Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigoMário de Andrade
Em 2016, com a reformulação do Smackdown e das brands, algo mudou dentro da WWE.
Personagens que ainda não estavam estabelecidos dentro da empresa fincaram o pé. Outros, cansados, receberam uma nova roupagem.
Alexa Bliss se tornou uma main eventer, AJ Styles fez da brand azul sua casa e dois irmãos gêmeos passaram de uma dupla mediana para uma equipe que entrou na discussão das maiores da WWE.
Jimmy e Jey Uso penaram muito até chegar ao status que tiveram com a fase de Uso Penitentiary.
Lutaram no Superstars, no Main Event e mesmo ganhar os títulos de duplas de uma New Age Outlaws no ocaso da carreira não ajudou muito.
Mas a nova fase – que hoje já está velha de novo – mostrou, pelo menos para parte do fandom, que eles poderiam se reinventar e carregar nas costas uma tag division. E foi o que fizeram com a New Day durante anos.
E então veio a história das histórias.
BLOODLINE
Quando Roman Reigns voltou, no meio da pandemia, era outro Roman Reigns. E ao enfrentar Jey Uso no Night of Champions ele se tornava O ROMAN REIGNS.
A aceitação dos Usos perante ao público é bem mais antiga que a aceitação do chefe da tribo.
Enquanto o Universo WWE vaiava o vicioso campeão Universal da Brand Vermelha, os filhos do Rikishi estavam fazendo a alegria do público pagante.
Mas quando esse público pagante sumiu por conta da pandemia, Roman teve espaço para brilhar e seus primos brilharam consigo.
A saga da família Anoa’i está exaustivamente documentada, portanto não o farei aqui. Mas só precisava desse preâmbulo porque ouvi um absurdo essa semana, da boca do dono deste site.
TonTon, no WBR Podcast, disse: “Jey Uso vencendo o Roman Reigns seria tão decepcionante quanto Brock Lesnar quebrando a streak”.
Eu entendo o raciocínio e a visão de que o Jey é somente um coadjuvante numa história que é, efetivamente, do Roman.
Eu entendo, mas está errado. A história também é do Jey, bem como do Jimmy. O reinado de 1000 dias é tanto dos Usos como do Tribal Chief, pois não existe esse personagem sem a família em volta.
Tanto que Roman Reigns nunca se sustentou sem seu elenco de apoio, ou ao menos ainda não nos foi dada a oportunidade de vê-lo sem essa estrutura que segura o personagem.
Muito pelo contrário, agrega-se cada vez mais elementos neste lore que traz consigo o provedor desta linhagem.
COADJUVANTE
Contudo, se continuarem a tratar Jey, na TV, como coadjuvante, ele assim será. Não adianta nada eu falar aqui ou o Ton falar lá. O que manda é o que está posto no semanal.
E no último SmackDown Live, Jey Uso se tornou o top face masculino do SmackDown.
Não é Santos Escobar, Sheamus, Edge, Rey Mysterio, é Jey Uso.
A história que move a bloodline ganhou mais tração não por conta da relação entre Sami Zayn e Roman Reigns, mas pela implicância de Zayn e Jey Uso.
A defesa de Jey no Raw, dentro do qual Sami foi julgado, foi a base para o turno na Royal Rumble, bem como sua primeira suposta saída da equipe.
Os Usos, juntos, já são uma realidade, mas o Jey sozinho, este é o ponto inicial e final desta história.
Claro que histórias não precisam ser como a gente quer ou a obviedade, mas é canalhice dizer que a mão direita trair o rei é um plot device fraco. Na mesma medida, esta pode vencer a grande ameaça.
Reigns já venceu Jey, usando Jimmy. Da mesma forma, este prendia um ameaçando o outro.
Não mais.
“Mas como separar os dois irmãos?” perguntavam sobre Matt e Jeff Hardy. Para ambos funcionou muito bem e por mais que a dupla ainda seja a marca de ambos, Jeff também é lembrado por seu reinado como WWE Champion e Matt…
Bom, eu gosto do Matt Hardy 1.0 econômico 2003 com o Shannon Moore, mas aí é só eu e o Joker.
Também falavam que Big E e Kofi não funcionariam fora da New Day, que não poderiam ser campeões individuais. Foram. Usaram suas bases e as levaram consigo.
MAIN EVENT
Veja, isso não é uma defesa dizendo que Jey deveria ganhar o WWE Title, por mais que eu apoie, também, essa ideia. Mas estou aqui para dizer que Jey Uso já é um main eventer.
Ele está na dita maior história da WWE, nesta tragédia Shakespeariana que faria Hamlet ficar piroquete das ideias. Ele é a história. O começo dela e o fim dela.
Se existe alguém que merece finalizar alguma história, que provou seu valor frente às adversidades, que passou por gimmicks e storylines escrotas e que merece um final feliz, essa pessoa não é o loiro de tatuagem escrota.
Essa pessoa é Joshua Samuel Fatu, Jey Uso.