O RAW X SMACKDOWN DA FLORESTA: 3 motivos para o fã de wrestling assistir ao Festival de Parintins

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Pra nós, fãs de luta livre, vermelho e azul sempre foram rivais. Não existe imparcialidade nem trégua entre as torcidas quando se fala de RAW x SmackDown. Todo mundo é clubista quando chega a época do Survivor Series; ou você é azul, ou você é vermelho.

Mas, antes do primeiro embate das brands azul e vermelha sequer ter sido realizado, essas cores já estavam em uma disputa centenária aqui, no Brasil.

Desde 1965, na ilha de Parintins, no coração do Amazonas, o Festival Folclórico de Parintins celebra a cultura popular numa grande “ópera da floresta”, cheia de cores, música e dança.

Hoje, o festival além de ser a maior manifestação cultural a céu aberto do mundo, é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Mas, para além da importância cultural do festival, o que também move multidões de turistas pra ilha tupinabarana é a disputa dos bois Caprichoso e Garantido. Durante as três noites de festa, cada Boi apresenta um tema relacionado à exaltação do Folclore e luta pra conquistar o título de campeão.

Do lado azul, a Associação Folclórica Boi Bumbá Caprichoso, criada em 1913, se orgulha de ser “criação de muitas mãos”, dentre elas se destacando os fundadores Roque Cid e Luiz Gonzaga. O boi negro de Parintins carrega uma estrela na testa e é o atual bicampeão do festival, vindo com tudo pra conquistar seu tricampeonato.

Esse ano, o boi azul e branco apresenta o tema “Cultura — O Triunfo do Povo”, exaltando a cultura e o saber popular em suas mais diversas formas.

Do lado vermelho, a Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido, criada em 1920, conta que sua criação vem de uma aparição em sonho do próprio Boi Garantido para o seu fundador, Lindolfo Monteverde. O boi encarnado detém 32 títulos, sendo o mais campeão da história do festival, tendo conquistado seu último título em 2019.

Esse ano, o boi Garantido traz o tema “Segredos do Coração”.

Listo abaixo motivos que podem (ou não, mas provavelmente sim) fazer você, fã de lutinha falsa, se interessar pelo Festival de Parintins:

Kayfabe? Temos!

Uma das coisas mais peculiares do festival é a aguerrida rivalidade entre os bois e principalmente, entre as suas torcidas. Torcedor de boi sempre se refere ao outro como “o boi contrário”, nem o nome eles ousam dizer. E nada de usar roupa da cor do outro boi; Caprichoso só usa azul, e Garantido só usa vermelho. Na arena, a torcida assiste a a apresentação do boi contrário em silêncio, qualquer manifestação resulta em perda de pontos. (E sim, a torcida conta ponto!) Além da torcida, os próprios itens do boi (artistas e dançarinos que concorrem no festival) também seguem à risca essas regras.

Além disso, a “Kayfabe” do festival também se estende às atuações dentro da arena; os itens individuais são atores e dançarinos que representam um personagem, e dentro da apresentação do boi, sua participação conta pontos.

Os artistas assumem, nas três noites, personagens fictícios que vão desde o dono da fazenda, ao próprio Boi, que ganha vida própria. Alguns exemplos de itens individuais são: Porta Estandarte, Sinhazinha da Fazenda, Rainha do Folclore, Cunhã Poranga, Pajé e claro, o próprio boi (Boi Bumbá Evolução.)

Ainda dentro do espectro da atuação em arena, assim como as “gears” dos nossos lutadores, as indumentárias (fantasias) sempre trazem significados que ajudam a compor o momento que está sendo mostrado na arena e objetos característicos não podem faltar: assim como o vencedor do MITB carrega sua pasta contrato pra cima e pra baixo, uma sinhazinha da fazenda sempre tem consigo a sua sombrinha.

Boi Bumbá e Pro-Wrestling: tradição, de geração em geração

Falar de luta livre é falar das lendárias famílias que ajudaram a construir e moldar o business no que ele é hoje: a dinastia de Stu Hart, as famílias Anoa’i/Fatu que hoje formam a Bloodline, stable dominante da WWE que se origina de uma história de mais de 50 anos.

No México temos como uma das grandes dinastias da Lucha Libre a família Díaz, onde todos os cinco filhos do patriarca e estrela da Lucha Libre nos anos 50, Ray Mendoza, não só entraram no ramo da família, mas usavam o mesmo nome “Villano”, assim criando a facção “Los Vilanos.”

Assim como tradição familiar está enraizada na história da Luta Livre, os bois de Parintins também são feitos de famílias que passam o legado de geração em geração:

Valentina Cid, tataraneta de Roque Cid, hoje é concorrente no “Item 7 — Sinhazinha da Fazenda”, que nos anos 90 foi defendido pela sua própria mãe, Karina Cid, a primeira sinhazinha da fazenda da história do Boi Caprichoso.

Ainda no Caprichoso, temos o tripa do boi, Alexandre Azevedo. Ele é concorrente no “Item 10 — Boi Bumbá Evolução”, responsável por dar vida aos movimentos do Boi Caprichoso nas três noites do festival. Ele herdou a posição de seu pai, o histórico Markinhos Azevedo, que concorreu como tripa do boi por mais de 20 anos.

No Boi Garantido, João Paulo (JP) Faria, concorrente no Item 6 — Amo do Boi, é sobrinho de Paulinho Faria, grande lenda da história do festival. A família Faria é de grande importância na história do Boi Garantido, tendo Ana Luisa Faria, prima de JP também já concorrido como Sinhazinha da Fazenda.

No México, a Lucha Libre é uma das maiores manifestações da Cultura Popular, incorporando em si a rica e vasta cultura popular mexicana. O esporte anda de mãos dadas com a identidade dos mexicanos, que enxergam nos luchadores mascarados, além de heróis, figuras de representatividade que mantêm viva a tradição de todo um povo.

O lutador Zarpa de Tigre Junior inaugurou a escola “Wuangos Brothers” para dar aulas de luta livre gratuitamente a crianças de sua cidade natal, no estado de Querétaro. A iniciativa tem como objetivo levar até as crianças da cidade capacitação para as que sonham em, um dia, se tornar lutadores profissionais. (E essa notícia ainda saiu no Tercera Caída hein!?)

Em Parintins, dentro do curral do Boi Caprichoso, a Escola de Artes Irmão Miguel de Pascale oferece cursos dos mais variados tipos, como dança e desenho, sendo o primeiro contato das crianças com a capacitação artística. Muitos artistas, de músicos a artistas de alegoria, que hoje trabalham no festival de Parintins foram alunos da escolinha.

O Festival de Parintins carrega a identidade de uma população humilde que expressa na festa a riqueza mais importante: a de sua cultura.

Motivo extra: se você é torcedor apaixonado por luta livre e adora se meter em briga com gente que não gosta do que o mesmo lutador que você, talvez você seja perfeito pra fazer parte do Item 19 — Galera! Torcedor de boi é apaixonado pelo seu boizinho e ainda mais apaixonado por brigar com torcedor contrário. (Pique fã do CM Punk ou de dono bilionário de empresa medíocre, sabe? Sabe, eu sei que sabe.)

O festival é transmitido pela TV Acrítica no Youtube, nos dias 28, 29 e 30 de Junho.

Texto de Aline, do jurídico azulado, que você encontra no X/Twitter.

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