Ricky Steamboat vs Daniel Bryan – Parte 1

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Chegou o dia, senhoras e senhores, de voltar dez anos no tempo, para uma época em que eu tinha desculpas para ser tão idiota. Na mesma medida, voltaremos ainda mais, para um lugar no tempo em que Ricky Steamboat ainda era jovem e levaremos até ele um oponente à altura.

Hoje, meu caro leitor, você irá presenciar a luta que nunca aconteceu, lerá os detalhes, os sentimentos, tudo tão fake quanto as lutinhas que assistimos diariamente. Tudo tão real na minha cabeça quanto todos os socos e golpes que nós nos forçamos a acreditar.

Bem-vindos ao primeiro texto de alguns sobre Ricky “The Dragon” Steamboat (c) vs “Planet Champion” Daniel Bryan pelo NWA World Heavyweight Title.

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Washington – Março de 1989

Existem pessoas no mundo e ele gira. Algumas somente o acompanham, outras tentam agarrar o eixo deste flutuante, controlar seu ritmo, ser, de fato, o seu centro. Acredita-se, hoje que um cinturão prova quem tem o direito de estar neste núcleo e qual combatente é digno o suficiente de controlar o giro da terra. Atualmente, não existe ninguém merecedor deste poder a não ser um homem: Ricky Steamboat.

Para o mundo do PW ele é um rei recente e, mais importante de tudo, um regicida. O título dourado que agora ele prende a cintura, olhar fixo à parede, enquanto tenta bloquear o barulho lá fora, estava nas mãos do “Nature Boy” apenas um mês atrás. As pendências com Flair zumbiam na sua cabeça, sempre a mente, mas hoje existia um desafio a mais.

Subindo pela montanha de corpos que ele e tantos outros haviam deixado para trás havia um homem de aparência bruta, um pequeno que lembrava tanto Lou Thesz quanto Jethro Tull. Nomeava-se “O campeão do planeta”. Hoje, lutam em sua cidade natal, em um evento organizado por Croquette para selar algumas rivalidades menores. Porem, na cabeça de Steamboat, não havia menor ou maior. Todos os obstáculos eram encarados como a parede branca em sua frente, monstros uniformes que se diferiam somente na prática e nos costumes, mas que, essencialmente, tinham a boca aberta e somente um alimento em mente: SEU National Wrestling Alliance World Heavyweight Title.

Ricky olha para trás e vê seu filho com as mãos na cabeça, apertando as orelhas. Os olhos do menino parecem encarar as mesmas paredes brancas que ele, mas à vista da criança espreitam tantos monstros quanto existem pessoa em Washington. Ao se virar para as cortinas, Steamboat começa a imaginar se não estaria subestimando o exercito de gritos e o líder daquela tropa.

O estádio se enche com um zumbido, como uma colmeia aberta à chutes. Os homens, mulheres e crianças de Washington aparecem de todos os formatos e cores, porem sua aura para com ele é um ódio irracional que o atinge, pouco a pouco, pela simples falta de costume. Steamboat entra a pé e sem acenos. Respira fundo e tem às mãos balançando ao lado do corpo, com a faixa na testa e o ouro na barriga. Conforme desce a rampa, vê os homens de terno na primeira fila, as mulheres de vestido. Um pouco atrás a classe trabalhadora com suas expressões rústicas e roupas de segunda mão. Eles o amariam se fosse Dusty Rhodes? Se fosse mais um homem do povo? Não contra o adversário de hoje.

Ele entra no ringue rapidamente e entrega o cinturão para o juiz, sem tempo para se despedir, sem pensar na possibilidade. Ricky Steamboat tira o Kimono e as faixas. Veio sem mulher e filhos. Cercado de inimigos tão incomuns – seus possíveis fãs em outras situações -, o dragão é somente um animal a espreita e busca passar por essa viagem leve, sem nada a perder a não ser tudo o que importa.

Então soa a cavalgada das valquirias e o estádio vem abaixo.

Vemos uma figura baixa, de sunga, joelheiras e botas pretas sair detrás das cortinas. Os pagantes que o cercam são êxtase encarnado, enxergam ali um espelho de anseios e experiências não cumpridas. É um conterrâneo e somente isso importa. Daniel Bryan é baixo e quadrado. Traz nos olhos uma arrogância tão legal quanto veneno e atrás de si tem a soma de todos os fãs como massa de artilharia.

Ele anda firme, torce os pulsos, aquece os braços, deixando que o público o carregue até o ringue. Nunca foi um homem de pessoas e geralmente as rejeita, denigre e humilha, falando de uma tal de preservação ambiental que até pouco tempo não existia.

Daniel Bryan, entrando no ringue, parece um problema inventado para criar mais problemas. Mas pelo que as fitas mostraram, é imprevisível, metódico e punitivo. Aquele oponente não permite erros, nem mesmo os da natureza, que deu a seus oponentes juntas para que ele pudesse torcer e um cérebro que entende dor, do qual ele tira o máximo de proveito. Já fez muitos homens feitos pedirem baixa de sua honra em cima do ringue. Ricky lembra do Figure Four do qual já teve que escapar, a imagem na sua cabeça muda de loiro para careca, para gordo, para imparável. Ele vê Sting, Anderson, Simmons, Hart, Blanchard e pensa em semelhanças, traçando estratégias em um quadro negro que desaparece como pó assim que a voz do announcer rasga os auto falantes da capital:

 SENHORAS E SENHORES PAGANTES, ESTE É O EVENTO PRINCIPAL DA  NOITE. O COMBATE A SEGUIR É PELO NWA WOOOOORLD HEAVYWEIGHT  TITLE.
	NO CORNER À MINHA DIREITA, O DESAFIANTE. 							PESANDO 95 KGS, DE 	EVERDEEN WAAAAAAAAAAAAAASHINGTON

E nessa hora a pausa é tão propícia quanto obrigatória, pois o barulho do público apaga qualquer outra frequência audível.

	DANIEEEEEEEEEEEEEEL BRYYYYYYYYYYYYAAAAAAAAAN!

O fervor segue, religioso para um homem da terra. Ele levanta os braços e deixa que o som o leve, adormecendo o corpo, afiando a mente. Ricky o vê, a falta do tato começa a tomar o que antes era ele mesmo. Logo ele bloqueia outros sentidos e só olha, focando um circulo difuso onde só existe seu desafiante. E então ouve seu nome, mas é somente um grito infantil perante o desafio e as vaias que afogam a identidade pela qual ele conhece ficam igualmente para traz.

Somente um som o desperta.

O som do gongo.

FIM DA PARTE 1

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