Dark Side of the Ring mostra que a WWE é uma empresa especializada em cometer crimes

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No dia 16 de setembro, foi ao ar o episódio 8 da terceira temporada do Dark Side of the Ring. A série, produzida pela VICE, mostra uma outra visão sobre momentos controversos da história da luta-livre – e da WWE.

O capítulo conta, os acontecimentos do Plane Ride From Hell, o polêmico voo que levou as estrelas da WWE do Reino Unido para os Estados Unidos, no dia 5 de maio de 2002..

Há alguns dias atrás, contamos aqui um pouco dessa história.

No entanto, as novas informações trazidas, com mais detalhes, sobre os incidentes daquele dia, são de revirar o estômago.

O episódio é repleto de gatilhos de abuso de drogas e abuso sexual. Por isso, não vamos abordar os detalhes aqui.

Mas, achei importante levantar alguns tópicos sobre o episódio.

O ambiente tóxico da luta-livre (e da WWE) destruiu mais do que salvou vidas

Heidi Doyle, comissária de bordo, que foi vítima de abuso sexual, cometido por Ric Flair – Foto: VICE

Em uma entrevista para o WrestleManiacos, Bob Junior explicou um pouco de como era o ambiente da luta-livre quando ele começou.

Uma realidade que, aos olhos de quem vê, parece engraçada, com assaltantes de banco como treinadores de telecatch, etc. E a gente faz até piada porque já passou.

Mas a real é que tanto no Brasil, quanto nos EUA, esse ambiente destruiu mais do que salvou vidas, tanto dentro quanto fora dos ringues.

Em Plane Ride From Hell, uma comissária de voo adquiriu um trauma para a vida inteira, sem ao menos ter pisado em um ringue na vida. Ela, assim como tantos outros, foram vítimas do mau comportamento dos lutadores.

Assim como a vítima presente no documentário, Terri Runnels também sofreu abusos dias antes do voo. Brock Lesnar foi o abusador no incidente, e todos pediram para que ela ficasse calada.

Quase todos os lutadores presentes na história possuíam algum tipo de vício.

Scott Hall, o caso mais perceptível, precisou de ajuda para sair do voo porque, pasmem, não conseguia acordar por conta do coma alcoólico. E o alcoolismo, por diversas vezes, quase o matou.

E ainda teve tempo de Brock Lesnar arremessar Curt Hennig contra a porta de emergência do avião, que fez todos a bordo temerem que a porta se abrisse. Apesar de não haver risco de que a porta se abra, o embate poderia ter causado uma despressurização do avião. Além dos lutadores, toda a tripulação poderia ter morrido.

Mas, nada disso teria acontecido se Vince McMahon estivesse no avião, certo?

Errado.

Ele estava, e deixou a responsabilidade para Jim Ross controlar os lutadores. Ele apenas lavou as mãos.

Isso nos leva para um momento-chave do nosso texto.

A WWE permite que seus funcionários comentam crimes, quando não é ela mesma a criminosa

Jim Ross, diretor da WWE na época do Plane Ride from Hell – Foto: VICE

A toxicidade da WWE como empresa já foi comprovada diversas vezes, seja por relato de lutadores ou funcionários.

Mas, o império de Vince McMahon está um degrau acima nessa problemática, porque a toxicidade rompe a barreira das leis, muitas vezes.

O episódio do Dark Side of the Ring não mostrou o primeiro, nem o segundo crime cometido com o conhecimento – e consentimento – do Chairman da companhia.

A série, inclusive, mostra que em diversas vezes, a WWE esteve no centro de diversas questões relacionadas a crimes. Alguns, foram até mesmo cometidos pela própria empresa.

Nesse voo, em que ele esteve presente, ocorreram uma tentativa de assassinato, assédio moral, abuso sexual e abuso de substâncias ilegais que colocaram em risco todos os passageiros do voo.

E o incidente de 2002 é apenas mais um da longa ficha criminal que a WWE finge não ter.

A permissão de McMahon para que alguns lutadores desafiem todo o código penal americano é evidente. Haja visto que Ric Flair e Brock Lesnar, dois dos maiores envolvidos nos incidentes, nem ao menos foram punidos. O segundo, inclusive, se tornou campeão da WWE, meses depois.

O Plane Ride From Hell mostra a cultura estabelecida pelos figurões da luta-livre do passado, e mostra que no presente, esse pensamento ainda não é condenado.

Abusadores não podem ser ídolos, nem seus cúmplices

Tommy Dreamer, um dos entrevistados para o Dark Side of the Ring – Foto: VICE

Em um dos momentos mais impactantes do episódio, Tommy Dreamer afirma que os abusos cometidos por Ric Flair não passavam de um brincadeira. E que hoje, inclusive, problematizam até seu rabo de cavalo.

O problema é que Dreamer, no auge dos seus 50 anos, ainda não aprendeu a diferenciar uma brincadeira de um crime.

Assim como outros presentes no documentário, que preferiram afirmar que tudo não passou de uma brincadeira. Uma brincadeira que traumatizou uma comissária de bordo que estava, olhe só, trabalhando.

Brock Lesnar, que assim como Flair, abusou sexualmente de uma mulher na mesma semana, continua figurando entre as estrelas máximas da WWE.

A conivência com as práticas feitas por lutadores, principalmente até o início dos anos 2000, é assustadora.

E é ainda mais absurdo, em 2021, se acreditar que tudo não passou de uma brincadeira, afinal, era o 16 vezes campeão do mundo que estava fazendo.

Imagine como é, para uma pessoa abusada, ver o seu abusador ser tratado como um ídolo e pessoa adorada por diversas pessoas, que não fazem a menor ideia dos seus crimes cometidos?

Eles não podem ser ídolos. Tampouco seus cúmplices, que insistem em reafirmar que “foi só uma brincadeira”

Em 2021, isso mudou?

Eu não sei.

Eu realmente espero que sim.

Mas se não mudou, eu desejo forças a todos que sofrem diariamente com os abusos cometidos pela industria da luta-livre.

É preciso mudar.

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