A WWE oficialmente chegou à Netflix. Com um grande catálogo disponível e a transmissão do Raw chegando ao vivo na plataforma a partir do dia 6 de janeiro é certo que novos públicos ficarão curiosos sobre a empresa de Stamford e também em relação a luta livre como um todo.
Se você é uma dessas pessoas, seja bem-vinda!
Neste texto, nós do WrestleBR explicaremos sobre como funciona o Pro Wrestling, majoritariamente o modelo aplicado pela WWE.
Além disso, falaremos sobre o eminente ‘fim de temporada’ que nos aguarda nesse começo de ano e como a empresa constrói suas histórias.
Em relação à transmissão e o catálogo da WWE na Netflix, a própria plataforma de Streaming lançou um texto detalhado que você pode conferir aqui.
Já podemos adiantar por aqui que esse será um conteúdo extenso, portanto esteja preparado, faça breves pausas e volte sempre que for necessário.
Vale lembrar também que este não é um texto que vai explicar sobre a história da WWE em si, mas sim o seu funcionamento. Caso seja da vontade dos leitores, este texto pode acontecer no futuro.
Sem mais delongas, vamos adentrar o mundo da luta livre, começando com a pergunta mais básica de todas.
O que é a Luta Livre?
Luta Livre (ou Pro Wrestling, uma abreviação de Professional Wrestling) é um tipo de prática esportiva que mistura técnicas de combate com teatralidade para contar histórias dentro de um ringue ou espaço delimitado.
– Então é falso?
Se por ‘falso’ você quer dizer que os resultados são pré-determinados, então sim. A luta livre é tão falsa quanto a novela das 8, um filme ganhador do Oscar ou um gibi da turma da Mônica; da mesma forma, ela consegue ser tão divertida, impactante ou leve quanto qualquer uma dessas formas de entretenimento.
Além disso, o termo ‘falso’ não seria o mais adequado, uma vez que atletas realizam os movimentos ao vivo, sem ensaio prévio do combate e sem que o público saiba o resultado, o que é uma das características mais interessantes desse tipo de prática esportiva.
As lutas não são como peças teatrais que são reencenadas e, a medida do possível, reproduzidas toda noite da forma mais competente e similar possível. Cada luta – nós os chamaremos assim pois, na lógica do programa, tem esse caráter – é única e conta sua própria história por meio de golpes, desde os mais básicos até os mais perigosos e complexos.
Tá, mas se isso é a luta livre, o que é a WWE?
O que é a WWE?
A World Wrestling Entertainment (anteriormente World Wrestling Federation) é uma federação de luta livre que, atualmente, atua sobre o guarda-chuva da TKO, que também é dona do UFC.
Há décadas a WWE produz programas semanais que misturam a prática do Pro Wrestling com um tipo de produto televisivo serializado que muito se assemelha a transmissão esportiva como a vista no futebol americano, MMA e Boxe, mas que contém elementos cinematográficos, pirotecnia e outras formas de narrativa que você pode encontrar em filmes, séries ou outros produtos do áudio visual.
Para você ter uma ideia, o Monday Night Raw, programa principal da empresa que será transmitido ao vivo pela Netflix a partir do dia 6 de janeiro, está no ar a mais de 30 anos ininterruptos!
Isso não significa que você precise ir ao catálogo da empresa e assistir a programação desde o começo.
O maravilhoso deste programa é que você, bem como em qualquer outro esporte, pode começar a assistir quando quiser e provavelmente irá se divertir da mesma forma, tanto pela natureza arquetípica de vilões e heróis facilmente identificáveis, tanto nas lutas quanto no restante do programa, mas também pelo próprio esforço da WWE em trazer resumos e no trabalho de recapitulação feito pelos comentaristas.
Mesmo assim, o dia 6 de janeiro é provavelmente um bom ponto de entrada, uma vez que a companhia já espera esse tipo de fluxo e estará orientada para familiarizar um público ainda não cativo.
Além do Raw, a WWE possui outros dois programas semanais: SmackDown e NXT. O programa da marca azul, SmackDown, foi praticamente idealizado pelo The Rock e vai ao ar toda sexta-feira e foi por muitos anos o principal show semanal da WWE. Já o NXT é como se fosse a categoria de base da empresa, um verdadeiro show de desenvolvimento de novos personagens, para que estes um dia sejam convocados para o main roster, composto pelo Raw e SmackDown.

Enfim, agora você já sabe como funciona a luta livre e, mais importante, como ela é usada pela WWE. Agora que você já foi iniciado, vamos falar um pouco sobre a luta em si e alguns termos que é provável que você ouça não só na programação, mas também ao buscar mais material para ler sobre PW (Pro Wrestling) na internet a fora.
Lutas, regras e termos comuns.
Primeiramente é preciso dizer que o que será explicado aqui é a forma como a WWE costumeiramente organiza seus combates e algumas variações que a empresa apresenta ao público.
A luta livre como prática está espalhada pelo mundo e possui as mais diversas interpretações, regras e formas de organização – inclusive aqui no Brasil.
De qualquer forma, quando se fala da WWE, as regras mais comuns são as explicadas a seguir. Lembrando que é muito comum no mundo da luta livre que os combates sejam chamados de ‘matches’, palavra que seria traduzida como ‘partida’, mesma coisa que acontece no futebol.
Junto com as explicações das regras, quando possível, teremos vídeos para exemplificar.
Regras de um combate singles (individual)
O conceito em inglês singles match é dado para um combate individual, isto é, aquele combate simples entre dois oponentes.
Em casos de lutas um contra um, o combate pode acabar das seguintes formas:
- Pinfall: Este movimento consiste em prender os ombros do oponente no solo do ringue para uma contagem de 3 do juiz. Ele pode ser aplicado das mais variadas formas, desde a mais simples até as mais mirabolantes. O importante é que ambos os ombros do adversário estejam colados ao ringue. Em lutas comuns é preciso que essa contagem ocorra dentro do ringue e que nenhum dos lutadores estejam com quaisquer partes do corpo encostando ou embaixo das cordas, área ‘fria’ do ringue onde os lutadores teoricamente não podem lutar. Em algumas variações de luta o pinfall pode ser feito em qualquer lugar, mas geralmente isso é avisado ao público antes da luta. Além disso, esse é um elemento usado na narrativa dos lutadores no ringue, tanto para que o ‘mocinho’ se salve quanto para que o ‘vilão’ roube.
