O pesadelo é real.
Unanimidade é inexistente, uma falácia do microcosmos que nunca poderá ser transposta para um público maior, uma turba. Entretanto, você pode ter ao menos coerência dentro do seu pensamento individual.
Isso faltou a este site no dia 2 de abril de 22, Wrestlemania 38, noite um. Cody Rhodes retorna à empresa que o criou, mastigou e cuspiu. Volta depois de ter se tornado o prospecto de uma promessa na qual ninguém acreditou.
A Jornada
Ele se fez realidade em lugares como PWG, WCPW, Impact e, principalmente, ROH/NJPW. Foi ali que floresceu o pesadelo americano e foi também ali que percebi o quanto o lutador que me prometeu talento ao sair da WWE não iria me entregar nada.
As suas passagens em todas essas empresas não me agradaram e a persona do “pesadelo americano” se tornava cada vez mais brega e sem noção conforme o tempo passava.
Cody então tomou o posto de produtor e deu “All In”. Ali começava a chamada revolução, o início do que veio a ser a AEW, também muito criticada por nós.
Ele foi duas vezes campeão da TNT – inclusive ganhando o título inaugural – e protagonizou feuds contra Young Bucks, MJF, Shaquille O’Neal e outros.
Tudo bem medido e bem marcado, agradava – até certa medida – os fãs do produto que a All Elite queria entregar. E então não agradava mais.
A Virada
Em sua feud com Malakai Black – encaixada no outros ali de cima – o público finalmente parecia ter se cansado do que era intragável desde o começo: a personalidade over ao estilo coringa do Jared Leto, o moveset limitado, o ritmo sonolento.
Percebeu-se que Cody era um wrestler fora de época e que sua vitória pelo NWA Title – sua tentativa de comprar seu reinado como campeão mundial – não foi nada mais que um atestado de sua linguagem fora de moda.
Foi quando ele entregou essa promo:
Nesse ponto especulava-se o início do fim, o ponto onde, ironicamente, as estradas se cruzam, dividindo os caminhos de empresas e carreiras.
Cody perde seu TNT Title em um excelente combate – isso eu tenho que admitir – e some, vai embora. Estava tudo escrito, mesmo que existisse a dúvida.
Entretanto, onde plantou-se dúvida começou a germinar uma hipocrisia. Nada resume mais isso do que a frase de Corey Graves:
“From undesirable to undeniable”
Pessoas que vociferavam contra a All Elite e a postura de Cody passaram a acompanhar o Raw religiosamente para ver sua aparição.
Este mesmo site que tanto falou do seu hiato de bom senso e autocrítica passou a cobrir e noticiar o que poderia ser o retorno do famigerado filho pródigo.
A Volta do Pesadelo
Foi quando, frente a Seth Rollins, garoto propaganda e autoeleito protetor de Vince McMahon e sua empresa, Cody Rhodes, a face de uma revolução antimonopólio, retornou com sua própria música, personagem, nome, roupa.
O Cody que voltou é o Cody que eu aprendi a odiar pouco a pouco. É o lutador que entregou dois combates medíocres no Tokyo Dome, que impregnava o Impact com uma energia que fazia o resto do show parecer um alívio.
O que transpareceu sábado foi o pesadelo de qualquer pessoa de boa-fé: a hipocrisia frente a um êxtase momentâneo.
De medíocre ele foi a salvador, de tosco ele passou a ser sofisticado, de antiquado transmutou-se em clássico e sua luta com Seth Rollins, algo que na AEW estaríamos chamando de sem pé nem cabeça, se torna clássico na boca de muitos.
Mas não se engane. A sua volta à WWE é prova de sua mediocridade e como ela se encaixa à empresa que o neto de encanador tanto criticou e satirizou.
Uma carta assinada quanto a opinião volátil e o favoritismo que temos quanto a uma ou outra empresa, a maleabilidade da narrativa. Essa carta é assinada por nós, não por Cody.
Ele fez o que foi melhor para sua carreira e não há o que criticar nisso, nunca houve de um ponto de vista de negócios. Contudo, analisar o retorno só por fogos e tamanho de estádio é infantil, no mínimo.
Cabe a análise do significado para o todo e não só para ele. O que ao homem significa uma volta por cima, um retorno de glória de onde antes havia vergonha, para o público e para seus fãs é possível que exista o verdadeiro pesadelo.
E para os detratores também. O que antes era indesejado, é agora inegável: a hipocrisia.