Cody Rhodes e Roman Reigns se enfrentaram novamente.
Há um ano, começava o fim de uma história. Roman vencia Cody no Main Event da Wrestlemania , gerando frustação, onde muitos acreditavam que a história deveria terminar.
Eis que chegamos ao número redondo.
A história, sempre em jogo, chegava às bordas de um precipício. Ou pularia para a morte, levando consigo as esperanças de um Cody Rhodes no Main Event, ou alçaria voo.
Do começo
Somos crianças.
Cada fã de luta livre tem em seu amago a esperança e teimosia de alguém sem maturidade. Carrega-se isso até idade adulta, uma ânsia constante de ver suas vontades saciadas.
É a gênese da torcida, a empatia que leva a conexões tão fortes com personagens e personas.
Através de películas de vidro irreais vê-se do mais recluso ajuntamento de pessoas lutando no quintal até ao evento multimilionário. E nós gostamos disso.
Gostamos porque é um cardápio variado. Dessa forma, se em alguns dias é legal experimentar outros sabores, em outros a simplicidade nos ganha; uma simplicidade que somente a extravagância e a megalomania pode proporcionar.
Então somos crianças, frente a robôs gigantes e monstros irreais que, nas suas formas humanas, vem ao ringue.
Somos crianças quando uma música toca e todos cantam juntos, como um hino.
Essa infância só ocorre através de uma mágica, bem orquestrada e paradoxal que, na complexidade elementar de sua gnose, nos transporta para esse ambiente etéreo. Lá a mais pura bobagem se transforma em ouro.
Que venha à cena nossos alquimistas.
Ponto e vírgula
Parte dos fãs de WWE acreditavam quem, ao final da Wrestlemania 39, Cody Rhodes levantaria os dois cinturões.
À época os títulos unificados da WWE e do campeão Universal eram a maior e única coroa suprema da empresa. O garoto loiro era a escolha mais óbvia para tomar as duas cintas do indestrutível Chefe da Tribo.
Era o ponto final que, acima da virgula, mudou e foi mudado por todo o paradigma da WWE.
A vitória de Roman Reigns veio por intermédio de Solo Sikoa, a fera samoana mais agressiva desde Umaga.
Solo, no ano que seguiu, se tornaria ainda mais mortal. O Samoan Spike seria a queda de talvez o maior nome da história da WWE: John Cena.
Não fosse aquela luta, não fosse esse spike, não fosse a virgula abaixo do ponto, nada haveria; nada além de outra coisa.
Essa possibilidade que não se pode tocar foi então a grande obsessão de quem acompanhou a história.
Crianças que, sem ganhar o doce no final da tarefa, ficaram putas.
Com razão? Nem o maior dos sábios havia de saber.
A WWE havia perdido o timing. Nada é melhor e maior para mudar um título do que uma WrestleMania. A história já estava perfeita, para que escrever mais?
Outros parágrafos para Cody Rhodes e Roman Reigns
‘He’s cooking’
Como sátira ou fato, a frase acima se tornou comum. Se a empresa de Stamford acertava, o cozido era real e saboroso. Quando errava, os fãs comiam coco.
Cody Rhodes começava uma nova jornada. Seu caminho era trilhar através das pegadas que o próprio Reigns deixara na lama. A estrada suja e disforme levava ao caos, levava a Besta.
Outro paradigma que mudou e foi mudado pela vida.
Brock Lesnar se tornou a grande escada para o American Nightmare em 2023. Não está nos vídeos de divulgação nem na promo. Não será citado como parte do drama que acometeu o loiro mais chorão do hemisfério norte. E não deveria ser citado mesmo.
A vida real, em muitos momentos, influenciou essa história mais do que conseguiríamos imaginar. ‘Wrestling is real’ talvez até demais.
Por outra linha, em outro show, Roman Reigns tinha seus próprios problemas. Seu ego não admitia que, mesmo em suas vitórias, houvesse manchas de derrota.
Ele venceu, mas Jimmy e Jey haviam sido derrotados na WrestleMania 39. Kevin Owens e Sami Zayn eram um problema que ele mandou resolverem. O problema venceu.
Então o lobo mau soprou e soprou e soprou, furioso com a derrota que sujava sua reputação e o nome de sua família.