- Submission (ou submissão): Se assemelha a finalização do MMA. Geralmente consiste em uma chave aplicada ao adversário que o coloca em tamanho estado de dor ou incapacitação que ele se vê obrigado a desistir, geralmente sinalizado pelo tap out (movimento de bater com a palma da mão três ou mais vezes no tablado ou corpo do oponente). Em certas ocasiões o lutador pode ser levado a nocaute por esse tipo de chave e, mediante checagem, o juiz também pode decidir finalizar à luta. Bem como no exemplo anterior, as cordas são o terreno de salvação do lutador. Ao alcançar esse limite do ringue, o lutador prejudicado se salva e aquele que aplica a chave tem até 5 segundos para soltar o adversário, sob pena de desqualificação caso não o solte a tempo.
- Desqualificação (ou DQ): Um ou ambos os lutadores podem ser desqualificados de um combate caso descumpram alguma regra como não soltar o adversário após contagem de 5 segundos nas cordas ou devido a algum golpe baixo, geralmente aplicado nas partes intimas do adversário. Movimentos como mordidas, puxões de cabelo, dedo no olho e variações também são proibidos, mas geralmente os juízes são mais brandos com essas práticas, sendo aplicadas somente advertências verbais. Objetos são proibidos, sendo os mais comuns cadeiras – aquelas dobráveis de bar – bastões de kendô, soco inglês ou qualquer objeto dessa natureza. Da mesma forma é banido qualquer tipo de substância em spray ou que seja cuspida pelos lutadores (essas que são conhecidas como mists). Também é proibida a interferência física de qualquer outro lutador ou indivíduo na luta, sendo, nesta situação, o lutador beneficiado pelo ataque corporal punido com a desqualificação. Alguns lutadores levam companhia ficar do lado de fora do ringue – os chamados managers que podem ou não serem lutadores em atividade –, mas estes também estão proibidos de interferirem na luta, apesar da punição do juiz por vezes ser a expulsão dessas pessoas caso haja a tentativa de interferência ao invés de um DQ direto. A desqualificação, a depender da situação, pode ser dada para ambos os lados, acabando assim e empate, para casos em que não houver um beneficiário só da situação ou que a regra não esteja clara.
- Count-Out (contagem): Esse é o nome dado a quando o lutador excede o limite de tempo que ele pode ficar fora do ringue. Dentro da WWE o tempo limite padronizado é de 10 segundos. A regra também pode ser aplicada a ambos os lutadores caso eles fiquem fora do ringue ao mesmo tempo. Nesse último caso, dá-se uma dupla contagem.
- No Contest (um tipo de empate): Esse é, em suma, o nome dado quando algo muito fora do comum acontece e não é possível decidir um resultado claro para a luta, como são alguns casos de DQ.
- Referee Stoppage (interrupção pelo juiz): Em casos de lesão ou que alguma das partes esteja impossibilitada de continuar, o juiz pode decidir parar o combate sob a justificativa de preservar a saúde e o bem-estar dos lutadores.
- Time Limit Draw (empate por limite de tempo): Nome autoexplicativo. Embora na WWE seja muito raro, ainda mais em shows semanais, é importante deixar registrado que essa regra existe. A empresa em si não estipula um tempo limite para as lutas, apesar do limite de 30 min ser bem comum na luta livre. Em casos que exista esse limite, o juiz para a luta uma vez que nenhum dos lutadores conseguiu a vitória dentro do período estipulado. Poderia também entrar em no-Contest, mas como é uma regra mais fácil de identificar, geralmente se dá essa classificação.
Ufa, quanta coisa. Contudo, já está bem mais fácil de entender como uma luta comum funciona, ainda mais com os exemplos.
Mas e quando a luta não é 1 contra 1, como funciona? Vamos ver as variações.
Duplas, trios e o resto da galera
Na luta livre existe uma infinidade de variações de combate. Por enquanto vou mostrar aqui como, dentro dos limites das regras comuns, o número de pessoas dentro de uma luta pode variar.
- Luta de duplas/trios/etc.: As mesmas regras ser aplicam neste caso. Entretanto, existem mais algumas normas para o funcionamento da luta quando se luta em duplas, trios ou qualquer uma dessas variações, de acordo com a lógica aplicada na WWE. Primeiramente, somente dois lutadores podem ficar no ringue por vezes. Ou seja, situação de um contra um. Os combatentes podem trocar com seus companheiros através de uma batida na mão ou em qualquer parte do corpo, movimento costumeiramente chamado de “fazer a tag” (tradução quase literal de make the tag). Neste momento o lutador que sai do ringue pode ficar até 5 segundos dentro do ringue junto de seu companheiro. Essa regra costuma ser branda para não prejudicar o andamento da luta, mas ainda assim vai depender muito de cada situação.
- Lutas entre três ou mais lutadores: Neste tipo de luta as regras básicas de pinfall e Submission ainda se aplicam, mas não existem mais DQ ou Count Out, uma vez que, caso um lutador seja desclassificado, não é possível dar a vitória para os outros dois ou mais; além disso a WWE não costuma trabalhar esse tipo de luta no regime de eliminação, o que leva o lutador que “faz o pin” (abreviação de pinfall) ou aplica a submissão a ganhar o combate todo e não só eliminar aquele oponente. Em situações que isso varia, será dito pelos anunciadores ou pelos comentaristas do show, portanto não se preocupe. Na WWE, um combate triplo é chamado de Triple Threat (ameaça tripla), e acima disso será chamado de Four Way (quatro vias), Five Way e por aí vai. Raramente esse número ultrapassará Six Way, mas nunca diga nunca.
- Battle Royal: Às vezes traduzido aqui como ‘batalha campal’, esse tipo de luta não possui nenhuma das regras anteriores e é geralmente disputada por uma quantidade maior de lutadores. Neste caso a regra demanda que os lutadores eliminem seus adversários os atirando por cima da terceira corda, sendo a eliminação perpetuada quando o lutador tocar com os dois pés no chão. Se você é um aluno aplicado, já está se coçando para ler sobre a Royal Rumble aqui, mas não se preocupe, ela terá uma seção própria.
Acredito que, dentre as categorias de lutas mais ‘regradas’ estas sejam as mais comuns. Isso nos leva para o próximo tópico: as chamadas lutas com estipulação.
