Os 10 momentos mais marcantes da WWE na década

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2. 21-1

Undertaker é um dos lutadores mais aclamados da história. Wrestlemania é o principal evento de wrestling de todos os tempos. Um dependeu muito do outro para chegarem a esse status, criando nessa relação uma verdadeira entidade: The Streak. Era assim que era conhecida a sequência de vitórias de Undertaker em 21 Wrestlemanias (não consecutivas, pois o lutador não participou das edições 10 e 16), algo tão sagrado ao evento que se igualava com a imponência de um cinturão colocado em jogo. Tantos lutadores foram oponentes de Undertaker e tantos desabaram perante sua invencibilidade. Tudo começa em 1991 na sétima edição do evento, vencendo Jimmy Snuka. Depois dele, muitos outros nomes foram colecionados em seu cemitério pessoal de vitórias: Jake Roberts, Giant González, King Kong Bundy, Diesel, Sycho Sid, Kane (por duas vezes), Big Boss Man, Triple H (por três vezes), Ric Flair, A-Train, Big Show, Randy Orton, Mark Henry, Batista, Edge, Shawn Michaels (por duas vezes também) e CM Punk. Essas lutas se diferenciavam por algo que ia além de apenas torcer, mas pela aflição que dava quando algum adversário lhe aplicava um golpe e ia para a contagem de três, porque era impossível prever quem quebraria a sequência de vitórias, se é que alguém o fizesse. Três eras passavam e Undertaker continuava em pé, indestrutível mesmo já estando com uma idade avançada, criando uma atmosfera sobrenatural sobre si. Em 6 de abril de 2014, seriamos testemunhas do próximo capítulo dessa história, a streak sendo posta na luta contra Brock Lesnar no Wrestlemania XXX. Ele definitivamente não era a escolha favorita dos fãs para batalhar contra Undertaker, mas foi o que nos foi dado. Os dois tiveram uma luta equilibrada durando por volta de 25 minutos, até Lesnar reverter um tombstone piledriver em um F-5. Era um golpe nada fora do comum, o que causou um espanto ainda maior quando Undertaker simplesmente não se levantou na terceira batida do referee no solo. Era o fim da streak.

Não tinha como entender o que aconteceu, foi totalmente repentino, ninguém estava preparado. Poderia ter sido o maior erro de um juiz na história da luta livre, mas não, Brock Lesnar tinha derrotado Undertaker em plena Wrestlemania, se tornando o 1 no 21-1 ao quebrar um ciclo que durava 23 anos. Paul Heyman comemorava com Lesnar no ringue, enquanto a WWE demorava em colocar a música do vencedor como se fosse algo realmente inesperado até pra eles. Ressoava um brando de surpresa no público na arena, não havia reação nenhuma além de completo choque. Muitos outros sentimentos vieram após, entre eles, o de descontentamento, principalmente ao depararmos o rumo traçado pelos dois lutadores após essa luta. O mais óbvio seria vermos a revanche de Undertaker e sua redenção, mas a WWE o transformou em um personagem mais humano, tirando um pouco de seu brilho do passado. Tanto que na época eu cheguei a escrever um texto chamado “Enterrando o Coveiro”, não imaginando que as coisas não iriam melhorar muito nos anos a seguir. Brock Lesnar, por sua vez, tornou-se muito forçado, sendo utilizado poucas vezes na televisão e mesmo assim aparecendo em eventos principais, humilhando os lutadores que se esforçam semana a semana. Lembre-se como acabou a Kofimania e a recente rivalidade com Rey Mysterio, para entender o que eu quero dizer. Undertaker revelou recentemente no programa “Steve Austin The Broken Skull Sessions” que lutou com uma concussão e não se recorda de quase nada dessa luta, que causou muitos danos ao seu corpo nos dias seguintes. E tudo isso para quê? A quebra da streak não obteve o valor significativo a longo prazo que merecia. Uns dizem que tudo foi planejado pelo próprio Taker, outros que foi impostos horas antes de acontecer e mesmo contrariado, ele teria aceitado em nome do wrestling. Para quem não parou de contar, o placar de Undertaker em Wrestlemanias está 24-2, vencendo Bray Wyatt, Shane McMahon e John Cena e perdendo novamente para Roman Reigns na Wrestlemania 33. O fim da streak pode não trazer boa recordações, mas indiscutivelmente, foi um momento inesquecível.

