Os encantadores de serpentes

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O pro-wrestling é a arte de mexer com o imaginário. Entretanto, nele não existem ilusões. Você, fã, está na frente da TV, ou na frente de um ringue e sabe exatamente o que está acontecendo ali. E sabe quando é agradado ou não.

Sempre tem um personagem que vai subir naquele ringue e, independentemente de como esteja caracterizado, vai falar no microfone e outro lutador vai aparecer para provocá-lo e assim teremos uma rivalidade e uma série de lutas.

Parece sempre ser usada a mesma receita. Mas o que difere uma luta de outra? O que transforma caras que fazem a mesma coisa que os outros, em lendas?

A construção de cada personagem depende de vários fatores de backstage e não só da atuação do wrestler

O pro-wrestler é como um encantador de serpentes. Para quem não sabe, não é o som da flauta, que a seduz, e sim a movimentação que o encantador está realizando. Trazendo para um paralelo, o que atrai em um pro-wrestler não é seu porte físico, seu sotaque ou sua pré disposição de atuar como um personagem bom ou mau.

E sim a forma como conduz as coisas durante uma luta, o caráter que demonstra ter quando é realmente desafiado. É o que ele causa. Lutadores dependem do SEU sentimento, leitor. E se não é entregue alguma opção sentimental para você, ele está fadado ao fracasso.

Vou exemplificar. Ah, como eu odiava Seth Rollins e sua aliança com a Autoridade. Odiava com todas as minhas forças e a cada vitória dele, eu via a perpetuação daquele regime dentro do ringue. Rollins só vencia no tapetão, e eu já estava farto de seu reinado xucro. Estava em um ponto que odiava odiá-lo.

Não basta ser bom ou mau. Você precisa ter credibilidade

Mas chegou o dia de lutar contra John Cena, valendo dois títulos de uma vez só. Era tudo que eu queria. Um grande adversário, para acabar com aquele “marionete” do Triple H.

Entretanto, o que eu vi foi completamente oposto ao que eu esperava de Rollins. Ele era mau e me passava má impressão em suas atuações desde que virou campeão mundial. Mas a partir do SummerSlam de 2015, mostrou tanta valentia. A cada salto do topo da corda, que eu torcia para não converter-se em um golpe bem sucedido, ele chegava mais perto de seu objetivo, acertando o ataque desejado ou até mesmo escapando de um contra ataque.

E ganhou a luta. Ajudado aleatoriamente por uma cadeirada de um comediante? Sim. Mas a forma como tudo ocorreu deixava claro que com o sem cadeirada, a vitória seria de Rollins. A postura de um cara que sabia que estava prestes a fazer história, me fez comprar a ideia de que ele deveria terminar a luta como vencedor.

Que luta, meus amigos, que luta!

Naquele momento minha relação de ódio com Rollins, passou a ser de cumplicidade. Pude compreender quem ele era. Encantou a serpente. Mexeu com o imaginário. Assim como muitos lutadores tem seu ponto de virada junto ao espectador, Rollins teve sua redenção comigo. 

Querido leitor, quem já alcançou a redenção com você?

1 comentário em “Os encantadores de serpentes”

  1. Muitos nomes alcançaram a redenção, a destacar Brock Lesnar, que alcançou a redenção quando ganhou do Roman Reigns na WM 34. Naquele ponto eu entendi que o Lesnar era o Lesnar e era isso o que importava sobre ele. Era só ver o quão longe ele chegaria e se divertir enquanto ele destruía seus adversários.

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