Lutas com estipulação
Caso você procure algum vídeo de melhores momentos da WWE, é certo que veja cenas mais impressionantes para além das já vistas nos combates comuns. Estas podem acontecer em combates de estipulação, onde as regras são atiradas pela janela e outro conjunto de delimitações e formas de ganhar são decididas para aquele combate.
Veja algumas mais comuns aqui:
- Hardcore/No Holds Barred/No DQ/Etc.: Este tipo de luta se caracteriza pela falta de limites, uma vez que permite que os lutadores podem usar objetos e agir com mais violência contra os outros. Os nomes diferentes podem significar coisas diferentes também, uma vez que algumas lutas tiram a desqualificação, mas mantém a contagem para fora do ringue e a delimitação da área ‘fria’ do ringue como as cordas e outras tiram todas essas regras. Existe inclusive um tipo de luta dessas que, além de não ter estipulação é dita como ‘Falls Count Anywhere’, o que, em tradução livre, pode significar, Decisão em qualquer lugar, o que significa que o pinfall ou a submissão pode levar ao fim do combate mesmo que aplicada fora dos limites do ringue.
- Ladder Match (ou luta de escadas): Como o próprio nome diz, neste tipo de luta usam-se as escadas para chegar até o objeto alvo da luta, geralmente um cinturão. Outras lutas como a Money In the Bank são basicamente uma luta de escadas em que os lutadores precisam pegar uma maleta que fica no alto, mas falaremos sobre essa luta mais para frente. Outra variação deste tipo de combate de escadas é conhecida como TLC (Tables, Ladders and Chairs ou, em português: mesas, escadas e cadeiras), em que, além do objetivo comum da luta de alcançar os objetos da vitória no alto da escada, estão presentes estes outros objetos para causar mais caos e violência no combate.
- Steel Cage/Hell In a Cell (lutas na jaula): Estes são os tipos mais comuns de luta na jaula presentes na WWE, apesar de existirem variações mais raras como a Punjabi Prison e a Lion’s Den, para dar um exemplo. Mas falando sobre a Steel Cage match: é uma luta em que uma jaula sem teto circunda o ringue, formando paredes maiores que os limites da terceira corda. Geralmente o objetivo desta luta é que o lutador escape da jaula, seja escalando suas paredes ou saindo pela porta. O lutador alcança a vitória quando ambos seus pés tocam o solo fora do ringue. Depois de um tempo também foi inserido um juiz dentro do ringue, permitindo que a vitória seja conseguida através dos meios comuns de pinfall e Submission. Já a Hell In a Cell é uma variação desse tipo de luta de jaula, onde uma estrutura de ferro mais larga, de 6 metros de altura e com teto, é colocada ao redor do ringue. Esse combate costuma ser mais violento e a vitória é conseguida pelos meios comuns de Submission e pinfall, apesar desta luta já ter acabado em ‘no Contest’ algumas vezes devido a outros fatores. Além disso, apesar da jaula da Hell in a Cell em si ser uma estrutura feita para que os lutadores não escapem, não é incomum que os combatentes acabem saindo das quatro paredes da estrutura e escalando o lado de fora para lutar no teto.
- Submission/I Quit: esse tipo de luta consiste em fazer o oponente desistir. Geralmente a luta de submissão não tem desqualificação e o único jeito de ganhar é fazendo o oponente desistir. A ‘I Quit’ é uma variação deste tipo de combate, só que mais violento e não envolve diretamente a técnica das chaves. O objetivo deste combate é fazer com que seu oponente diga as palavras ‘I Quit’ de qualquer forma possível – geralmente é por meio de muita violência, mais que o costumeiro. O combate não tem limites de tempo, regras ou local delimitado e pode acabar em qualquer local da arena.
Logicamente, estas não são todas as estipulações que existem, pois a luta livre é uma prática muito variada e novos formatos são criados dependendo da rivalidade que o programa quer impulsionar ou da história a ser contada. Contudo, tendo esse conhecimento básico fica fácil identificar grande parte dos combates que você verá nos shows semanais da empresa.
Agora vamos para além dos shows semanais. Chegou a hora de entender de que forma a WWE constrói suas histórias dentro do ringue.
Golpes, finalizadores e outros termos sobre WWE
Para entrar nesta parte da explicação iremos começar pelo básico dos básicos. Os lutadores estão no ringue, soa o gongo. O que eles fazem? Aí vai depender do estilo de cada lutador e das características de cada personagem.
Você, bom expectador que é, logo irá perceber que cada um daqueles atletas possui um jeito de bater, de correr e uma lista de golpes que lhe são comuns. Isso é chamado dentro da luta livre de moveset, que basicamente consiste no plantel de golpes que cada lutador tem por preferência.
Usando como exemplo, os golpes de cada lutador são como os poderes de um personagem de MOBA. Geralmente são os mesmos, possuem intensidades diferentes, mas a depender do momento que são usados tem impacto diferente nas lutas.
Por essa razão, socos, tapas e chutes mais comuns são os movimentos básicos de cada lutador. Depois disso, eles possuem movimentos que vão aumentando o grau de complexidade como o slam e o suplex. Estes são golpes que também possuem uma grande quantidade de variações, mas que consistem em atirar o oponente contra o solo.
O Slam geralmente passa pelo movimento de atirar o oponente no chão, costumeiramente de costas, após levantá-lo acima da cabeça de quem está aplicando o golpe.
O Suplex também possui essas características, mas é um movimento em que o contato é maior e que depende também do uso do peso corporal de quem aplica, tendo dinâmicas de alavanca e contrapesos que dependem muito da habilidade e não tão somente da força.
Caso você busque um detalhamento maior de cada movimento de ataque destes tipos, essa Wiki possui um guia bem completo com nomes e descrições.
Além disso existem as submissões, das quais já falamos um pouco aqui. Elas variam de complexidade, indo de uma torção no braço até múltiplas torções em várias partes do corpo, explorando as variações mais estranhas que são permitidas pela anatomia.
Ademais, existem os saltos, que também podem receber o nome de ‘dive’ em algumas narrações. Eles podem ser realizados com o auxílio das cordas ou das quinas do ringue – os famosos corners – e podem ser tanto golpes originais quanto variações de golpes que o lutador já realizaria de pé.
Quando um golpe normal é aplicado de cima das cordas, geralmente é usado o sufixo avalanche ou super para nomear o golpe. Exemplos disso são Superplex, Avalanche Powerbomb etc.
