O descaso com a luta livre feminina na AEW (e na WWE)

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Tem sido um ano desafiador para os fãs de luta livre feminina quando se trata das maiores empresas do esporte. Apesar de diversas lutas e momentos memoráveis, eventos como o retorno de Nia Jax na WWE e o reinado de Saraya como campeã na AEW indicam os problemas que as respectivas divisões enfrentam. E embora as situações nas duas empresas quando se trata de luta livre feminina tenham diferenças importantes, ambas apresentam problemas que podem ter causas mais parecidas do que se imagina.

O PROBLEMA MAIS CRÔNICO DA AEW

É notório que dentre todos os defeitos que a empresa de Jacksonville possui, o principal deles sempre foi a gestão da sua divisão feminina. A luta livre feminina na AEW sempre foi apresentada como secundária e menos importante, tendo lutas com pouco tempo, histórias mal desenvolvidas ou simplesmente ausentes e um espaço insuficiente para as lutadoras nos shows semanais e eventos especiais, quase sempre com a cota de uma luta feminina por programa. Em entrevista coletiva realizada após o All Out 2023, Tony Khan foi perguntado diretamente sobre o fato de All In e All Out terem contado com uma luta feminina cada. E na sua forma típica de responder questionamentos sem falar sobre o que foi mencionado, deu uma resposta genérica falando sobre o desafio de encaixar todo o seu plantel nos shows, mencionando outros lutadores masculinos que não estiveram presentes nos dois shows. Khan generalizou a questão e ignorou a disparidade de espaço entre as suas divisões masculina e feminina.

Tal fala evidencia a teoria de que Khan não liga para a divisão feminina e faz o mínimo possível quanto à sua direção, o que é bem óbvio. No horizonte, não há motivos para enxergar uma possível mudança desse panorama. Com os rumores recentes de uma chegada de Mercedes Moné à empresa, que é provavelmente a maior contratação que a AEW pode fazer no momento de forma geral, a oportunidade do ponto de virada pode se apresentar. Eu não acredito, mas gostaria muito de estar errado.

A PERDA DO BRILHO DE UMA JOIA DA WWE

Enquanto a análise da situação da AEW é mais clara e direta, falar da divisão feminina da WWE se mostra como uma conversa com mais detalhes e questões. Em 2015, a empresa deu início à sua Revolução Feminina, pontuada com a chegada das Four Horsewomen (Sasha Banks, Charlotte Flair, Becky Lynch e Bayley) ao plantel principal. A divisão feminina foi elevada a patamares nunca antes vistos na história, chegando à luta principal da Wrestlemania, e construindo lutadoras consagradas, combates históricos e estrelas genuinamente gigantes no caminho. É incrível que tudo isso tenha acontecido sob o comando do senhor Vince McMahon. E é ainda mais surpreendente que o pior momento da divisão esteja acontecendo sob o comando de Triple H, que capitaneava o NXT Black and Gold, programa cujo destaque dado à luta livre feminina abriu caminho para essa evolução acontecer dentro da empresa.

A WWE ainda coleta as recompensas da revolução que promoveu, tendo lutadoras que são genuinamente superestrelas e que fazem a diferença para seus shows, a exemplo das recentes audiências do NXT com as aparições da Becky Lynch, e contam com um bom espaço para as rivalidades e lutas da divisão serem desenvolvidas. A questão é o que tem sido feito com esses recursos ao longo da era Triple H.

Temos atualmente no RAW um reinado bastante decepcionante da Rhea Ripley, que tem mais destaque devido à história da Judgment Day do que com suas próprias lutas, que tem sido bem curtas e abaixo do nível que ela pode entregar. E o Smackdown ao longo do ano tem entregado uma combinação de lutas também decepcionantes, a exemplo de Asuka vs Charlotte vs Bianca Belair no Summerslam, e desenvolvimento de histórias bem questionáveis também. Tivemos um final bem ruim de um reinado histórico da Bianca e o milésimo envolvimento da Charlotte com o título que pelo menos ela não ganhou dessa vez. O reinado da queridíssima Iyo Sky aponta para um futuro mais promissor no programa, mas veremos no futuro.

E frente a tudo isso, a resposta do senhor Paul Levesque, também em uma entrevista coletiva, sobre a retirada da luta entre Becky Lynch e Trish Stratus do card do Summerslam, me chamou bastante a atenção. Ele afirmou algo muito parecido de Tony Khan, afirmando que há espaço limitado em todos os shows e que sempre tem um próximo programa para que as lutas aconteçam, além de debochar de um comentário de insatisfação da Becky, sua maior estrela feminina, diante do ocorrido.

Em suma, enquanto não dá para comparar as divisões femininas da AEW e da WWE em termos de sucesso e importância, as duas tem sofrido de problemas parecidos em alguns pontos, com uma causa semelhante: estão sob o comando de dois homens que não veem a luta livre feminina como prioridade. E como estes dois tem o controle da direção criativa de suas empresas, parece que esses problemas não serão resolvidos tão cedo.

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