Só mais um texto sobre Boer vs Xandão

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Existem dívidas que precisamos pagar. Há dois anos eu me endividei, com ninguém importante, diga-se de passagem. Estava em falta comigo mesmo. A divida não era monetária, mas sim um compromisso, a promessa de falar Pro Wrestling nacional – nem que fosse só um pouco. 

Pois o dia chegou. Hoje vamos falar sobre luta pelo título, desenvolvimento de feud e como eu larguei a igreja para assistir luta livre por causa de um certo gigante. 

A luta de hoje é Victor Boer vs Xandão pelo Título Sul-Americano de Luta Livre. 

BWF Xandão vs Boer

O combate em questão aconteceu no BWF In Your House 28. Pode parecer aleatória sua escolha e, sendo bem sincero, é mesmo.

Vi a luta em questão na casa de um amigo – que por acaso é o Referee do combate – e fiquei com ela na cabeça desde então. Não só ela, mas toda a ideia de luta livre no Brasil e o que significa ser um Wrestler sem carteira assinada, plano de saúde ou garantia de segurança. 

Não costumamo pensar na profissão dentro desses termos tão antiprofissionais. Isso porque daria a impressão que não existe esforço para mudança, o que – pelo menos é o que quero acreditar – esta um pouco longe da verdade. 

Mas é o que acontece. Talvez esses atletas tenham as garantias supracitadas de outro modo, mas subir no ringue já é, em si, uma demonstração de coragem. 

Pois subiram. Victor Boer com seu título Maremoto e a chance de desafiar um campeão e Xandão, com toda sua altura, sua história, sua barba e a cinta de campeão Sul-Americano. 

A mágica já acontece antes do gongo soar. Já temos ali Max Miller aparecendo para implantar um suspense, algumas farpas verbais trocadas, tudo parte do plano. E é quando os sinos dobram que os planos começam a se movimentar. 

Estratégias se desmontam entre as cordas. Xandão, muito mais pesado e experiente, usa sua força. Boer, por outro lado, tem o vigor da nova geração, além da sede de quem tem tudo para provar. Seria um Davi e Golias, fosse Davi tão alto e Golias tão carismático. 

Esssa luta em questão possui um bom ritmo, golpes bem acertados e uma narrativa clássica que entrega, no final, um produto muito legal. Mas não é por isso, também, que estou falando dela. 

Se olharmos para Victor Boer poderemos ver um futuro brilhante no Wrestling Nacional. Poderia ser cada lutador da FILL, CFW ou qualquer outra empresa que você queira nomear dos cantos da nação. Existe gente querendo fazer acontecer, talvez mais do que nunca. É possível ver essa verdade nos moonsaults aplicados por aquele conhecido como Sensacional, em cada soco, vôo ou ofensiva.  Boer, assim como tantos outros, pedem passagem. O futuro pede passagem. 

E na frente esta Xandão. Mas não se engane, o gigante de Bragança não segura as portas, impedindo o futuro. Pelo contrário, Xandão parece pavimentar o caminho para que o futuro exista. Seria estupidez falar o contrário de alguém que carrega o tempo em cada um de seus ossos. 

Eu costumava ir a igreja quando tinha três anos de idade – e talvez eu já tenha contado isso aqui. Xandão era uma das minhas poucas desculpas para sair do culto. O antigo – e ainda atrasado, retrogrado e tacanho – Gigantes do Ringue era transmitido pela TV Gazeta se não me falha a memória. Era parte essencial dos meus domingos, tão ritualístico e religioso quando fechar os olhos em oração. Entretanto ali tinha mais cores, mais vida. 

Xandão era, de fato, meu Golias naqueles tempos. O X que ele faz com os braços talvez sejam a marca no mapa, algum alvo que eu ainda procuro desde os três anos, a busca de toda uma cabeçada de pessoas que cresceram vendo o homem fazer miséria. Xandão venceu Boer, simples assim. Venceu porque é isso que ele faz, até o dia que não puder. 

Eu já o vi conquistar vitórias ao vivo e, acredite, é recompensador cada uma das vezes. Ao final da luta vimos ali uma interferência de Max Miller – tão faminto quanto todo o resto – e uma promo envolvendo o Título Brasileiro. 

São deles que se lembrarão quando já estivermos velhos. Talvez os bichos brutos, os prefeitos de Iron Town, os Superastros e tantos outros estejam fadados a serem as memórias de uma prole nascida dos atuais esforços. 

Um dia Xandão foi jovem assim como fui criança. Hoje ele ainda tem o cinturão, derrubando obstáculos um Leg Drop por vez. 

Quanto a Boer? Ele voa, levanta o gigante nos braços e com a mesma força alcança os céus. Outros tem habilidades diferentes, mas a mesma força para levar outros gigantes nos braços. Um futuro gigante.

E o resto será história.

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