WWE e Triple H debocharam de processo em coletiva de imprensa

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Um preceito básico do jornalismo é ir atrás daquilo que é de interesse público. Dentro desse guia, usa-se o critério do próprio jornalista, geralmente baseado na sua ética e leitura dos tempos nos quais vive, para decidir o que tem mais importância dentro de seu contexto.

Em condições normais de temperatura e pressão, ao final de um show de Wrestling, o mais importante seria todos os meandros do esporte. O desempenho dos atletas seria questionado e tudo acabaria bem.

Mas não estamos em condições normais de temperatura e pressão.

O processo

Vince McMahon — que sabidamente é um filho da puta — foi acusado de tráfico humano e abuso sexual. O processo é público e você pode encontrar sua introdução traduzida aqui.

Este é o cenário para todos os presentes na coletiva de imprensa pós-Royal Rumble 2024.

É compreensível que você mantenha os assuntos de ringue entre os lutadores.

Cody Rhodes acabou sendo perguntado sobre o assunto e, mesmo assim, deu uma resposta minimamente decente. Contudo, no final, quem tem obrigação de lidar com tais assuntos são os executivos.

Logo, entra Triple H, CCO da empresa e o rosto dessa nova fase criativa.

Espera-se um mínimo de seriedade para, na medida do possível, responder as perguntas da melhor maneira. Profissional.

A vida de uma mulher foi para sempre exposta, intimidades e humilhações que nunca serão apagadas são, segundo a queixosa, majoritariamente de responsabilidade da empresa na qual eles trabalham.

Mas a primeira pergunta foi sobre Netflix. ¯\_(ツ)_/¯

Quando finalmente algum filho da puta teve a decência de perguntar (no caso, Jon Alba, muito bem, obrigado) a questão de maior interesse público e peso ético, recebeu a seguinte resposta (Transcrição do WrestlePurists, tradução nossa):

“Eu vou fazer exatamente o que você espera de mim aqui. Olha, nos tivemos uma semana maravilhosa. Assinamos um contrato com a Netflix de 10 anos por 5 bilhões de dólares. O Rock se juntou a nossa comissão de diretores. A Royal Rumble lotou a casa, 48.000 pessoas no Tropicana Field.

Eu escolho focar no positivo. Sim, tem o lado negativo, mas eu quero focar no positivo e me manter assim”

Janel Grant alega ter sofrido tráfico sexual e abuso em horário de trabalho dentro dos escritórios da WWE enquanto outras pessoas estavam presentes. Vários executivos são citados — sem nome — e John Laurinaitis é citado nominalmente.

Triple H, contudo, considera que isso é só um negativo em uma semana positiva.

E outro jornalista segue, sobre uma pergunta sobre… Atitude Era!

Sobre a obrigação

Muitas vezes a frase “ninguém é obrigado a nada” surge quando alguém discorda da exigência em se tomar alguma postura. Às vezes é verdade.

De fato, ninguém ali era obrigado a perguntar sobre o caso de abuso do Vince; ninguém, a menos que se levassem a sério como jornalistas.

Não é possível que, dentre todos os que estavam presentes na coletiva de imprensa, somente Jon Alba, Brandon Thurston e Cam Hawkins estejam preocupados com os atos hediondos que possivelmente aconteceram nesta empresa.

E foi exatamente o que pareceu.

Triple H falou de Wrestling extensivamente antes de abrir para perguntar. Por que CARALHOS continuaram perguntar sobre Wrestling?

Bom, as vezes as pessoas também queriam só “focar no lado positivo”

O negativo é só a vida de uma pessoa.

Escárnio

Poxa, vamos lá, o que é uma vida vs 5 bilhões de dólares num contrato de papel 150g assinado com Montblanc?

Afinal, é isso que o nível das respostas do chefe criativo da WWE nos levou a acreditar após essa coletiva de imprensa.

E não é como se, dependendo do que o Triple H falasse, todos achariam que agora a WWE de fato é um ambiente seguro e que este é, para eles, um quesito de primeira importância.

Mas o escárnio é dolorido.

Hunter — junto com uma pletora de imbecis que estava ali rindo e compartilhando do clima de bem-estar — levou a situação na brincadeira.

Se achávamos que o Tony Khan tinha enfiado o pé na jaca ao responder sobre as acusações feitas sobre o Chris Jerico usando um chapéu ridículo, Triple H conseguiu fazer pior e sem chapéu.

“Eu não li”, foi a resposta para a pergunta de Thurston quanto ao processo contra o ex-dono da empresa de Stamford.

Seu sogro é acusado de tráfico humano. Seu sogro, que trabalha na sua empresa. E você não leu.

Se ele não leu, eu também não escrevi esse texto.

Mas mentir, nesse caso, era mais seguro. Era melhor que responder, mesmo que de forma corporativista, de uma maneira decente e se queimar com o sogrão no almoço de domingo.

Uma mentira é uma boa opção, só não quando a verdade está implorando pela sua vez e, meus amigos, nesta noite de sábado era a hora da verdade.

E por fim…

Fica a pergunta, então: o que acontece? Se alguém esperava um tratamento profissional quanto a esta questão por qualquer das partes envolvidas, veio ao show errado!

No fim tudo é só uma questão negativa numa semana cheia de alegrias.

“Ah, mas o Corinthians ganhou a copinha, isso foi só um negativo” diria Triple H, caso houvesse outra pergunta.

Não houve, porque os jornalistas também são culpados.

A mídia de Pro Wrestling americana é culpada. Esse senso de camaradagem que existe, essa política de não-agressão para continuar ganhando recebidos, é a falência de um jornalismo especializado que nunca existiu.

Porque é isso, não pode falar mal. Vai que não me chamam na próxima? Vai que querem vingança contra mim e eu perco minhas fontes?

Dessa maneira seria melhor aparecerem com o microfone da empresa e assinarem um grande contrato corporativista. Coletivas de imprensa só com comunicação interna, perguntas marcadas!

Seria necessário, não fosse o sorriso de Triple H. Finalmente, frente a todos os twitteiros de plantão, ele reafirma, seguro de sua posição, que tudo não passa de “um ponto negativo”.

E segunda-feira tem Raw.

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