Se existe um conceito fixo dentro do Pro Wrestling é o de que a todo instante é criado uma nova memória que será apagada no instante seguinte, memórias que, muitas vezes, se tornam eventos históricos. E talvez por isso que o esporte espetáculo se casa tão bem como a fotografia, pois como diria Frances Cartier Bresson, uma das maiores referências históricas do ramo: “De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória”.
É pensando nessa relação tão sublime que a fotografa mexicana Lourdes Grobet resolveu dedicar sua vida para eternizar em forma de fotografia a história da Lucha Libre.
Apaixonada pelos artistas Mathias Goeritz & Gilberto Aceves Navarro, Lourdes viu na Lucha Libre uma forma de referenciar todas as formas e cores que essas mentes entregam em suas obras. Então, a partir do início da década de 80, a jovem fotógrafa começou a registrar eventos de Lucha Libre por todo o México. Entretanto, o que ela não esperava nesse início era perceber como seus registros transcendiam a cultura do esporte e, na verdade, representavam uma comunicação direta com a rica história mexicana, mostrando tradições, folclorismo e cultura.
Da mesma forma, as fotos de Lourdes ultrapassam apenas os registros do que os luchadores mascarados e caricatos entregavam em ringue. Ela buscou ajudar na construção de um novo imaginário heroico para um povo que sofreu tanto pelo apagamento histórico de ícones exemplares. Isso transformou aqueles homens e mulheres mascarados em heróis modernos que transitavam entre o real e o fantástico, um motivo de orgulho e referência de uma nação.
Mas como uma artista apaixonada pelo desafio de brincar com contrapontos, a fotógrafa que – como dito – buscou transformar luchadores em heróis, decidiu que o mundo precisava conhecer o outro lado desses atletas, um lado humanizado que aproximava aqueles “heróis” no ringue de seu público. Iniciou então um projeto de registrar o cotidiano deles, apresentando suas rotinas, desafios e principalmente suas dificuldades, elementos que somem quando calçam suas botas e sobem aos ringues.
Em suma, a importância histórica de Lourdes Grobet, não só para a lucha libre, mas para história mexicana, é enorme. Com sua câmera e seu olhar artístico ela registrou 40 anos de um movimento cultural de importância internacional, projetou novos heróis ao mesmo tempo que os humanizou, e ainda utilizou suas fotos muitas vezes como arma de empoderamento, dando espaço para que mulheres e LGBTs pudessem ter sua imagem e seu espaço reconhecido dentro do esporte.
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