Signatures e finalizações
Esses costumam ser os movimentos mais poderosos de cada lutador. Apesar disso, é importante salientar que esses termos são mais usados pelos fãs para designar o movimento do que pelos comentaristas ou pelos lutadores em si. Contudo, é fácil identificar o “Signature” ou finalizador (que também pode ser chamado de “finisher”) de cada atleta.
Geralmente o signature é um golpe usado em momentos mais avançados da luta e sinaliza que o combate está chegando ao final. Se você estiver familiarizado com os jogos de luta livre, também é o golpe que te permite aplicar um finalizador depois, dinâmica essa que foi aplicada nos vídeos games justamente por seguirem essa lógica na prática esportiva.
Quanto ao finalizador, ele é, geralmente, o golpe mais forte do lutador, usado para acabar com a luta. É comum que o combate encontre seu fim após um dos lutadores aplique tal golpe, mas não é uma regra e muitas lutas têm vários finishers.
Inclusive, até por uma questão de variedade, alguns lutadores têm mais de um finalizador ou alternam entre um finalizador e uma submissão. Outros são fiéis a um só golpe que, às vezes, são tão famosos quanto o próprio lutador.
Alguns exemplos são o RKO, de Randy Orton e o Stunner de Stone Cold Steve Austin.
Já seguindo estes dois exemplos, o finalizador pode ser qualquer tipo de golpe. Desde um soco bem dado na cara como era o finalizador de Big Show ou o Samoan Spike de Solo Sikoa e Umaga – uma pancada com o polegar na garganta do adversário – passando por saltos como o Frog Splash, Samoan Splash ou o Shooting Star Press, indo até as submissões como o Disarm-her, o Figure 4 Leg Lock e o Sharpshooter.
O interessante é que esse tipo de golpe traz muita emoção a luta, já que é ele que sinaliza para o telespectador que o combate está perto de acabar ou mostra a resistência do oponente que consegue não sucumbir após tomar esse golpe.
Lembrando que, como a luta livre é uma forma de expressão ao invés de uma luta, todos os golpes em cima do ringue são usados para contar a história daquele combate, mostrar quem tem a vantagem, como essa vantagem pode virar e como os lutadores usam seus atributos físicos e personalidade para reverter marés de azar ou subjugar seus oponentes.
E além do mais, os golpes costumam ser muito bonitos e impactantes, então essa já é uma vantagem por si só.
Uma palavrinha sobre “Botch”
Antes de falar dos personagens e das histórias, gostaria de falar um pouco sobre esse termo que é ostensivamente usado e difundido por analistas e entusiastas desta forma de expressão artística.
O botch se caracteriza como um erro cometido por um ou mais lutadores na execução de um golpe ou de uma sequência – que também pode ser chama de spot algumas vezes -, o que leva a uma quebra de ritmo, ou a uma súbita ‘pausa’ na suspensão de descrença na qual o espectador se envolve para consumir o produto e, em alguns casos, a lesões nos lutadores. Tais lesões podem variar de algo simples até a lesões gravíssimas, dada a natureza atlética e intensa da prática.
Eu reservei estes parágrafos para falar sobre o botch porque, como nós estamos aqui em pé de igualdade e nos familiarizando ainda, acho que é uma oportunidade para deixar algumas coisas claras.
A princípio é bom salientar que nenhum lutador botcha de propósito. Se ele fingiu que errou um golpe ou simulou um botch, logo ele não o é, por definição. Todos os atletas da WWE são treinados e passam por rotinas regradas de trabalho de ringue, fortalecimento físico e preparo para as apresentações, de modo a evitar ocorrências desse tipo e assegurar o bem-estar de si e do outro.
A luta livre é uma forma de prática coletiva, em que os atletas precisam se proteger e proteger o outro. Logo quando o botch acontece, não só é gritante para quem assiste, mas perigoso para quem pratica, podendo levar a consequências graves, tanto na saúde, quanto na carreira dos lutadores.
Existem programas que satirizam essas ocorrências, como o famoso Botchamania e transformam esses deslizes em algo divertido de assistir até. Contudo, tornou-se comum na internet condenar o botch como um pecado gravíssimo e abominável.
Então somente gostaríamos de deixar registrado que os botches, por mais que se busque evitá-los e seja feito este trabalho de treinamento, são relativamente normais. Todo mundo é passível de erros e cometer uma gafe no ringue não transforma o atleta no pior lutador do mundo, da mesma forma que não errar não te transforma no melhor – até porque normalmente quem corre menos riscos é porque faz coisas menos impressionantes.
Lógico que a recorrência de erros acaba demonstrando que alguma coisa não está em harmonia, seja entre os lutadores, seja individualmente, e nesse caso, a cobrança e a análise, aí sim, são justas.
Kayfabe
Este é um dos termos mais importantes da luta livre e é algo que serve não só para delimitar a suspensão de descrença de quem assiste, mas também orientar os próprios limites e ações dos atletas que estão interpretando os personagens.
Basicamente, a Kayfabe, parafraseando o dicionário de Cambridge em uma tradução livre, é um termo usado para descrever a ilusão de que o Pro Wrestling é real (dentro dos parâmetros descritos anteriormente)
Logo, quando você ouvir a palavra kayfabe, ela envolve todo o esforço que os profissionais da área, seja qual for sua função, empenham a fim de sustentar a suspensão de descrença do telespectador, além de delimitar o que está “dentro do roteiro” e o que não está.
Por exemplo, algumas lesões são Kayfabe e os lutadores não estão machucados de verdade, mas precisam se ausentar por algum motivo de calendário, outros compromissos etc. É como matar um personagem porque um ator não quer mais interpretar o papel, só que não tão drástico, pois a luta livre traz uma camada a mais nessa construção de personagens.
Inclusive, dentro do léxico da luta livre, se usa muito o termo shoot como um contraponto ao kayfabe. Se o último está dentro do mundo da fantasia, o primeiro é aquilo que extrapola essa linha e traz elementos reais para dentro da programação, como as famosas shoot promos.
Enfim, é difícil definir às vezes o que é e o que não é real, mesmo que hoje em dia a kayfabe não seja protegida como em décadas de outrora. Tempos atrás, lutadores realmente tentavam fazer parecer, na medida do possível, que aquilo era um esporte real na concepção competitiva não subjetiva da coisa ao invés de parte de uma prática teatralizada.
