Ricky Steamboat vs Daniel Bryan – Parte 2

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Este texto é uma continuação. Para saber o que aconteceu até aqui, leia as partes anteriores.

PARTE 1

IMAGENS POR: LUAN BONATO

Não existe nada na cabeça de Daniel Bryan além das vozes. É um louco, mas não como as pessoas imaginam. Cidadãos normais as vezes se aventuram, correm riscos em proezas um pouco fora do alcance; tentam mudar a si mesmos de supetão com um novo carro, um novo corte de cabelo ou uma cidade diferente.

Por entre as vozes de seus conterrâneos, Bryan é um louco real e pensa. É desta forma simplesmente por saber que, para se tornar o coração desta maquina onde todos giram, para ser o raio que acendeu a primeira fogueira, é preciso calcular.

Quando o gongo soa, a matemática na cabeça do desafiante começa.

O público aplaude em pé enquanto os dois combatentes circulam dentro do tablado. Steamboat tem a mesma altura que Bryan, mas seu corpo parece construído como uma máquina de alta performance. Ele ataca, pisando para frente e raspando o joelho no chão para conseguir agarrar as pernas do desafiante. Bryan desvia, abaixa o centro de gravidade e não tira os olhos do melhor lutador vivo; bom, pelo menos é assim até a noite terminar.

O wrestler nascido em Washington, por outro lado, é compacto. Sua carne embalada por uma pele excessivamente branca parece enrijecida por uma prensa hidráulica. Bryan tem o espírito dos trabalhadores de colarinho azul que assistem nos bancos mais baratos. Ele tem toda a planta do combate em sua cabeça. Logo, ele joga a isca.

Levantando os braços, Daniel se aproxima de Steamboat. O campeão se também fica próximo lentamente, em uma dança cujo objetivo é espelhar o oponente; os dedos se entrelaçam, conectando agora os humanos em busca de ouro. Bryan imediatamente torce os pulsos de Ricky e o coloca de joelhos, já aproximando as pernas para pressionar o campeão de costas no tablado.

É possível ver espanto e dor no rosto de Steamboat. Os braços de D.Bryan o empurram num ranger de dentes atrás da barba, porem seu braço esquerdo começa a ceder e uma das mãos do campeão fica livre. Bryan solta a outra mão e avança pelo pescoço do dragão. Steamboat fica de pé e fecha a guarda. As pernas de Bryan já se entrelaçam no campeão, tentando encontrar apoio nas coxas de Steamboat para uma guilhotina, mas a sorte dos entronados cai sobre Ricky “The Dragon”, que de guarda fechada não permite que o desafiante encontre o grip. Eles vão para as cordas.

O desafiante não para. A voz do juiz é só mais uma em sua cabeça, mais um falante dentre todos os outros do planeta, um numero dentro de uma equação que acaba em metal nobre em volta da cintura de Daniel Bryan.

O referee o ameaça com uma desqualificação e ele, sem pressa, desenlaça sua presa, membro por membro, colocando força no processo, ficando de pé para olhar nos olhos do único animal que ele jurou abater.

Ricky se recompõe e vai ao centro. Collar n’ Elbow Tie Up.

Eles medem forças: Ricky e sua família de um lado, Bryan e o estado de Washington do outro. Esmagado contra o corner novamente, Steamboat ouve as vozes clamando por seu novo campeão, sem entender como ser maior e mais pesado, sem saber lidar com a desvantagem. Bryan não escuta mais nada, porem tudo entende.

Ele da tempo para Steamboat respirar, esperando por mais uma alternância de chaves, porem os planos do campeão são outros. Steamboat corre na direção do desafiante, mudando o tempo da luta. Bryan tenta trocar de postura, mas tropeça até o corner. E então ele sente a dor no peito.

Os Knife Chops de Steamboat estalam por entre as vaias. Ricky é ferro e fusão com tanque cheio e ele descarrega em seu oponente com força. O juiz pede para que saiam do corner e o pequeno barbudo de Everdeen cambaleia, se apoiando nas cordas, alvo facil de um Irish Whip. O corpo de Bryan responde ao impulso e vai, porém lá ele fica. O desafiante entrelaça os braços nas cordas e Ricky corre. Bryan espera até que ele esteja perto e da dois passos a frente, deixando que o alvo rebata e tome impulso para o centro onde ele o atinge com um dropkick no peito.

