O primeiro texto sobre Misawa vs Kobashi

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Misawa vs Kobashi aconteceu em um sábado, dia primeiro de março de 2003. Dali sete dias, a irmã de minha vó faria aniversário e também seria dia internacional da Mulher.

A dupla TaTu fazia sucesso nas rádios, Rock e Hurricane estavam prestes e se enfrentar no Raw e eu ainda não passara pela decepção de ver o Corinthians ser eliminado da libertadores – pelo menos não que eu me lembrasse – e isso mudaria logo.

Neste dia Shannon Moore e Rey Mysterio lutavam no Velocity.

Mitsuharu Misawa vs Kenta Kobashi, combate dentre os tantos que estes fizeram, aconteceu na NOAH, pelo GHC Heavyweight Title. O ringue era de lona verde, as pessoas eram pessoas e os atletas naquele tablado eram tão quadrados quanto os videogames da época conseguiam renderizar.

E é curioso assistir essa luta pois parece um transporte para tempos indeterminados. Esteticamente estamos no passado, anos oitenta ou algo assim, com essa sunga alta e falta de músculos. A visão Ocidental de Wrestling não comportava mais esse tipo de lutador há muito tempo. Era preciso definição, menos cores, há menos que fosse o sangue, ai podia ser bem vermelho. Era a época de aceitar que os anos 2000 haviam chegado e não havia espaço para inocência.

Mesmo assim, Misawa e Kenta Kobashi lutaram e, apesar da aparência ser pregressa, a linguagem era futura. É díficil conseguir por em palavras o que esses dois transmitem em 33 minutos de uma batalha de almas, transmitidas por corpos quebráveis levados ao limite.

É possível dizer, entretanto, que a história que eles contam só chegaria perto de nossas terras muito tempo depois e muito capenga. Outros lutadores iriam incorporar essa narrativa e esse tipo de luta, mas levaria tempo e agora todos estão a sombra desses gigantes.

Era 2003, mas podia muito bem ser 2019 e estaríamos todos enlouquecidos no Twitter, comentando se essa luta foi ou não a melhor coisa que nossos olhos já contemplaram. E é a graça do PW, diga-se de passagem: falar sobre o que não é falado, discutir enquanto dois indivíduos resolvem uma questão não pontuada na base do murro.

E se tem uma coisa que essa luta tem é murro. Bom, na verdade não nesse sentido, porque eles não tão SOCOS, mas é uma porradaria tão franca e agressiva que é possível enxergar a guerra de vontades ali. Não parecia haver cansaço ou, sinceramente, bom senso dentro dos combatentes; era possível enxergar somente um passado de treinamento e experiência que desbocava no dia 1 de março.

Tem nem o que falar

Certamente essa luta entra na discussão sobre qual é a melhor luta de todos os tempos, junto com Flair e Steamboat, Okada vs Omega e tantas outras que, se você tiver tempo, querido leitor, pode listar para nós ai na área de comentários – inclusive servindo de sugestão para as próximas edições destes textos semanais.

Acontece que eu já falei semana passada sobre minha luta favorita e revendo esse combate é possível perceber a clara fonte de onde Shibata e Ishii beberam. Novamente, a sombra desses obeliscos poligonais se estende por eras. Se Ishii não reage a um chop quebra ossos, é Misawa que enxerga atrás de seus olhos, eterno como conceito. E se Shibata aceita um chute nas costas como se fosse um Mártir, talvez seja Kobashi que tomou seu corpo, substituindo as informações de dor por qualquer outra coisa que o valha, que o faça seguir lutando.

E se os atletas podem aprender algo com essa luta, nós, telespectadores, também podemos.

Misawa vs Kobashi não é um combate qualquer, visto de canto de olho enquanto assistimos Barry na TV ou jogamos Limbo no computador. Estar na presença dessa luta é estar no agora, ou no agora passado e é preciso apreciar isso.

Bom, na verdade não é, a vida é sua, que se foda, você faz o que quiser, POREM, seria um desperdício de banda larga e de TEMPO. Se você nunca fez Yoga ou meditação, talvez você possa entender melhor os efeitos da prática simplesmente sentando em uma cadeira, apagando as distrações do mundo e assistindo essa luta. O fluxo vai e você vai junto, guiado pelos impactos e reações, como se sua consciência fosse uma com a massa. Todos guiados por dois homens que queria o GHC Heavyweight Title.

Bom, quem virou uma distração agora sou eu. O combate é Mitsuharu Misawa vs Kenta Kobashi pelo GHC Heavyweight Title. Bem-vindo a primeiro de março de 2003.

Bem vindo a história.

https://www.youtube.com/watch?v=ARcmU_oTO6k

Semana que vem: lutinha fake, FAKE.

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