Diante do exposto, você agora já sabe como funciona uma luta, como os lutadores podem construir combates variando os golpes, e o que são os Signatures e finalizadores. Então já que falamos da forma, vamos falar agora do conteúdo: quem são esses lutadores e por qual motivo eles estão lutando, afinal?
Lutadores, títulos e eventos
Primeiramente, já deixo aqui o link para o roster da WWE. Ou seja, clicando ali você pode ver quem são os lutadores que compõem o plantel da empresa e quais títulos cada um tem, além de ter acesso a informações adicionais sobre outros personagens como comentaristas, entrevistadores e managers.
Sabendo quem são os lutadores e lutadoras, vem a pergunta: pelo que eles lutam?
E a resposta é na verdade que depende. Depende da história daqueles personagens e da popularidade de cada atleta, além do objetivo que a empresa tem para cada um.
Os alvos mais óbvios de serem seguidos dentro da WWE são os títulos. Cada brand (ou programa) tem seus títulos, consistindo, geralmente, em um título mundial, um título secundário – também chamado de midcard, termo que já abordarei – e um título de duplas. Isso se aplica tanto ao roster masculino quanto ao feminino, maneira que a WWE divide seu plantel de lutadores, apesar de algumas intervenções ocorrerem de vez em quando; a lutadora Chyna, por exemplo, já foi campeã Intercontinental e Nia Jax, ex-campeã feminina da WWE, já participou da Royal Rumble masculina.
Voltando ao tópico, eu usei ali em cima o termo midcard e você deve estar se perguntando “o que diabos é isso?”. Esse termo é usado geralmente por quem fala sobre luta livre para categorizar os lutadores que não estão entre as prioridades da empresa. No topo da empresa você tem os “main eventers” – ou seja, lutadores que estão nos eventos principais da WWE.
Para exemplificar melhor, usaremos os títulos masculinos que atualmente estão no Raw: o título mundial de pesos pesados (World Heavyweight Title) e o título intercontinental (Intercontinental Title). Aliás, não se apeguem muito a essa posição, pois é bem comum e nesse caso até mesmo provável que os títulos mudem de show.
O World Heavyweight atualmente é carregado pelo lutador Gunther, que, no presente momento, é um vilão – estes também podem ser chamados de heel ou, como é do léxico da luta livre brasileira, base.
Como campeão mundial ele é, teoricamente, o lutador mais importante daquela marca e tem a obrigação de defender seu cinturão. Isso significa que ele é o único lutador de calibre “Main Event” no plantel do Raw? De forma alguma. Outros lutadores tão importantes quanto ele está ativo no roster e participam de outras rivalidades, seja para chegar ao título mundial ou para resolver problemas pessoais com outros lutadores.
Já o título Intercontinental está nas mãos de Bron Breakker, um lutador de menos tempo de Pro Wrestling, mas que já tem importância o suficiente para carregar um título que, apesar de não ter o peso do cinturão mundial, ainda é um troféu de grande prestígio.
Ele geralmente disputará esse título com lutadores que estejam no mesmo nível que o dele ou lutadores que já tiveram mais importância e agora ajudam a desenvolver o show em lugar de menos destaque.
Tudo que foi dito aqui pode ser aplicado ao plantel feminino que, enquanto este texto está sendo escrito, está passando pelo processo de coroar sua primeira campeã midcarder do Raw. A luta que finaliza o torneio pelo título Intercontinental estava marcada para o dia 06 de janeiro, estreia do programa na Netflix, mas foi adiada para a semana seguinte, de forma a ter mais destaque na programação.
No Smackdown, a outra “conferência” da WWE, digamos assim, já possui uma campeã midcarder que também foi decidida por um torneio recente: a campeã dos Estados Unidos, Chelsea Green.
Além dessas duas categorias, também temos lutadores que atuam na divisão de duplas – o que não os impede de lutar individualmente, mas que os caracteriza mais fortemente junto de seus pares do que sozinhos. Exemplos atuais são a Motor City Machine Gun, lendária dupla que recentemente estreou no Smackdown, ou os War Machine, dupla campeã mundial no Raw.
Não obstante, também existem os lutadores que não estão envolvidos em títulos, mas ainda participam dos shows, seja como alívio cômico ou em rivalidades de menor expressão, mas que ajudam a compor o todo do programa, como os núcleos de uma novela.
Vale ressaltar que outro termo muito usado na internet a fora para classificar certos lutadores é a alcunha de jobber. Esse termo caracteriza lutadores que tem como função perder para que outros pareçam mais forte – fazer o job (trabalho). Algumas vezes eles não são nem mesmo contratados da empresa, podem ser simplesmente talentos locais em busca de exposição.
Mesmo que seja usada de forma pejorativa, a função é essencial na luta livre e faz parte da carreira de grande parte dos lutadores, mesmo alguns que, hoje, estão no topo da empresa.
Então, você pode reparar que cada lutador tem uma função em si no show e isso vai ficando mais claro conforme você vai assistindo. Tal qual uma série existe os protagonistas, antagonistas, elenco de apoio e figuração. Contudo, diferente das séries, esse elenco não só é rotativo e mudou inúmeras vezes nas últimas três décadas, como também é influenciado e levado a diferentes configurações por um dos aspectos mais importantes da luta livre: o público.
Obviamente é possível fazer luta livre sem a presença de um público ao vivo – coisa que a WWE fez durante a pandemia, primeiro no galpão vazio do Performance Center e depois ‘simulando’ um público com o chamado “Thunderdome” -, porém a empresa tem como característica a participação do público nas apresentações, onde a plateia incentiva com gritos, vaias e isso influencia, algumas vezes diretamente, no rumo de histórias e segmentos.
Inclusive, nos últimos 10 anos a própria internet passa a ter uma influencia, mesmo que pequena, no rumo em que as empresas levam suas histórias. Não é um ditame, até porque o público do X (Twitter) ou de outras redes sociais não representa uma grande parcela do público que consome o produto. Contudo, é uma amostragem que vem sendo utilizada pela WWE em alguns casos, como foi com a storyline entre Cody Rhodes, The Rock, Roman Reigns e Seth Rollins, na última WrestleMania.
Só para explicar, storyline é o nome dado ao arco de história contado pela empresa envolvendo um ou mais lutadores. Na mesma medida, rivalidades podem também ser chamadas de feuds.
Falando disso, muitas dessas rivalidades têm seu ponto alto em eventos chamados Premium Live Events, os antigos Pay Per Views, e agora nós não só iremos entender como eles funcionam, mas veremos quais são os mais importantes e como funciona a famosa “Road to WrestleMania”.