1. The Summer of Punk

Não seria diferente, não é mesmo? CM Punk fez tanto barulho em 2011 que seu nome ecoa com bastante força até os dias atuais. Ainda estávamos na denominada PG-Era, que trazia um produto mais apropriado para a família onde John Cena reinava como estrela absoluta. A forma plastificada que a WWE moldava o personagem do lutador já mostrava sinais de saturação e havia rejeição por parte do público. Eles nada faziam para mudar, na verdade, enxergavam notoriedade e lucro nas críticas que recebiam, e assim, tornavam John Cena ainda mais blindado. Esse modo de pensar dava-se pelo sentimento de prepotência por ser dominante no mundo do wrestling, o objetivo de qualquer lutador que se preze. Ao menos, até então… CM Punk já tinha seu nome consagrado nas federações independentes de luta livre bem antes de entrar na WWE, mas precisava provar seu valor em larga escala em uma companhia tradicionalmente tida como a maior do mundo. Com muito esforço, ele conquistou seu espaço e uma sólida base de fãs, e assim não demoraria até que as duas maiores forças daquele período colidissem em uma das melhores rivalidades dos últimos tempos. Punk vinha tentando ser o concorrente para enfrentar o então campeão John Cena, mas existia uma relutância por parte da empresa, colocando vários empecilhos pelo caminho. Seu contrato também estava muito perto em expirar, era junho e a data final seria 17 de julho, e o mesmo mostrava todas as razões com as quais não desejava renová-lo. O jeito cínico e a sua habilidade fenomenal no microfone faziam de Punk o heel perfeito, declamando ser o melhor do mundo e querendo mostrar esse fato para todos. Esse ego inflado, que reflete um pouco do próprio lutador nos bastidores, trazia vaias da parcela mais conservadora da plateia, mas também admiração por aqueles que conseguiam enxergar com clareza o que estava acontecendo. Essa dualidade sumiu por completo no Raw transmitido no dia 27 de junho de 2011 e nunca mais voltou.

Era um episódio como outro qualquer. CM Punk tinha lutado contra Kane logo no começo do programa, mas foi desqualificado propositalmente por não voltar ao ringue antes da contagem de 10. Horas mais tarde, no evento principal da noite, durante uma tables match entre o campeão John Cena e R-Truth, CM Punk aparece. Distraído por sua presença, John Cena perde quando Truth lhe aplica um spear direto em uma mesa no canto do ringue. Depois disso, a mágica começa e deparamos com o momento mais marcante de uma década inteira. Uma “pipebomb” (ou “bomba-tubo” em português) é um artefato explosivo construído de forma caseira e improvisada que tem um grande poder de impacto ao ser arremessado. Isso se assemelha ao que Punk fez com sua ferramenta de revolução em mãos, um microfone, estilhaçando as estruturas da WWE daquela época, definindo aquele segmento por esse nome. Sentado em sua pose clássica com as pernas cruzadas, ele ataca primeiramente a forma autoritária que a WWE manipula tudo ao seu redor, ofuscando a sua carreira e enaltecendo John Cena como um ser intocável. Os próximos alvos de sua artilharia são Vince McMahon e as pessoas que o bajulam, The Rock e sua passagem direta ao evento principal da próxima Wrestlemania mesmo não participando dos shows, além do próprio público. Mesmo mostrando muito do que a grande maioria dos fãs concordava na época, o discurso de Punk começa como o de qualquer outro vilão, mas gradativamente começa a tomar um formato totalmente diferente. Suas palavras tomam uma fúria e uma verdade assustadora, ao ponto de não sabermos se aquilo estava dentro do programa ou não. O lutador cita a NJPW e a ROH (“Ei Colt Cabana, como vai você?”), algo inimaginável de ser dito na WWE, e começa a atacar brutalmente a Família McMahon. No ápice, ele questiona o sistema e se a morte de Vince mudaria algo, e quando começa a expor a hipocrisia da campanha anti-bullying que a WWE apoiava, seu microfone é cortado. História tinha sido feita.