Finalmente a casa cedeu e caiu. Caiu em cima dele.
Traição
A traição dos Usos contra Reigns e Solo, levando a Guerra Civil da Bloodline, talvez tenha sido a maior salvação de Cody Rhodes.
Naquela feita os gêmeos provaram que Roman Reigns não só podia ser derrotado – o que havia acontecido no Night of Champions quando o chefão e Solo perderam para Owens e Zayn, sofrendo o pin em cima de Sikoa – como poderia também ser pinado.
Era a gênese da ideia. Uma ideia maluca de criança, uma ideia infantil que somente em sonho poderia se concretizar. A ideia de que o pesadelo americano poderia acabar com aquele pesadelo samoano.
As histórias seguiram, as vezes se cruzando para depois estarem mais distantes que nunca. Entre essas curvas, este momento aconteceu.
Toda a trama estava ali. Jey, que havia dado um superkick em Cody junto com Jimmy, seu irmão, agora encarava com ódio seu próprio sangue, na forma do gêmeo e também de Solo.
E Cody encarava sua maior derrota. O homem que mais representa a vitória dentro da WWE, que por mais de mil dias não foi derrotado, é para Cody Rhodes o avatar da perda.
Ele olha para esse abismo e, naquele momento, todo o resto parece infantil. Solo, Jimmy, Jey, Nick Aldis, todos parecem crianças.
Cody e Roman é coisa de gente grande. Coisa de gente grande acaba em evento de gente grande.
E ainda tem história?
Survivor Series 2023. Chicago. Entra em cena outra personagem. Meses antes, ele seria somente uma frase no passado de Cody e um capitulo caloroso e abafado para a WWE.
Quando o chiado ecoou na segunda cidade e Cult of Personality inundou a arena da WarGames, gerou-se um evento borboleta o suficiente para criar o maior chefão da história deste jogo do Pro Wrestling.
CM Punk estava de volta, mas seu retorno não era pra si mesmo.
Claramente, o senhor Phil Brooks queria ir ao Main Event da WrestleMania, única conquista maciça junto do Royal Rumble que Punk ainda não havia posto a mão.
Porém havia a história de Cody. Ou talvez não? Um ano havia se passado, um título de duplas caiu na sua mão e um título mundial agora estava no Raw. Quantas histórias podem ser finalizadas em uma só noite.?
Então os adultos foram para a Royal Rumble e as crianças ficaram em casa, esperando pelo melhor e recebendo o pior.
Concomitantemente Roman Reigns defendia seu título sem surpresas ou dificuldades.
Porém, naquela Rumble, mesmo com CM Punk chegando a ser runner up, ele ainda ficou longe demais para pedir a alegria final. As duas conquistas vão ter de ficar pra depois.
CM Punk foi eliminado por Cody Rhodes que, vitorioso, não hesitou: subiu no corner e apontou para a tribuna onde estava o Tribal Chief Roman Reigns.
Porem, dois dias depois, Punk avisa que, durante a luta, rompeu seu tríceps. O circo estava formado para Cody enfrentar Reigns e Punk enfrentar Rollins.
E agora?
Correndo por fora
Dwayne Johnson não é, em si, uma figura muito polarizante. Claro que existem pessoas que não gostam dele, mas acreditava-se que, não sendo de mentirinha, ele não geraria reações tão raivosas.
Por sorte, a primeira reação que lhe deram foi exatamente o contrário.
Em um segment totalmente idiota e totalmente xenofóbico durante o primeiro Raw do ano, The Rock questiona se deveria sentar-se à cabeça da mesa.
Todo mundo sabe que aquele lugar já esta quentinho com o bumbum de Roman Reigns. Algo de errado não está certo.
O público vai a loucura e a pulga nasce atrás da orelha. Para quem vê retroativamente, a mesma pulga salta aos olhos.
Se não era para ele enfrentar o Roman e sim Cody Rhodes, porque esse puto falou essa merda?
Bem, não importa. A realidade é que o principal personagem atrelado ao título mundial de pesos pesados à época simplesmente rompeu o tríceps.
CM Punk, de tantos retornos emblemáticos, seria agora somente mais um par de olhos assistindo de casa.