Premium Live Events da WWE
Os Premium Live Events, ou Pay Per Views (abreviado para PLE ou PPV) são megaproduções da WWE que acontecem nos finais de semana, costumeiramente uma vez por mês, apesar do calendário ser variável.
Esses eventos costumam ser temáticos, seja envolvendo a localidade onde o espetáculo será produzido ou tendo relação com algum conceito mais complexo.
Exemplos de PLEs temáticos são o Clash at the Castle e Bash in Berlin, que basicamente possuem a temática das localidades onde ocorreram – o Clash sendo no Reino Unido e o Bash… bem, é fácil adivinhar. Os eventos ocorreram, respectivamente, quando Drew McIntyre e Gunther estavam em alta nas storylines da empresa, sendo o primeiro um escocês e o segundo alemão. Além da motivação roteirizada, há também toda uma motivação estratégica para esses shows.
Agora outros eventos, como dito anteriormente, envolvem outras dinâmicas. O Bad Blood, por exemplo, evento ressuscitado em 2024 após 20 anos de hiato, tem como sua força motriz rivalidades que tenham algum cunho pessoal. Na mesma toada, existem PLEs que giram em torno de estipulações específicas como o Money in the Bank, o Elimination Chamber e a Royal Rumble.
Falando em Rumble, este PPV – sobre o qual eu darei mais detalhes daqui a pouco – é o primeiro passo para a temporada da WrestleMania, evento principal da empresa que coroa, digamos, o final de temporada. Seria como o SuperBowl, a final da Libertadores, o último episódio de Lost, qualquer coisa muito grande. A diferença é que na WWE não existe hiato. O PLE acontece no domingo (ou sábado), e na segunda-feira seguinte a história já segue!
Mas vamos organizar isso melhor. Primeiro, já que citamos o famoso “Grandesty Stage of Them All”, vamos adentrar a história e citar aqui os quatro eventos basilares da WWE, isto é, os quatro grandes.
Os quatro grandes da WWE
Desde que a empresa começou a fazer esses grandes eventos com periodicidade, existem quatro pilares que ditam o ritmo do ano da WWE.
Antes de começar: vamos listá-los aqui em uma ordem arbitrária, apenas para tentar seguir uma lógica do fluxo anual da WWE.
Vamos lá.
Survivor Series
Este evento, a princípio, girava em torno de times compostos por 5 pessoas– mas que, em certas ocasiões, podia ser quatro também, depende do ano – enfrentando-se em uma luta de eliminação, onde as regras comuns eram aplicadas, mas ao invés do combate acabar no primeiro pinfall / Submission / DQ / etc., ele continua até que todos os membros de um time sejam eliminados.
A primeira edição desse evento foi em 1987. Ele não tem ligação direta com o que chamamos de Road To WrestleMania (RTWM), mas como acontece muito próximo do começo dela – geralmente no final de novembro -, o evento pode, por vezes, ter influência nas histórias que serão contadas a partir da Royal Rumble.
Vale dizer que, apesar de essa ser a “gimmick” (personalidade, tempero, truque) do evento, ele não tem somente lutas assim, e pode e terá combates normais, disputas por títulos e por aí vai.
Os mais atentos repararão que dissemos, ali no primeiro parágrafo desta seção, que esse tipo de luta era a base do evento a princípio. Acontece que, a partir de 2022, a WWE mudou a luta que ditava o tom do PPV, fazendo com que a luta de times agora fosse uma Wargames Match.
A Wargames é um tipo de luta que foi idealizada na década de 80 na NWA (National Wrestling Alliance), uma empresa que servia como uma espécie de “guarda-chuva” para outras federações nos variados territórios do Estados Unidos.
O combate consiste em dois times de 5 pessoas que se enfrentam em dois ringues que, grudados um ao outro, são cercados por uma jaula de aço. Originalmente essa jaula tinha um teto, mas atualmente a WWE utiliza uma jaula mais alta e sem teto.
Esse tipo de luta foi muito usado na WCW (World Championship Wrestling), empresa que, a princípio, tornou-se dona dos assets da NWA e depois se desligou dela – uma boa história, para um outro dia.
Em 2001 a WWE, à época WWF, comprou os direitos de imagem e os naming rights da WCW, que anteriormente eram da Time Warner, além de adquirir o catálogo da empresa. Contudo, apesar de ter os direitos pelo nome, a WWE demorou mais 16 anos até voltar a usar este combate, retornando com ele em 2017 no NXT Take Over: Wargames 2017, PPV da brand de desenvolvimento de talentos da WWE, à época capitaneada por Paul Levesque, também conhecido só como Triple H.
Em 2022, Triple H se torna de fato uma figura de autoridade criativa dentro do plantel principal da WWE e algumas de suas ideias começam a ser trazidas para os eventos do primeiro escalão.
Desta forma, o Survivor Series possui essa luta como sua força motriz, pelo menos nos últimos anos, tendo uma versão feminina e uma masculina do combate por evento.
Royal Rumble
Tendo sua edição inicial em 1988, o evento, que acontece costumeiramente em janeiro, começou como um especial de TV, centrado em uma batalha campal entre 20 atletas, sendo que dois começam dentro do ringue e a cada 90 ou 120 segundos – cada ano parece mudar e, segundo rápida pesquisa, parece não existir um padrão certeiro para esse tempo – um novo oponente entra no ringue.
A quantidade de lutadores no ano seguinte foi mudada e desde então a luta é feita com 30 lutadores; as exceções estão na Royal Rumble de 2011, que contou com 40 lutadores, e a Greatest Royal Rumble, edição especial que aconteceu em evento na Arábia Saudita e contou 50 atletas, mas que não tinha como prêmio a usual vaga para a WrestleMania que elucidaremos a seguir, portanto não é usualmente vista como parte do cânone das Rumbles, apesar de ser considerada pela empresa.
Falando sobre esta premiação: desde 1993 o vencedor desta luta ganha mais que simplesmente o prestígio de bater outros 29 lutadores. O prêmio – e principal atrativo deste combate tanto para público quanto para os lutadores dentro da kayfabe – é a chance de poder desafiar um campeão mundial pelo título na WrestleMania.
