Fica por cima quem vende mais: uma análise do Survivor Series

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Após mais de 50 dias sem ligar a TV para acompanhar os shows, voltei a assistir um evento da WWE. Devo confessar que a curiosidade falou mais alto, e precisava entender qual era a mensagem que a empresa queria passar nesse Survivor Series.

Primeiramente, esse seria o primeiro grande evento onde o NXT participou ativamente de todo o show. Queria saber como eles seriam roteirizados, já que o Pay-per-view estava sob a tutela de Vince McMahon, não de Triple H.

Adam Cole e Pete Dunne duelariam pelo NXT Championship naquela noite, era um bom teste para captar o que a WWE quer fazer com a brand amarela.

Segundo, queria ver como a ida do SmackDown para a FOX afetaria o jogo de poder entre as principais marcas da WWE. Teríamos uma nova supremacia em Stamford?

Logo abaixo estão minhas impressões sobre o evento.

WWE não desafia a lógica e faz um evento interessante

O Survivor Series é um evento desafiador para a WWE. Fazer lutas de equipes que não se tornem entediantes e façam os espectadores se envolverem minimamente com o combate é difícil.

Ainda mais quando se trata de um confronto entre brands.

Em 2019, a companhia tem um panorama diferente dos anos anteriores. O RAW vem perdendo sua credibilidade com os fãs, o SmackDown precisa ser vendido como um grande show devido ao seu enorme contrato, e o NXT também se tornou uma marca.

E, além disso, tem a All Elite Wrestling nessa jogada.

Há nove semanas, cerca de dois meses e meio, a empresa dos irmãos Khan entrou de vez no mainstream do Wrestling profissional ao estrear o seu show, o Dynamite.

Se já não bastasse isso, a nova milionária da Luta Livre faz seus eventos no mesmo dia e horário do NXT. As quartas-feiras se tornaram uma guerra fria, onde o Dynamite venceu por oito semanas seguidas.

Até a WWE resolver trazer Becky Lynch, Seth Rollins e outras estrelas para o show, no último antes do Survivor Series. O resultado foi um aumento de quase 200 mil espectadores em relação à semana anterior e a vitória na audiência.

Dessa forma, Vince McMahon e seus roteiristas precisavam fazer um evento onde as marcas tivessem seus pontos fortes exaltados e que sim, é possível ainda assistir um show decente da WWE.

E como eles conseguiram fazer isso?

Luta de times femininos foi a melhor mensagem de como seria a noite

Os roteiristas de Vince K. conseguiram, pela primeira vez em tempos, utilizar da lógica para fazer um bom evento, a começar pela luta que abriu o show principal.

A tradicional luta de quintetos foi a melhor abertura de especiais da companhia no ano. As três brands mostraram o que tem de melhor, e cada uma contou uma história diferente.

Foto: WWE

O RAW, viu seu império ruir quando Asuka cuspiu seu Green Mist em Charlotte, a capitã do time, e deixou o ringue, colocando a marca vermelha em inferioridade.

Sasha Banks, liderando o time do SmackDown, ficou ainda maior quando usou de todas as artimanhas de uma líder para ser a sobrevivente do time azul e foi derrotada por um motivo muito importante.

A primeira luta serviu para mostrar que o NXT estaria disposto a todas as consequências para vencer a competição. Io Shirai e Candice LeRae superaram toda a rivalidade para se unirem e ajudarem Rhea Ripley a vencer e colocar a equipe em vantagem.

Esse foi o desenho fiel de como seria a noite: duas marcas tradicionais (RAW e SmackDown) tentariam de todas as formas se manter no topo, mesmo que fosse necessário se unir para isso.

E o NXT estava pronto para uma guerra contra todos, dentro e fora da WWE.

NXT mostra suas armas para a guerra

Se você não acha que a WWE quer um confronto direto com a AEW, é melhor você assistir o Survivor Series novamente.

O evento era a apresentação oficial do NXT para a grande maioria dos espectadores da empresa. Por isso, nada melhor que mostrar sua força diante dos grandes.

E como fazer isso?

A única forma era mostrando que seus pontos fortes são realmente fortes e seus campeões e suas divisões tem tanto valor quanto os das principais marcas. E que, além disso, eles estariam dispostos a dar a vida por essas vitórias.

Isso, surpreendentemente, foi o que a WWE fez.

Io Shirai, Candice LeRae, Bianca Belair, Rhea Ripley, Roderick Strong e Shayna Baszler lutaram um dia depois de uma noite de War Games.

E todos saíram com a vitória, mesmo que não estivessem nas melhores condições.