E então volta The Rock, mas não antes da WWE mudar (esperamos) para sempre.
Caso de polícia
Anteriormente, Vince McMahon, junto com John Laurinaitis, Brock Lesnar e outros empregados não nomeados da WWE, foram acusados de tráfico humano.
O processo movido por uma funcionária é desesperador. Os relatos contidos nas páginas do litígio não deixam margem para meias palavras.
As acusações anteriores contra VKM, feitas em 2022, em conjunto com esse novo montante de graves ocorrências, levaram a, mais uma vez, mudanças dentro da WWE, desta vez mais ‘definitivas’.
Primeiramente, Brock Lesnar não existe mais.
Eu não vou entrar no mérito se apagar pessoas da história é certo ou não (é sim), mas o fato é que: Brock esta claramente presente no processo. Apesar de não ser citado nominalmente, a linha do tempo mostra que ele estava diretamente ligado aos abusos sofridos pela funcionária da WWE, o que, posteriormente, é confirmado pela postura da empresa de esquecê-lo.
Isso inclui todo o ano de Cody Rhodes até o SummerSlam! Então de Abril até Agosto deste ano Cody estava sumido, tomando pela cronologia atual.
Ironicamente, na mesma semana em que esta bomba caiu em cima da empresa, The Rock tornou-se um dos sócios da TKO, conglomerado ao qual a WWE pertence junto com o UFC.
A imagem de um novo ‘chefe’ aparecia, junto das palavras ditas por Dwayne no Raw e pela necessidade de abafar o caso. A necessidade de esquecer Vince McMahon.
Dessa forma, após uma coletiva de imprensa nojenta no pós Royal Rumble, a WWE começa seu processo de eliminação da figura de McMahon tão próximo da WrestleMania.
Começa, aos trancos e barrancos, de uma vez por todas, sem Vince, a ‘Paul Levesque Era’. E ela vem com uma porrada.
Rock vs. Roman
Nem toda criança concorda e graças a Deus por isso. Ajuda a formar caráter e ajuda a arte do improviso.
Já fui muito vocal aqui como acredito que fãs de Wrestling são muito bons para fazer esforço por coisas que não importam.
E o último esforço foi Rock vs. Roman no main event da WrestleMania.
Então, em meio a todo esse panorama de crise, Dwayne chegou para ‘salvar’ uma WrestleMania que, em uma semana parecia montada e noutra não tinha mais um de seus principais eventos.
Eis que, em uma segunda feira, Seth Rollins planta na cabeça de Cody Rhodes uma semente, a ideia de uma revanche entre os dois.
Cody pensa e pensa e resolve dar sua decisão no SmackDown, dia dois de Fevereiro, no Arizona.
O filho do filho de encanador diz que conversou com uma galera e que está indo atrás de tudo o que Roman Reigns tem, mas não na WrestleMania. Uma das pessoas com as quais ele conversou? Talvez Roman conheça.
The Rock vem ao ringue.
Na arena, a reação era a melhor possível. Na internet? Não poderia haver pior retalho para a WWE.
Sendo assim um movimento pedindo por Cody Rhodes começou. Pés batiam, havia choro, ranger de dentes e brinquedos quebrados.
‘Cody Crybabies’ foi o apelido dado por The Rock para esses fãs e ele não está de todo errado. Na arte e no entretenimento, deixar que seu público guie cem por cento seu produto é muito perigoso.
E como disse John Cena: todos estavam reclamando, mas não havia ninguém devolvendo o ingresso da WrestleMania.
Contudo, esse movimento por Cody Rhodes surtiu efeito. Se os fãs queriam que Cody finalizasse a história, ele ia finalizar A história, com direito a tudo que ele disse que iria tirar de Roman Reigns.
História
No WrestleMania Kick Off, Cody daria sua decisão. Seth Rollins estava presente, inserido no drama desde que três garotos de preto atacaram Ryback há 12 anos atrás.
The Rock e Roman Reigns, juntos no palco, davam todas as suas razões pelas quais eles seriam o maior main event da história. E seriam mesmo.
Conduto, chega o ganhador da Royal Rumble, o homem que prometeu destronar Roman e fala que não cabe a eles essa decisão. Ele seria o Main Event e Roman Reigns era seu alvo.