Vale um parêntese. O anúncio sempre diz que é desafiar no “Main Event” do show, porém isso nem sempre se faz realidade. Já na WrestleMania 11, em 1995, Shawn Michaels desafiou Diesel pelo título após vencer a Royal Rumble, mas não lutou no Main Event, espaço que ficou reservado para o embate entre o jogador de futebol americano Lawrence Taylor e o lutador Bam Bam Bigelow.
Existe também uma anedota interessante quanto a isso: em 2008 John Cena resolveu usar seu direito como ganhador da Rumble para desafiar Randy Orton no evento No Way Out e não na WrestleMania. Ele ganhou a luta por DQ, mas não levou o título – vantagem que o campeão tem, uma vez que em caso de desqualificação ou Count out o título não troca de mãos – o que o levou a lutar na Mania pelo título novamente, mas isso se deu por outros desdobramentos da história.
Inclusive, existem casos que o ganhador da Rumble não ganhou uma chance pelo título, mas o próprio título em si. Isso aconteceu duas vezes na história. Em 1992, com o título vago, Ric Flair venceu a luta para se tornar campeão da WWF. 24 anos depois, em 2016, Roman Reigns foi forçado a defender seu WWE World Heavyweight Championship, na época o único título mundial da empresa, dentro da Rumble; o vencedor nesta feita foi Triple H.
A parte essas exceções, vencer a Royal Rumble é sinônimo de participar de um dos, senão o principal combate da WrestleMania, que por sua vez é o maior evento da empresa. Além disso, vencer esse combate é visto como um sinal gigantesco de prestígio dentro da empresa, principalmente após ser instituída essa prerrogativa da chance pelo título. É um sinal de que a empresa confia muito naquele vencedor.
O atual campeão da WWE, Cody Rhodes, conseguiu uma chance pelo título na WrestleMania graças à sua vitória na Royal Rumble – inclusive, a vencendo por dois anos seguidos, pois ele perdeu a luta na WrestleMania 39 em 2023, e repetiu o feito no ano seguinte, para enfim conquistar o título na edição 40.
A partir de 2018, a WWE começou a ter também uma edição feminina da Royal Rumble, tendo exatamente as mesmas regras e prerrogativas, porém tendo uma incidência ainda menor de Main Events por assim dizer: das sete vencedoras, apenas duas estiveram no combate principal do dito “maior espetáculo dos esportes de entretenimento”. Estas foram Becky Lynch em 2019 e Bianca Belair em 2021.
De qualquer maneira, ganhar a Royal Rumble é uma das maiores conquistas que um lutador pode ter dentro da WWE e é, inegavelmente, garantia de vaga para lutar no evento mais importante do ano da empresa.
WrestleMania
A primeira iteração do dito “Showcase of Immortals” aconteceu em 1985 e desde então a WWE o vende como a maior produção da temporada e o lugar onde as maiores histórias tem fim ou as maiores estrelas podem nascer.
Originalmente com somente uma noite, o evento traz não só combates importantes como lutas pelos títulos e finais de feuds (rivalidades), mas também agrega a seu conceito um fator ‘maior que a vida’, trazendo estrelas de outros meios do entretenimento como atores de cinema, astros do futebol americano, basquete, tendo apresentações musicais para as entradas de alguns lutadores e aumentando o grau de pirotecnia e jogos de luzes.
Tudo na WrestleMania é maior, um lugar para o épico e o extravagante, para os excessos, seja na diversão, no drama, é preciso ser sempre mais.
Desta forma, é possível entender porque o supracitado evento principal da Mania é tão importante para a carreira de um lutador. Fechar uma WrestleMania é uma honra que, quanto mais edições tem-se do evento, mais pesada e preciosa ela se torna.
Atualmente, na teoria, a chance de conseguir esse feito aumentou, já que desde a WrestleMania 36, que teve de ser a portas fechadas por conta da pandemia de Covid-19, o evento passou a ter duas noites.
Contudo, como viu-se em 2024, isso também pode significar duplos main events para as mesmas pessoas – Cody Rhodes e Roman Reigns, que estiveram em um combate de duplas na primeira noite com Seth Rollins e The Rock respectivamente, se enfrentaram na segunda noite pelo título mundial.
Falando em Roman Reigns, o astro conhecido como “Tribal Chief” – ou Original Tribal Chief na atual storyline que se encontra – é o lutador que mais vezes esteve em combates no evento principal da WrestleMania. Ele já esteve nove vezes no topo do card, e seu recorde talvez não pare por aí, já que ele ainda está ativo no plantel da WWE e ainda faz parte de uma das principais histórias da empresa.
A WrestleMania costuma ocorrer entre o meio de março e o meio de abril e, como você já pode perceber, é o ápice de tudo que a WWE construiu. Contudo, ainda sobra mais um pilar para falarmos e, bem, se em abril temos o grande evento, acaba sobrando um espaço grande no meio do ano para um outro evento de enormes proporções.
SummerSlam
Segundo principal evento da empresa, só fica atrás do show anteriormente citado. Este Premium Live Event nasceu em 1988 e, em certa medida, divide o ano da WWE. Acontecendo sempre em agosto, ele é mais uma chance de a WWE abusar do espetáculo, mas desta vez com a temática do verão, fechando pontas que podem ter ficada abertas desde o evento de abril ou dando um grau de importância para outras rivalidades que foram construídas nesses 4 meses desde o evento principal, mas que dificilmente seriam arrastadas até a WrestleMania do outro ano (apesar de isso acontecer as vezes).
O paralelo com a Mania atualmente ainda se faz mais gritante, já que o evento a partir deste ano terá, também, duas noites ao invés de uma. O SummerSlam é conhecido também pelo retorno de lutadores importantes, seja para desafiar algum oponente de uma história antiga ou só para marcar o tom do restante do ano da WWE até que chegue, enfim a Road to WrestleMania.
Antes da Road, outro evento importante…
Queria usar aqui alguns parágrafos para dar destaque a um evento que não faz parte da Road to WrestleMania, nem dos quatro grandes eventos da WWE, mas que é de suma importância para o ano da empresa e traz um dos elementos que torna ainda mais interessante acompanhar a programação da empresa.
A luta Money In The Bank originalmente foi realizada como uma das lutas tradicionais da WrestleMania, começando na edição 21 do evento, em 2005. Contudo a partir de 2010 ela foi transferida para seu próprio PPV, que acontece majoritariamente entre junho e julho, apesar de ter ocorrido duas vezes em maio também.
Mas o que diabos é uma “Money In The Bank”?
