É muito difícil dizer adeus para alguém que gostamos, pois nada pode acalmar o sentimento de saudade quando aperta nossos corações. É uma mistura de tristeza, por saber que as alegrias do passado nunca mais voltarão, com a felicidade de justamente ter vivido esses momentos inesquecíveis em nossas vidas. Um sentimento tão devastador, que várias horas depois você ainda não consegue esquecer o ocorrido, como se você tivesse dentro de um pesadelo que a qualquer hora irá acabar, até você se dar conta de que tudo aquilo é cruelmente real e você terá de se achar uma forma de viver com aquele vazio. Foi o que ocorreu no último Raw, com a despedida dos ringues de Daniel Bryan.
Você pode ser novo no mundo da luta livre e não conhecer a carreira desse incrível lutador, mas saiba que muita coisa aconteceu antes dele finalmente se consagrar com um dos melhores lutadores da atualidade. Se na WWE ele era Daniel Bryan, um “bode” azarão, nas indies ele era Bryan Danielson, um verdadeiro “dragão americano”. Uma presença tão majestosa dentro do ringue, com um complicado acervo de golpes e movimentos técnicos, sendo um dos responsáveis por definir o cenário independente de wrestling como um local do mais puro talento e inovação. Fez história em várias federações pelo mundo todo, lutando com nomes que definiriam a nova geração de wrestling profissional e que pouco a pouco seguem o mesmo caminho de Bryan se destacando nas big leagues.
O destaque que teve no underground o levou em 2010 a fazer parte do NXT, show com o formato totalmente diferente do que conhecemos ultimamente. Ele teve de abandonar o nome de Bryan Danielson para então se tornar Daniel Bryan, e teve que se adaptar ao modelo familiar de luta da WWE. Porém, ele nunca vendeu sua alma para o monopólio corporativo dos McMahons, o dragão continuava intenso dentro de seu coração. Mesmo no NXT, realizou grandes combates contra lendas como Chris Jericho e seu treinador no começo de carreira, William Regal. Era o presságio de uma verdadeira revolução que D-Bryan faria em um ambiente totalmente padronizado por lutadores moldados somente para lucrar, padrão esse que o lutador definitivamente não se encaixava.
Por não fazer parte desse estereotipo do que a WWE define como “lutador perfeito para a empresa”, Bryan muitas vezes teve seu talento subjugado. Nunca pelos fãs, devo salientar. O público sempre via no lutador um símbolo, uma inspiração, um representante dos seus próprios sonhos. Ele lutava contra todas as probabilidades, obstáculo após obstáculo, fazendo com que o carisma que tinha com os fãs aumentasse a cada show. Com esse apoio cada vez mais concretizado, ocorre a explosão do “Yes! Movement”.
Vocês querem que a WWE dê mais espaço para Bryan? Yes! Vocês querem vê-lo campeão? Yes! Vocês apoiam Daniel Bryan, mesmo não sendo “bom para os negócios”? YES! YES! YES! A figura do lutador se tornou tão grande quanto à própria empresa. Os gritos chamando por Daniel Bryan ecoavam em todos os momentos, ele era parte de lutas que nem mesmo participava diretamente. Esse suporte dos fãs foi crucial para que ele alcançasse o maior prêmio de sua carreira: o WWE World Heavyweight championship no Wrestlemania XXX. Bryan tem milhões de outros momentos épicos no wrestling, mas nada se compara com conquistar o título máximo da empresa no main event do maior palco de wrestling profissional do mundo. A plateia foi à loucura, tanto na arena quanto em suas casas, aquele momento se tornou o Yestlemania! Dentre esses vários fãs alucinados com a vitória de Bryan, destacou-se um jovem garoto, Connor “The Crusher”, mostrando que os lutadores podem se torna verdadeiros herois em um mundo que necessita tanto deles.
A carreira de D-Bryan foi esplêndida, mas infelizmente tudo tem seu fim, e quase sempre não o fim que gostaríamos. Quem não levou um susto quando na tarde de ontem (08/02), o wrestler tweetou em seu perfil oficial a notícia de sua aposentadoria? Não podemos dizer que essa notícia era inesperada, as várias lesões que o lutador teve nos últimos tempos anunciava um futuro que todos os fãs tentavam não pensar. Mesmo assim, foi um golpe muito duro saber que um lutador tão talentoso como ele teve que encerrar uma carreira gloriosa tão precocemente. A esperança do ressurgimento de Daniel Bryan nas lutas era algo ainda muito vivo entre os fãs, até tudo se apagar diante de nossos olhos com seu discurso final.
A promo no começo do Raw, e as várias recordações que ocorreram durante o programa, enunciavam o que viria ser aquela despedida. Uma cena emocionante de se ver, chegando a ser até inacreditável de acreditar. Daniel Bryan descia a rampa e subia aquele ringue pela última vez como lutador, para sair depois daquela noite como uma lenda. Desde sua entrada era nítido sua tristeza em ter de fazer aquilo, mas era realmente necessário. Porém, com todo seu carisma com o público, ele achou a melhor maneira de dar aquela notícia que ninguém queria ouvir. Logicamente, isso não amenizou a total tristeza que todos sentiam, mas ao menos deixou uma última linda memória de sua carreira para todos nós.
Daniel Bryan é o exemplo de como os wrestlers se esforçam para trazer o melhor espetáculo possível para o público. Seu caminho foi repleto de lesões, concussões e machucados, várias cicatrizes de verdadeiras batalhas que ele se colocava à prova sobre um ringue. Até chegar o dia em que seu corpo suplicou por descanso, antes que fosse tarde demais. Ele vai deixar uma grande lacuna na história do wrestling daqui pra frente, poucos lutadores alcançarão o que ele alcançou. Sim, essa é a mais pura verdade. Mas calma, temos que sempre lembrar que a alma do dragão estará eternamente viva dentro de nós, e isso ninguém poderá tirar. Temos de continuar assistindo as clássicas lutas de seu passado e reverenciá-lo como uma lenda viva da nossa geração. E claro, sermos gratos, por tudo.
Obrigado Daniel Bryan!