Em uma semana que parecia eterna, tudo mudou mais de uma vez. The Rock, que era um homem do povo, passou a ser cada vez mais agressivo. Rollins, que queria uma luta contra Cody, passou a querer uma luta com o Cody. E Roman continuava no alto de sua ilha da relevância, olhando para todos de cima a baixo.
Mas se tem alguém que consegue puxar Roman para baixo, esse alguém é Cody. Ele fala de sua família, de sua ancestralidade; da ancestralidade de Dwayne ‘The Rock’ Johnson.
Se todos somos crianças, Cody Rhodes nunca pareceu tanto com uma quando The Rock, claramente incomodado, lhe disse que falar da família de Roman era falar da família do ‘Great One’.
Um tapa. The Rock derruba Cody Rhodes com um tapa e da início a uma história que mudaria tudo o que esperávamos desses personagens na RTWM.
Roman Reigns e Hollywood Rock
Eis então que The Rock faz uma promo por Instagram. Ele está visceral, puto, mudado. The Rock deixa de ser a persona Dwayne e volta a ser o personagem The Rock; o herói de muitas crianças grandes voltava a ser o vilão do qual elas somente ouviram falar.
The Rock voltava a parecer muito com Hollywood Rock e, junto com Roman Reigns ele se integrava a Bloodline. Cody, que no ano anterior, já não havia conseguido neutralizar a stable, agora ainda tinha seu próprio chefe para lhe atrapalhar, além de ter de se preocupar com o chefe da tribo.
E então Seth Rollins disse que seria seu escudo. A mais improvável das parcerias iria junto para a WrestleMania. A dupla que, junta, trouxe de volta Cody Rhodes a WWE com uma trilogia de combates agora iria, lado a lado, marchar contra a maior força já vista dentro da empresa de Stamford.
Dois homens contra o mundo, um mundo muito maior que a própria vida real. Seth e Cody enfrentariam Rock e Reigns, após muita trocas de farpas, valendo a alma da WWE e a chance de Cody ter uma luta limpa contra Reigns.
Caso The Rock e Reigns vencessem? Bloodline Rules!
Bloodline RULES!
A Bloodline, desde sua concepção, quando Jey trouxe Jimmy de volta e eles se juntaram a Roman e ao Paul Heyman, era uma stable forte. Conforme o grupo acumulava títulos, de forte foi-se para imparável.
Solo Sikoa, como ingrediente especial, fechou a formula com força e agressividade.
E com essas cinco pessoas, a facção dominou o pináculo do Pro Wrestling até metade de 2023. E então peças começaram a cair. Houve uma guerra civil onde, pela primeira vez desde 2019, Roman Reigns foi derrotado. Seus algozes eram os mesmos que lhe ajudaram a ficar no topo.
Entretanto, o chefe da tribo tem seus meios e, assim, conseguiu trazer Jimmy de volta e manter tanto sua facção quanto seu reinado.
A chegada de The Rock poderia significar uma ruptura nesse conjunto ou o fim de toda a dúvida.
O Final Boss então veio como a mais deturpada das certezas.
Final Boss
Com suas roupas caras, seus palavrões e sua forma física banhada no suco, o que era o super-herói se tornou super-vilão. Lado a lado com Roman Reigns estava Adão Negro, Hollywood Rock e Dwayne Johnson, em uma amalgama que se chamaria de “Final Boss da WWE”.
Só que o Final Boss e o chefe da Tribo… podem coexistir?
No clichê mais batido da luta livre, tivemos a confirmação que sim, eles podem. The Rock reconheceu Roman como seu chefe da tribo e foi para a WrestleMania com uma missão: humilhar Cody Rhodes.
Cody vs. Rock
Por mais que a feud Cody vs. Reigns seja, em tese, a principal, e que outras tantas histórias estejam envolvidas, é possível dizer que The Rock vs. Cody foi A história desse main event.
A WWE conseguiu usar um incômodo dos fãs que vem desde 2013 e 2014, quando respectivamente duas estrelas de Hollywood vieram para o Main Event da WrestleMania, e transformou isso em uma persona só.
