Amadureço

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Wrestlemania 33 foi surpreendente, contrariando as previsões de muitas pessoas. Eu mesmo tinha zeros expectativas e felizmente estava errado. Uma semana do evento, e ainda estou extasiado com o que presenciei. Lutas fantásticas, returns inesperados e um final simplesmente comovente. Um misto de euforia com emoção, algo que somente o maior palco de luta livre pode proporcionar a um fã. Mais do que isso, essa Wrestlemania me fez pensar, pensar, pensar. Cheguei a uma conclusão: estou ficando velho. Isso é óbvio, a cada respiração que damos estamos mais perto do fim. O fato é que estou envelhecendo, junto com o pro wrestling. Não sei até onde essa relação chegará, mas ela continua firme e forte. Vários momentos que ocorreram nesse PPV mexeram diretamente com meu passado, de uma forma brutal.

Primeiramente, antes mesmo da Wrestlemania começar, a introdução de Beth Phoenix ao WWE Hall of Fame foi algo que me chamou a atenção. Pare para analisar, já há tempo suficiente para uma lutadora dos anos 2000/2010 ser digna de fazer parte da cerimônia! Após um arrepio correr o meu corpo ao ouvir novamente sua música tema, Beth relatava fatos de suas carreira em um discurso descontraído e até ousado, citando letra por letra nomes polêmicos para a empresa, como Owen Hart e Chyna. Nisso, cada luta ou momento em frente a camera que ela citava era recriado nitidamente em minha mente, parecia que foi ontem que tudo aquilo teria ocorrido. A presença de seu marido Edge na plateia também me trazia grandes lembranças, principalmente com a aparição surpresa de Tony Chimel para exclamar seu grito de “Rated R Superstar“. Mal eu sabia, tudo aquilo era só o inicio.

Agora sim, indo para dia 2 de abril de 2017, Wrestlemania 33, dois momentos em especial trouxeram sentimentos que há muito tempo não tinha em minha relação com o wrestling profissional. Aposto que você deve já saber quais são eles. O primeiro, é a volta de Matt e Jeff Hardy para a WWE, um momento espetacular e totalmente saudosista. Eles não são tão “boyz” como antigamente, mas são os Hardys quase idênticos aos que eu me lembro de ver na primeira vez que me deparei com a dupla, a mesma theme, as mesmas roupas, os mesmos golpes e spots, o mesmo espirito ali estava naquele ringue. Fazia bastante tempo que eu não pulava da poltrona por empolgação, mas vê-los novamente me fez ficar realmente sem palavras, um choque de entusiasmo. Basicamente me tornei por um instante o mesmo jovem que arrumava a antena da TV para não perder nenhum segundo das lutas daqueles dois (“Jeff Hardy vai aplicar um voo do anjo, para liquidar a fatura!”), tudo ao meu redor se anulou e toda minha atenção focou naquela momento mágico. Foi como se abrisse um portal direto e eu estava ali novamente no mesmo lugar, uma década atrás no meu passado.

O segundo ápice daquela noite foi o fim de Undertaker. Essa realmente doeu no fundo da minha alma. Ver o lendário Deadman pouco a pouco despir o personagem na frente dos nossos olhos foi um momento chocante, mais do que o fim de sua streak. Em ocasiões normais, vê-lo perder para um lutador supervalorizado construído sobre uma storyline mal feita, em uma luta muito abaixo da média para uma Wrestlemania, seria um motivo para xingar a empresa com todas suas forças, Entretanto, assistir de forma impotente Undertaker se transformar em um ser humano novamente, lentamente se despedindo de seus fãs e de tudo que deixava para trás, foi simplesmente surreal. Aquilo sim era o evento principal da noite, a luta contra Roman Reigns se desintegrou de nossas memórias. Undertaker passava uma mensagem clara de que aquilo não mais importava, que nada mais importava. Testemunhei boa parte de sua carreira, saber que Undertaker não voltará mais a lutar como antigamente foi algo inexplicável. Um dos meus maiores ídolos, o sujeito que me fez entender o wrestling como arte, dizia adeus. Ali, um pedaço de minha infância/pré-adolescência era enterrado.

A vida continua, o pro wrestling continua, e eu continuo a escrever. Meus artigos são lidos agora por novas gerações de fãs, que certamente não entendem esse sentimento nostálgico que sufoca meu peito. Eles sentirão a mesma coisa no futuro, ao olhar para trás e perceber toda a trajetória ao qual foi caminhada. Não somente em relação a luta livre, mas em todo e qualquer assunto refente a nossas vidas. Você certamente vai parar por um instante e perceber tudo que já aconteceu contigo, e verá o quanto evoluímos, e que em certos aspectos, não mudamos em nada. Foi o que aconteceu comigo ao escrever esse texto, que acabou saindo mais como um desabafo. Não sei qual a moral da história que você pode retirar de tudo isso, mas para mim seria algo relacionado a vida e a forma como a vivemos. É, acho que é isso. Viver ao máximo, progredindo a cada dia, mas nunca esquecendo os ensinamentos de seu passado. Acho que por fim, isso se chama amadurecimento.

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