Em poucos dias, iremos presenciar um dos momentos mais estranhos da história da Luta-Livre. O maior evento da arte, a WrestleMania, será sediada em vários locais, mas sem torcida.
Isso se dá por conta da pandemia de coronavírus que assusta o planeta. A recomendação é que eventos com aglomerações sejam cancelados ou adiados até que a situação melhore.
Mas a WWE, tendo Vince McMahon como seu capitão, nunca irá parar.
De toda forma, teremos um show inesquecível, mesmo que de forma negativa. No entanto, essa não é a primeira vez que a WWE muda o endereço do seu maior evento.
Em 1991, os motivos foram outros, mas a WrestleMania também mudou de lugar.
1. Uma WrestleMania para 100 mil pessoas?
O ano era 1991. No ano anterior, na WrestleMania, Ultimate Warrior vencia Hulk Hogan pelo títulos mundial da WWE e Intercontinental, eternizando seu nome no hall dos imortais.
Warrior era a antítese perfeita para Hogan. Sua intensidade dentro do ringue e seu tipo físico encantou Vince McMahon, que procurava um substituto para o seu ícone.
Em 1990, os próximos anos da Luta-Livre pareciam decididos. Warrior seria o campeão e protagonista das próximas WrestleManias, até que um antagonista aparecesse e acabasse com sua hegemonia.
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Após mais de 67 mil pessoas assistirem in loco o grande guerreiro derrubar Hulk Hogan no SkyDome, era hora de um passo maior. A WrestleMania VII tinha que ser maior, e nada melhor que sediar o evento numa cidade onde o show não pode parar.
O martelo foi batido e o evento que torna lutadores e lutadoras ternos seria sediado no Los Angeles Memorial Coliseum , em Los Angeles, Califórnia. Um palco para 100 mil espectadores.
Se Vince McMahon e sua federação queriam criar uma nova lenda indestrutível, nada melhor que ter 100 mil pessoas gritando pelo o seu triunfo, certo? Claro!
Mas aí veio a Guerra do Golfo.
A GUERRA DO GOLFO
Em 2 de agosto de 1990, mais de 100 mil soldados iraquianos invadiram o Kuwait. Saddam Hussein, presidente do Iraque, acusavam o país vizinhos de superprodução de petróleo, o que prejudicava os país.
A ONU condenou a invasão e aplicou sanções. Saddam dobrou a aposta e declarou a anexação do Kuwait apenas seis dias depois de pisar no território com os seus soldados.
Depois de movimentos diplomáticos que vocês podem conferir nessa linha do tempo, o Conselho de Segurança da ONU autoriza o uso da força contra o Iraque a partir do dia 15 de janeiro de 1991, caso as tropas iraquianas não saíssem do país vizinho.
Saddam Hussein não recuou, óbvio.
E em 16 de janeiro de 1991, uma coligação de 28 países se junta para fazer o que os Estados Unidos mais gosta em seus mais de 250 anos de existência: invadir um país abarrotado de petróleo.
A Guerra do Golfo, como foi chamado o conflito na região do Golfo Pérsico, mexeu com o brio dos americanos. O primeiro grande conflito após a Guerra do Vietnã poderia ser a chance de ressuscitar o orgulho americano.
E é claro, isso foi usado de todas as forças.
No SuperBowl XXV, em Tampa, Flórida, uma gigantesca demonstração de patriotismo. Whitney Houston cantou a versão mais emocionante do hino nacional da história do evento enquanto bandeiras tremulavam. Haviam apenas 10 dias de conflito.
Vince McMahon, obviamente, não queria ficar de fora.
A PREPARAÇÃO PARA A WRESTLEMANIA VII
O país precisava de atos heroicos. O país precisava reafirmar sua vitória em todos os campos. Vince McMahon sabia que isso era necessário, mexer com os sentimentos mais profundos dos estadunidenses.
No meio de um grande conflito, por que não emular os participantes do conflito no evento principal do maior show da sua empresa? – deve ter pensado o Chairman.
E foi isso que ele fez, claro.
Royal Rumble, 19 de janeiro de 1991. Ultimate Warrior colocava em jogo o cinturão mundial da WWF contra Sgt. Slaughter, que retornava de lesão. Slaughter era um dos maiores nomes do patriotismo dentro da empresa.