Cody Rhodes representava todos aqueles que o público considerava ‘injustiçado’: CM Punk, Daniel Bryan (que ganhou aquela WrestleMania, afinal de contas), o próprio Sami Zayn. The Rock representava ele mesmo e a máquina, protegendo seu maior obelisco, a criação máxima do sistema.
E todas as crianças ficavam na beirada da cadeira, esperando o derradeiro momento, esperando que o homem que quebrou a Shield e o homem que quebrou o Trono acabassem com um império sanguíneo e sanguinolento.
Não aconteceu.
The Rock e Roman eram demais para Cody e Seth. No main event da noite 1, usando todas as táticas e todo o poder que a Bloodline conquistou não só nesses anos de reinado de Roman, mas desde o High Chief Peter Maivia, passando por Rikishi, Afa, Sika, Rocky Johnson, Rikishi, Yokozuna, Umaga. Era forte demais para ser derrotada por somente dois homens.
Bloodline Rules, metaforicamente e, na noite dois da WrestleMania, literalmente.
Crise Final
Eu adoro gibi de Super-Herói. A catarse de novos conceitos e rivalidades construídas mês a mês, se utilizando de anos de cronologia e significâncias acumuladas me faz ser um fã.
Os personagens, mais coloridos que todo o branco do sol e maiores que as paredes da realidade, destroem e reconstroem tudo com sacrifício, mas leveza. É tudo mortal, mas é tudo brincadeira.
No main event da WrestleMania 40 noite 2, tudo era mortal, mas tudo era brincadeira.
O combate, que começou normal, começou a descambar para a violência. Garrafada dali, quebra de barreira ali, brawl no público acolá. Tudo isso ainda entre dois homens. Tudo isso deixando as crianças distraídas, mas não entretidas.
Foi somente quando Jimmy Uso, de todas as pessoas, apareceu, que a luta realmente mostrou sua verdadeira cara. Jimmy, primeiro personagem desta mega saga do universo WWE, veio para acabar com Cody, mas seu irmão, que o havia batido na primeira noite, não podia permitir. A história deles já havia acabado. Era a hora de proteger o homem que trouxe Jey e o Yeet para as telas do Monday Night Raw.
Spear do stage em duas mesas. Começava a carnificina.
Depois disso veio Solo Sikoa, a grande sombra que persegue não só Cody, mas todos aqueles que, desde o Clash of The Castle, tentam por as mãos no cinturão de campeão da WWE.
O Samoan Spike que calou John Cena acerta a garganta de Cody mais uma vez. Kick out. Solo e Reigns acerta o combo de spear e samoan spike.
Kick. Out.
Será que iam ter que puxar a Glock para Cody Rhodes? Não deu tempo.
A festa
A mesma voz que foi calada pelo Samoan Spike aparecia agora no lugar que tantas vezes foi consagrada: John Cena estava de volta ao Main Event da WrestleMania depois de 11 anos.
Ele neutraliza Solo, mas havia outra pessoa com ele, 11 anos atrás, que também gostava de um Main Event.
The Rock, o Final Boss, vem ao ringue.
É muito interessante ver o contraste entre Rock e Cena. Enquanto o pacificador parece ficar mais magro e esguio com o passar dos anos, Rock parece só crescer, sem sinais de querer parar de ser gigante.
O rock bottom era inevitável. Mais uma história concluída, dentre tantas que já se cruzavam. Contudo, The Rock ainda queria finalizar aquela barata que ele atordoou no main event da noite 1.
Cody estava no chão e The Rock trazia à mão seu cinto, o mesmo cinto que ele sujara de sangue no Raw, quando humilhou Rhodes. O mesmo cinto que ele acertou nas costas de Cody para mudar a história da noite anterior.
Estava tudo em suas mãos, até que… Sierra, Hotel, India, Echo, Lima, Delta.
Aquilo nunca havia tocado no Main Event. Apesar da música em si já ter dado o ar da graça, vinha através de Roman Reigns.
Mas não era possível que a Shield, a Shield completa viesse para parar o chefe da tribo, para matar o monstro que ela mesma criou.
Só Seth Rollins, que prometera ser o escudo de Cody contra a Bloodline, aparecia para fazer exatamente isso.
Não conseguiu uma ofensiva, mas distraiu Rock e Reigns tempo o suficiente.
The Rock novamente estava preparado. Então algo que ninguém esperava aconteceu.
