A estreia de CM Punk no UFC foi um evento muito esperado entre os fãs de pro wrestling. Vimos toda sua trajetória, desde sua saída repentina da WWE, o anúncio surpreendente de sua ida ao mundo do MMA, seus treinos, a escolha do seu adversário, suas lesões, sua recuperação, até, é claro, sua luta contra Mickey Gall no UFC 203. Torcemos contra todas as probabilidades que caiam sobre Punk, tentamos esquecer que ele é um homem de quase 40 anos sem a menor experiência naquele esporte. Compartilhamos seu mesmo sonho de vitória dentro daquele octógono, talvez até trazendo a mesma inocência das storylines do wrestling profissional para aquela luta. Até esquecemos que o mesmo CM Punk simplesmente deu as costas para o universo WWE anos atrás sem dar nenhuma explicação, tudo foi apagado naquele mesmo momento quando começou a tocar novamente Cult of Personality para a entrada do atleta.
A realidade foi nua e crua quando Mickey Gall passou por cima de Punk como um rolo compressor. 2 minutos e 14 segundos, foi o tempo que o ex-atleta da WWE conseguiu aguentar. Foi um balde de água fria para milhares de fãs ao vê-lo perder suas forças e desistir da submissão aplicada pelo adversário. O destino seguiu o roteiro mais óbvio para aquele momento. De qualquer forma, CM Punk saiu de cabeça erguida do octógono. Fez o que tinha que fazer, e aguentou as consequências como um homem de verdade. “In life, you go big or you go home”, foram as palavras usadas pelo mesmo, que representam muito bem a vontade de uma pessoa de alcançar seu sonho apesar os pesares. Foi uma inspiração para muitos.
Agora que falamos um pouco sobre a luta, voltarei para o assunto principal desse texto. Não, CM Punk não é nosso único foco, mas sim uma parcela da mídia brasileira que me decepciona de vez em quando. Quantas vezes, você que costuma assistir luta livre, já se deparou com termos como “luta de marmelada”? Inúmeras vezes. A dificuldade de encontrar um artigo em sites de grande porte relacionado à pro wrestling , que não tenham termos pejorativos como esse, é algo absurdo. Eu, que assisti o UFC 203 através do Canal Combate, me deparei com um narrador (que não faço a mínima questão de saber o nome) soltar um comentário de que “aqui não é telecatch” após a derrota de Punk, como se ele fosse um atleta de menor importância quando ainda quase se matava dentro de um ringue. São dois universos diferentes, que não deviam ser comparados por não partilharem da mesma origem. Não que me dê raiva me deparar com algo assim, simplesmente me dá nojo. Foi graças a críticas infundadas como essas que levaram Ted Boy Marino a decair de seu patamar de ídolo nacional para uma morte quase anônima, sempre se lamentando que seus dias de glória lhe foram roubados. São essas mesmas críticas também que atrapalham a vida de novos lutadores aqui no Brasil, que tentam se erguer como podem em eventos pequenos ou sem expressão nacional. E mesmo na vida dos fãs, essas críticas servem como combustível para o “preconceito” que recebem de uma sociedade que não entende a arte feita por aqueles atletas.
Esses jornalistas não tem o menor pingo de profissionalismo no que fazem, não tem a menor responsabilidade no que falam. São “profissionais de marmelada”, por assim dizer. E o pior é que esse mesmo pensamento é nutrido por décadas, mesmo com a difusão da WWE de anos atrás entre o público brasileiro. Porém, ainda temos esperança em alguns nomes da nova geração de jornalismo esportivo, que estão surgindo e pouco a pouco tendo destaque. Pego como exemplo os dois comentaristas do canal Esporte Interativo, Octávio Neto e Marcelo Ferrantini, que são as vozes da TNA em território nacional. Tudo bem que eles obviamente não iriam falar mal publicamente de um esporte em que eles apresentam, mas o interessante é ver que eles se esforçam ao máximo para trazer a melhor qualidade para seus espectadores. Eles usam termos técnicos, entendem o que está acontecendo nas storylines, e o melhor de tudo, não tratam quem assiste como um idiota. Na verdade, tem de ser dito que eles são verdadeiros herois em conseguir trazer algo de alto gabarito do produto apresentado atualmente pela TNA…
Por fim, exemplo de especialistas como esses tem de ser admirados e difundidos por essa mídia fragilizada. Já tá mais do que na hora de largamos de vez esses estereótipos que em nada agregam, ou mesmo largarmos quem insiste em defendê-los. Precisamos do amadurecimento dessa parcela da mídia, onde profissionais com a mesma noção crítica de um garoto de 12 anos devem ser eliminados.