Vamos fazer um bolão de quando o Vince se aposenta?”.

Falar sobre PW é muito bom, mas é melhor ainda quando feito de maneira inclusiva e respeitosa para todos.

Por fim, só me resta desejar que 2020 seja então um ano muito próspero para nossa tão amada IWC (e que ninguém me processe e me faça perder o emprego no WrestleBR depois desse texto).

Até a próxima!

Uma resposta

  1. Gostei bastante deste texto, me vi representado nesses pecados. Na ira com as decisões da WWE e do Vince, preguiça por conta do trabalho que faz com que eu não tenha muito tempo para acompanhar outras empresas que não seja a WWE e a AEW, orgulho por também acompanhar Wrestling por 12 anos e conseguir passar algumas coisas que eu conheço para alguns amigos que acompanhavam lá em 2008 e voltaram recentemente.

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