Muitas outras pipebombs já ocorreram antes e até com mais explosão contra a WWE. Porém, a promo de CM Punk ocorreu em um tempo que tudo era regrado dentro de um padrão, quase beirando a censura. A devastação das palavras ditas pelo lutador repercutiu por todo o mundo, principalmente por não sabermos se aquilo era real ou não. Hoje em dia, é óbvio ver que tudo estava no mais pleno controle da WWE, pois se qualquer coisa não fosse de seu agrado, a transmissão seria desligada em um estalar de dedos. Um detalhe muito interessante é que CM Punk estava usando uma camiseta de Stone Cold Steve Austin. Ele disse em entrevista que não encontraram uma camiseta sua para ele vestir e assim pegou aquela em sua mochila, mas não pode ser riscada a possibilidade da própria WWE querer incitar uma rivalidade entre os dois ou mostrar a semelhança da revolução que Punk estava prestes a fazer com a que Stone Cold fez anos atrás. Aquele espírito de Attitude no meio da PG-Era tornou CM Punk um símbolo de toda a geração. Depois de sua pipebomb, ele continuava a atacar as diretrizes de uma empresa poderosa nas semanas seguintes. No Money in the Bank em Chicago, terra natal de Punk e exatamente em seu último dia de contrato com a WWE, vemos uma ovação total ao lutador e uma rejeição que beirava a humilhação à John Cena. O que de fato tornou essa luta excelente, levando notas máximas por diversos especialistas na área, não foi propriamente o que foi mostrado no ringue, mas toda a história criada, principalmente com seu final intrigante. Punk cumpre sua promessa e leva para casa o cinturão da WWE, sobressaindo sobre o sistema como um herói do povo. Para mim, aqui seria o ponto final do Verão de Punk, pois depois a WWE perdeu o rumo da situação, algo que costuma fazer.

Primeiramente, poucas semanas depois do Money in the Bank acontecer, Rey Mysterio ganha o torneio para definir o novo campeão da WWE e perde na mesma noite para John Cena. Sim, desculpe por lembrar isso, mas é só pra mostrar que tudo continuava na mesma. CM Punk retorna naquela mesma noite e encara John Cena, o começo para uma luta entre os dois que aconteceria no Summerslam daquele mesmo ano. No evento, Punk vence novamente, mas o final dessa jornada é concretizado quando Alberto Del Rio faz o cash-in de sua maleta conquistada no Money in the Bank, com a ajuda de uma surra causada anteriormente por Kevin Nash. É o sistema prevalecendo, destruindo a maior sensação do novo milênio para demonstrar seu poder. CM Punk reconquista o cinturão meses depois e por 434 dias ele mantém o sexto maior reinado da história, até ser destronado por The Rock, o mesmo que foi mencionado tão pesadamente em seu pipebomb. Ele lutou contra Undertaker pela streak na Wrestlemania, mas não teve tanto destaque na WWE da mesma maneira que ocorreu em 2011, ao menos não tanto quanto queria. Após o Royal Rumble 2014, Punk não mais retorna para a WWE e sua decepção faz com que ele se aposente completamente do wrestling. Nesses cinco anos desde sua saída, ele não foi embora por completo, ele era um ser onipresente mesmo sem querer. Os fãs não deixavam a WWE em paz e gritavam o nome de CM Punk a todo o momento, às vezes sendo desrespeitosos com os lutadores que continuavam na empresa. Longe da luta livre por tanto tempo, ele surpreende ao aceitar fazer parte do novo programa da Fox, o WWE Backstage, em novembro de 2019. Mesmo não tendo mais nenhum vinculo com sua ex-empresa, os fãs não deixam de sonhar com seu regresso triunfal e apoiam cegamente o lutador até hoje, tornando-o o mais influente de toda a década. Tudo por conta de um microfone e o calor de um verão inesquecível.

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