Steamboat sente os ossos apertarem e a cabeça girar. Ele cambaleia para trás e a força do golpe o joga para fora. Mal sua visão volta e outro vulto o acerta ali fora do ringue. Bryan fica de pé, corre para o ringue e toma impulso para mais um Suicide Dive.

Steamboat rola para a o corredor de entrada com as mãos no peito. Bryan finalmente deixa que o barulho o inunde; a casa o apoia como um simbolo incontestável. Com o juiz na contagem, DB não vê outra alternativa a não ser levar seu oponente de volta ao ringue, arrastando-o pelo cóis da calça e o pescoço.

Um rápido pinfall é feito, sem objetivo final a não ser pressionar o esforço físico do oponente. E então Daniel Bryan começa a fazer o que Steamboat viu nas fitas. O que ele temia.

De pé, o barbudo começa a explorar as juntas de seu oponente. Entre uma respiração e outra, existe tempo. Este é tomado para saber onde mais dói, onde cada ponto de força ataca mais as curvas e lesões esquecidas do corpo do campeão. Pressionando juntas e retesando ossos, ele cria convexos em lugares onde convexos não deveriam existir.

Steamboat no chão é um sentimento único: dor. Bryan torce o braço de Ricky para trás, fazendo-o apoiar a palma da mão do tablado, transformando seu braço em um triangulo. De triângulo em linha reta não demora um segundo e o espanto da crowd se mistura com a dor do atual dono do PW mundial, devido ao forte pisão de Bryan.

Outro pin, mas a contagem não chega a dois, o que não importa de fato pois o ombro que saiu do chão é agarrado e Steamboat só não leva um Armbar por ter extinto, o mesmo extinto que o trouxe até aqui em primeiro lugar. Juntando as mãos ele usa seus musculos para evitar o domínio de Bryan em seu braço.

O desafiante se agarra aquele braço e sua expressão não comporta nada a não ser força. Ele retorce a face e bate nas mãos de Steamboat, que gira o corpo e se desfaz das amarras de seu oponente. Mal ele se levanta, Bryan vem. Nessa hora, Ricky “The Dragon” nos lembra porque ele é o campeão mundial da NWA.

O Arm Drag é um raio dentro do ringue. DB se levanta cambaleando e leva outro, que o joga no corner esquerdo. Steamboat volta com seus chops e Bryan percorre a extensão do ringue enquanto a máquina que é Steamboat o segue, cada golpe mais forte que o outro. O peito do desafiante pulsa em sangue, vermelho entre seus pelos e roxo nas bordas. As marcas daquela luta certamente serão lembranças duradouras.

Aproveitando o estado debilitado do favorito da casa, Steamboat passa o braço do pequeno atrás de sua cabeça e o levanta para um Back Suplex! Bryan agora é um corpo sem parada. Ele rola no chão enquanto Steamboat toma impulso nas cordas para um Knee Drop no crânio do desafiante. O alvo não fica no chão, mas levanta por uma força impulsonada pela dor, totalmente sem objetivo ou estratégia. O louco se tornou presa.

Preso no corner novamente, ele abre os olhos e vê Ricky Steamboat de pé em sua frente, o céu coberto pela massa assustadora de um homem perigoso. Um atrás do outro, os punhos do campeão acertam a testa ddo barbudo de Washington, coberto pelo som das vaias, que não fazem questão de contar o DÉCIMO soco que sela o ritual.

Não satisfeito, Ricky o agarra com as duas mãos pelo pescoço e levanta seu oponente. Bryan parece nada nas mãos do campeão, uma simples provocação que agora descobriu estar lidando com um problema muito maior do que imaginou. Sem oxigêncio na cabeça, Daniel tenta lutar, mas sente as costas sendo amassadas contra o tablado em um estrondo. Ele acorda para ouvir a segunda batida do juiz no chão e o ar volta a seus pulmões tempo o suficiente para escapar antes da terceira batida.

É preciso repensar. A cabeça de Bryan escurece por tempo, aquietando os raios que alimentam a carne, transformando aquela tempestade caótica e bagunçada em um fluxo de água calma. Ele respira e se vê livre. Levanta e olha para cima a tempo de ver seu oponente levantando no em cima do corner. Ele rapidamente rola para fora do ringue, esperando que isso afaste uma possibilidade letal.

Neste momento Ricky Steamboat voa e dois homens vão ao chão, enquanto o público ainda tenta acreditar no que viu. Do corner, diretamente no concreto, Ricky acerta Bryan com um Flying Crossbody. E os dois ficam imóveis.

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