Foto: WWE

E, para isso, precisaram esquecer qualquer valor moral. Tudo era pelo NXT, depois eles se resolveriam na Full Sail University. Primeiro, a vitória.

E foi isso que aconteceu. Com quatro vitórias – duas no feminino, uma nos títulos do midcard e uma na divisão dos leves -, a marca amarela mostrou que, se você ligar a TV numa quarta-feira à noite, provavelmente vai estar diante dos melhores lutadores das suas divisões.

E isso vale muito quando se trata de uma guerra de audiência.

E, é claro, a luta entre Pete Dunne e Adam Cole. O campeão saiu mais campeão e derrotou o maior rei da era moderna. Quem pode parar o líder da Undisputed Era que, mesmo machucado, ainda saiu vitorioso.

Foi indiscutivelmente a melhor luta da noite para coroar um ano indiscutível de Cole e seus parceiros.

O SmackDown venceu onde era preciso se mostrar grande

Quem esperava um passeio do SmackDown caiu do cavalo.

O time só venceu apenas dois confronto entre as marcas e ficou sem segundo lugar no quadro geral de vitórias, perdendo para o estreante NXT.

No entanto, a vitória do programa da FOX foi a mais importante da noite. Goste ou não, a luta masculina ainda é a que decide a supremacia de um show.

Dessa vez, a equipe azul se saiu vitoriosa. Mas um resultado diferente desse na clássica luta de quintetos seria difícil, já que Roman Reigns era o líder da marca.

O lutador sai mais forte do que já era, e é o favorito para vencer o Royal Rumble do ano que vem. Isso se a WWE quiser seguir a lógica.

Foto: WWE

E o RAW?

Bem, teve quem se assustou com a pontuação do RAW na competição geral, mas não tinha muito mais o que fazer.

A marca vermelha é aquele time grande que passa por uma crise interna, e precisa se ajustar para voltar aos tempos de glória. Está tentando, mas ainda precisa de muito para retomar a simpatia dos fãs.

Um importante passo foi dar uma certa relevância aos campeões de duplas, os Viking Raiders. A vitória pode ter sido dada como um prêmio de consolação, mas ainda sim foi significativa, já que eles derrotaram a New Day e a Undisputed Era, favoritas no confronto.

Foto: WWE

No entanto, o RAW ainda conseguiu sair por cima no fim das contas.

Mesmo perdendo – e por esse motivo -, Becky Lynch atacou Shayna Baszler ao fim do combate e encerrou o especial comemorando em cima da mesa dos comentaristas.

Becky é o personagem central do ano da WWE em todas as divisões. Ninguém alcançou esse patamar durante 2019 e nem ao menos conseguiu chegar perto.

Ela é a quem mais dá credibilidade à empresa nesse ano. Mesmo perdendo, ela vai acabar vencendo no final. Tá igual ao Flamengo, apenas desfrutem.

Os erros que aconteceram e o que esperar daqui pra frente

Não existem shows perfeitos. Fazer o ex-campeão mundial da WWE perder um combate em um pré-show apenas 1 mês e meio após a sua derrota é uma forma de mostrar o momento em que o cérebro dos roteiristas entra em stand-by.

Ou fazer WALTER ser eliminado com pouco mais de três minutos de combate, mesmo estando invencível desde a sua chegada na WWE.

Esses lapsos mentais acontecem na empresa de Vince, mas dessa vez não foram os principais elementos desse especial. Pela primeira vez em muito tempo, a WWE seguiu uma linha lógica.

Ter o NXT ajuda a dar uma cara de Wrestling profissional ao show e não apenas o entretenimento dos anos 80 que os roteiristas tentam replicar.

Algumas histórias foram muito bem contadas, como um Rey Mysterio, vestido de Coringa, usando de tudo – até mesmo de seu filho – para derrotar Brock Lesnar, que colocou a sua vida e de sua família em risco.

A melhor história da noite. Foto: WWE

Agora, entraremos na temporada para o Royal Rumble, onde o desenho para a WrestleMania começa a ser traçado.

Se a WWE seguir uma linha de raciocínio clara, temos algumas coisas que podem caminhar, como a vitória de Roman Reigns no Royal Rumble e o dilema moral de Sasha Banks entre ser campeã ou ser a leal companheira de Bayley.

Além disso, Vince sentiu o leve fungar dos irmãos Khan no seu cangote, e decidiu aumentar um pouco o sarrafo. Por enquanto, com uma história que construía esse diálogo com os shows principais, funcionou.

Mas e depois?

Só podemos aguardar os próximos episódios. Mas uma coisa é certa: 2020 promete.

Até segunda que vem.

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