A morte
Especulava-se que Stone Cold pudesse aparecer, por conta de sua rivalidade pregressa e histórica com Rock. Mas as trevas que se aviltavam contra a luz dos relâmpagos do final boss eram mais fortes que qualquer cobra do Texas.
Undertaker apareceu.
Então o homem que, desde sua aposentadoria na WrestleMania 36, na Boneyard Match, não aparecia no ringue da WrestleMania para fazer o que, durante 20 anos, ele fez melhor que ninguém: capturar almas.
A alma da vez foi alguém que ele nunca enfrentou na WrestleMania, mas que ele conhece muito bem. Final Boss, lembre-se de quem é, de fato, o último level da WWE. Lembre-se de Undertaker.
Ele some, Reigns e Cody e Seth estão no ringue. Dessa forma, as crianças já se alimentaram muito bem, esquecendo dos problemas, esquecendo de tudo.
Todos só queriam o fim de uma história, inclusive Roman Reigns. Tantas vezes traído com a mesma cadeirada nas costas, ele não podia ir embora sem sua vingança. Escolhendo acertar Seth ao invés de Cody, Roman sela seu destino.
Cody Rhodes tem tempo de se recuperar e reverter o Spear. Finalmente, era hora do último Cross Rhodes dessa rivalidade.
A última estrada
Esse final de semana eu estava conversando com minha esposa sobre menino maluquinho, por conta da morte do gênio Ziraldo.
Falávamos sobre o fim da série Um Menino Muito Maluquinho da TV Cultura onde, no último episódio, passado, presente e futuro se encontravam na praia, por alguma casualidade da vida.
Três maluquinhos viam a existência diante de seus olhos, uma mais inocente, a outra descobrindo-se e a outra tentando encontrar o significado perdido.
Três estradas que levam para o mesmo caminho: o fim.
O Fim
Finalmente, Cody Rhodes tinha Roman Reigns nos braços pela última vez. Três era o número mágico para derrotar o Tribal Chief. A tríade de Cross Rhodes que finalizaram Seth, Lesnar e Nakamura agora finalmente chegava à linha final, para vitória ou derrota.
Um! O primeiro era para seu pai, um dos maiores lutadores da história da Luta Livre estadunidense. Dusty Rhodes, que representava o sonho americano, havia encontrado o sono eterno antes de ver seu filho campeão. Ali, Cody não podia ver o pai, mas tentava manter a promessa pela alma de seu herói, como um Hamlet atormentado. Era o passado dando tchau ás margens de um novo mar.
Dois! Aquele era por sua mãe, que foi força motriz dessa storyline, que foi alvo de The Rock, obsessão do Final Boss para que a humilhação fosse completa. Era dela o sangue que Rock, finalmente, quis derramar. Quando um filho sangra a mãe sangra também. Aquele segundo Cross Rhodes era dela.
Três! Bem vindos ao futuro, Cody Rhodes é o novo campeão da WWE. O homem que já foi lindo, horrível, lacaio, estrela, membro de gangue, agora é simplesmente o homem. O último Cross Rhodes é para Cody Garrett Runnels Rhodes, que viveu cada glória e cada humilhação. Para o único homem que sabe a alegria ou o peso de ser o pesadelo americano. Para aquele que ama sua esposa e filhos, que teve de sair e que teve de voltar. A contagem final era para ele.
Havia alegria no parquinho.
Somos todos crianças
E então viveram felizes para sempre. É isso que queremos ouvir, na nossa mente infantil, ao fim de cada história. Mas o homem azul já avisava que nenhuma história termina de verdade. Elas mudam, evoluem, mas nada NUNCA termina.
Talvez Cody tenha finalizado um ciclo, mas não uma história. Do mesmo jeito que a história de Dusty Rhodes nunca acabou, mas segue viva através dos filhos e do legado.
Da mesma maneira, Roman Reigns ainda tem histórias, The Rock ainda tem histórias, toda a Bloodline, apesar de derrotada, ainda existe.
Nada nunca acaba, crianças. Contudo, para nós, parados tão pequenos frente a este palco dos absurdos, parece ser o fim. Os créditos sobem, esta na hora de dormir agora, crianças.
Está na hora de sonhar de novo.