Mas, naquela ocasião ele interpretava um traidor da nação, que tinha se aliado aos iraquianos. Trazendo um general do país inimigo como seu manager, o roteiro estava montado.
Na luta, Slaughter saiu vencedor, derrubando um reinado de mais de 8 meses de Warrior. O Iraque, metaforicamente, estava com o maior cinturão da Luta-Livre em plena Guerra do Golfo.
A América precisaria reagir. Quem poderia nos salvar da ameaça iraquiana?
Apenas um homem conseguia unir o país dentro do esporte de forma tão intensa que você entraria em guerra por ele. Apenas um americano real como Hulk Hogan poderia derrotar o inimigo da vez, afinal, ele já havia derrotado os soviéticos e os iranianos.
E Vince McMahon decidiu que o confronto pelo cinturão mundial da WWF seria Sgt. Slaughter, o traidor da nação e campeão mundial, contra Hulk Hogan, o herói de um país tão necessitado de uma vitória.
Mas deu tudo errado.
ACABOU A GUERRA, E AGORA?
Quem vendeu, vendeu. Quem não vendeu, não vende mais.
O avanço dos Estados Unidos foi impressionante no Kuwait e no Iraque. Em 28 de fevereiro, um mês antes da WrestleMania, o cessar-fogo foi assinado entre Saddam Hussein e os demais envolvidos.
Além do fim rápido do conflito, a WWF tinha um problema nas vendas. Dos ingressos comercializados, apenas 15 mil, aproximadamente, foram vendidos até fevereiro, mês anterior ao evento.
A possibilidade de ter um estádio com um número expressivo de lugares vazios acendeu um alerta na WWF.
E agora, o que fazer?
Como Vince K. McMahon adora fazer, ele decidiu arranjar um bode expiatório.
A WWF anunciou a mudança do evento para a Los Angeles Memorial Sports Arena, um palco menor, com capacidade para pouco mais de 17 mil pessoas. O motivo? A empresa estaria sofrendo ameaças constantes de ataques à bomba.
Além disso, a companhia afirmou que o Los Angeles Memorial Coliseum teria muitos custos de segurança com as ameaças terroristas por se tratar de um estádio aberto, o que poderia gerar um grande problema de logística.
A WrestleMania VII, que poderia ter um recorde de espectadores, teve 50 mil pessoas a menos em relação ao ano anterior.
Mas o evento possui alguns momentos marcantes para a história do Wrestling.
O QUE TIVEMOS DE RELEVANTE NA WRESTLEMANIA VII?
Eu sei que eu não precisava dizer isso, mas os Estados Unidos ganhou no fim do evento, obviamente. Hulk Hogan colocou um fim no sonho iraquiano de dominação global da Luta-Livre e se colocou novamente no topo da empresa após um ano.
Mas também tivemos coisas relevantes, é claro.
Ultimate Warrior, que era o campeão até janeiro, foi jogado para o meio do evento, mas teve a luta mais duradoura. Além disso, venceu Randy Savage naquela que seria a sua última luta, ou era pra ser.
Após o combate, Sensational Sherri, manager de Savage, tentou descer-lhe o sarrafo. No entanto, Miss Elizabeth, sua ex-esposa, saiu da arquibancada e tirou Sherri do ringue no tapa. No fim, o casal se abraçou, num dos momentos mais lindos da história da Luta-Livre.
Eles se separaram depois.
Antes do embate entre Savage e Warrior acontecer, um homem de sobretudo, chapéu, aspecto de morto e mais de 2 metros de altura entrava ao lado do seu manager gordinho com uma urna e um jeitão muito estranho.
Sim, Undertaker estreava na WrestleMania. 29 anos atrás. Em 4 minutos e 20 segundos, o futuro marido de Michelle McMcool iniciava sua invencibilidade que durou 23 anos, derrotando Jimmy Snuka.
No ano seguinte, a WWF colocou mais de 62 mil pessoas no Hoosier Dome, em Indianápolis, para assistir a WrestleMania VIII, que teve Hulk Hogan contra Sid Justice e Randy Savage contra Ric Flair como os eventos principais.
Depois disso, só conseguiu repetir os números em 2001. Sim, naquela do Rock e do Austin.
Em 1991, Vince McMahon tentou fazer uma das suas maiores jogadas. Usar da política para criar uma grande atenção para a Luta-Livre. Diferente das outras oportunidades, ele fracassou nessa tentativa.