Este combate consiste em uma luta de escadas entre um número de oponentes – esse número não é fixo, mas tem uma variação entre 5 e 10 pessoas, até agora – em que o objetivo, tal qual qualquer luta de escada, é pegar o objeto que está pendurado para poder vencer a luta. Contudo o objeto em questão é a maleta do Money In The Bank (em tradução livre, dinheiro no banco).
Dentro da Kayfabe existe um contrato que fica no interior desta maleta e através deste contrato o lutador ganha o direito a ter uma luta por qualquer título mundial a hora que ele quiser. Quando o lutador ativa esse direito, se diz que ele fez o “Cash In”, que pode se traduzir como tirar proveito daquele direito.
Somente uma vez a Money In The Bank foi usada para disputar um título que não o mundial: Austin Theory fez o Cash In em Seth Rollins para lutar pelo título dos Estados Unidos, mas acabou perdendo a luta.
A partir de 2017 a luta também passou a ter uma versão feminina.
Devido à natureza da maleta, usada pela primeira vez por Edge em John Cena, que havia acabado de defender seu título em uma Elimination Chamber – você sabe que eu vou explicar, nem se preocupe –, torna-se muito interessante a presença deste elemento imprevisível. Ela pode tanto ser usada para ter uma luta contra um oponente descansado como foi o caso de Rob Van Dam em 2006, ou usá-la em um adversário durante ou após um combate, o uso mais comum.
Aqui você pode conferir uma lista feita pela WWE com os principais Cash Ins da empresa.
O mais recente, no momento que este texto foi escrito, é o de Tiffany Stratton, que usou a maleta para vencer Nia Jax pelo título feminino da WWE na última sexta-feira, 3 de janeiro.
Bom, agora que já falamos ostensivamente sobre este assunto, podemos ir para, provavelmente, nosso último tópico e a temporada na qual você entrará se começar a assistir WWE a partir do Raw do dia 6 de janeiro.
Vamos falar da Road to WrestleMania.
WWE Road to WrestleMania
Finalmente!
Bom, para exemplificar eu vou usar o que aconteceu ano passado.
Primeiro temos a Royal Rumble, que dá início a esse período e, como explicado antes, te dá uma chance pelo título de sua escolha no “Showcase of Immortals”.
Cody Rhodes e Bayley foram os ganhadores das edições masculinas e femininas da Rumble. Cody escolheu enfrentar Roman Reigns, à época campeão da WWE, e Bayley escolheu enfrentar Iyo Sky, campeã feminina da WWE naquele período.
Após a Royal Rumble vem a Elimination Chamber. Este evento foi recentemente trazido de volta para a RTWM, mas houve períodos que a mesma estipulação foi usada no No Way Out e outros anos que essa luta nem foi usada.
Acontece que “Elimination Chamber” é um tipo de estipulação, que consiste em uma jaula circular alta que envolve o ringue e que possui plataformas que ficam da altura do chão do ringue, de modo que funcionam como uma extensão para além das cordas. Além disso ela tem quatro cabines onde ficam quatro lutadores. O combate é de eliminação e dois atletas começam a luta. Após um tempo determinado – entre 3 e 5 minutos – os outros lutadores começam a sair de suas cabines um por vez, seguindo sempre este intervalo determinado e sendo sua saída definida aleatoriamente.
Ganha quem sobrar por último.
Essa luta inicialmente aconteceu no Survivor Series 2002 e foi usada várias vezes para disputas de título, seja individual, seja de duplas. Dentro da Road to WrestleMania ela costuma ou ser a última defesa que um lutador precisará fazer de seu título antes do evento principal do ano, ou é um combate que dá uma vaga para uma luta pelo título.
Mais recentemente, esta última opção tem sido o caso no plantel masculino, mas principalmente no roster feminino, que teve sua primeira luta neste ambiente em 2018.
Em 2024 os vencedores foram Drew McIntyre, que desafiou Seth Rollins pelo título mundial de pesos pesados, e Becky Lynch, que desafiou Rhea Ripley pelo Título Mundial Feminino.
Outro elemento que foi muito importante para a RTWM do ano passado – e que possivelmente voltará esse ano – foi a WrestleMania KickOff, evento onde Cody Rhodes revelou que iria enfrentar Roman Reigns e onde ocorreu, de certa forma, o heel turn de The Rock que, após dar um tapa na cara de Cody Rhodes, iria partir para sua persona “Final Boss”.
Estes são os elementos que envolvem os títulos da empresa, mas muitas outras coisas podem acontecer durante esses eventos que decidem os rumos que a WrestleMania vai tomar, portanto é um período não só muito divertido de se assistir, mas um que vale sua atenção para aproveitar ao máximo o que o maior espetáculo da WWE pode te oferecer.
Para além de WWE, algumas últimas palavras
Sabemos que este foi um texto longuíssimo e que dificilmente você o leu por inteiro, preferindo pegar partes que lhe interessam para tirar dúvidas sobre algum elemento da luta livre.
De qualquer forma agradecemos a leitura e a confiança. Este, apesar de ser um guia completo, dentro do que minhas limitações físicas, mentais e de pesquisa permitem, não é um guia definitivo. Portanto, quaisquer sugestões de adendos, mudanças ou correções serão muito bem-vindas e analisadas quanto ao seu mérito.
Por fim, falando sobre a luta livre em si, como se não tivéssemos feito isso o suficiente.
É importante, mais do que tudo o que foi dito sobre a forma e o conteúdo, que você se divirta com ela. Pouquíssimas formas de expressão conseguem transitar entre tensões e risos, entre a galhofa e o sublime, entre a euforia e a tristeza de maneira tão saborosa quanto o Pro Wrestling. Saiba aproveitar e apreciar isso.
E continue pesquisando, continue aprendendo. A WWE tem uma história riquíssima, mas o Pro Wrestling como um todo é ainda mais fascinante, então deixamos aqui o apelo para que esta não seja apenas sua porta de entrada para a WWE, mas que, no futuro, isso possa te levar para lugares que você nem imaginou que existiam, mesmo que eles existam somente entre os quatro lados de um ringue.
Conteúdo sensacional!!!, leitura mais do que valida até pra quem já conhece o tema.
Parabéns ao envolvidos!
Magnífico
Esse é o melhor material de WWE já feito no Brasil, seja texto, vídeo ou podcast. O melhor.
Agradeço de coração o material feito, assisti onte (06/01/2025) na Netflix pela primeira vez e gostei bastante!