Porque Pro-Wrestling também é afeto

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Caro leitor, o final do ano está nos proporcionando uma série de assuntos relevantes para a Luta Livre.

Entre estreias, invasões e – principalmente – questões político-sociais, as pautas não cessam. Eu, inclusive, mudei o assunto deste texto algumas vezes durante a semana.

No entanto, havia um assunto que se tornou prioritário a partir do momento em que me deparei com ele: o novo cd do Emicida.

No dia 30 de outubro, o rapper lançou AmarElo, seu mais novo projeto. O objetivo do disco não é apenas mostrar o poder das rimas que Leandro, mais do que qualquer outro atualmente, pode fazer.

O intuito de AmarElo é ser sentido, não apenas fazer sentido. É uma experiência onde a música te abraça, se conecta e te coloca em contato com o seu interior.

Ou como Joker, um dos maiores comentaristas que o Pro-Wrestling nacional disse:

Ao longo das 12 faixas – incluindo participações até de Fernanda Montenegro -, Emicida nos relembra que o que nos sustenta do início ao fim da nossa estadia no plano terrestre é o afeto.

O disco é, acima de tudo, uma ode a amizade, ao carinho sincero e um sopro de esperança nos ouvidos de quem escuta. Porque no final vai ficar tudo bem, e ele sabe muito bem disso.

E, mesmo com tantas pautas quentes, a semana da Luta Livre mundial teve momentos onde o afeto se mostrou presente.

Então, decidi falar um pouco deles aqui, porque Pro-Wrestling – às vezes – também é afeto.

Agora, eu preciso falar um pouco de Sonny Kiss.

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Sonny Kiss é um jovem lutador estadunidense, conhecido por suas habilidades no ringue e carisma. Além disso, ele também um homem negro e homossexual.

Kiss passou por algumas promoções independentes e ganhou destaque nos últimos anos. A All Elite Wrestling, que estava compondo seu elenco, decidiu contratar o lutador.

Multi-talentoso, Sonny Kiss atraiu a atenção de Cody Rhodes que o contratou e anunciou o lutador numa das suas conferências no meio desse ano.

Sua comprovada habilidade, somada à grande representatividade em torno do seu personagem, tornam Kiss um lutador especial. Existem muitos meninos que, assim como ele, sonham em realizar grandes feitos.

E, em uma sociedade que julga comportamentos antes de habilidades, ter alguém que mostre que você pode voar sendo da maneira que for por ser inspirador.

E Sonny Kiss com certeza é uma inspiração.

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Sonny Kiss acompanhado por cheeleaders que dançavam uma coreografia feita pelo próprio lutador. (Foto: All Elite Wrestling)

O lutador estreou na AEW vencendo Peter Avalon – um lutador que terá um texto logo – no pré-show do Double or Nothing.

E desde então participa do show secundário da companhia, como o AEW Dark.

E foi no show exibido na terça-passada (29) que o lutador teve a oportunidade estar ao lado de uma das suas maiores inspirações.

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Sonny Kiss foi escalado para lutar junto à Dustin Rhodes, um veterano de mais de 30 anos de Luta Livre.

Dustin, filho do lendário Dusty Rhodes, foi conhecido pelo seu personagem na WWE, Goldust, que era uma espécie de drag queen que, com uma interpretação incrível se tornou um dos personagens mais marcantes dos anos 90 e 2000 na empresa.

Mas nunca venceu um título mundial por lá, nem mesmo recebeu um reinado por gratidão como outros ao fim de suas caminhadas pela companhia.

Dustin Rhodes é um dos exemplos de lutadores subestimados da história da Luta Livre. Suas habilidades nunca foram reconhecidas sabe-se lá porque (no fundo a gente sabe, mas esse não é o ponto).

Não para Sonny Kiss.

Para ele, Dustin foi uma inspiração, uma prova de que homens como ele também poderiam brilhar no mundo do Pro-Wrestling.

E a All Elite Wrestling promoveu o encontro entre os dois no ringue.

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Sonny Kiss surpreendeu a todos ao entrar usando um traje com as mesmas cores da vestimenta do lendário lutador. Na AEW, Rhodes adotou um look vermelho e preto, com a pintura cobrindo apenas a metade do rosto.

Ambos são queridinhos da plateia, e lutando contra dois vilões – QT Marshall e Peter Avalon – a torcida era unânime para os nossos heróis.

E, é claro, eles venceram após um bom combate.

Se Emicida, Pabllo Vittar e Majur cantam em “AmarElo”, décima faixa do álbum, “permitam que eu fale, não as minhas cicatrizes”, Kiss também prova no ringue que ele tem muito a mostrar.

Ao fim da luta, Dustin agradeceu Kiss pela parceria e resolveu falar um pouco sobre o seu parceiro:

Para todos que estão ouvindo agora, esse aqui é Sonny Kiss. Ele foi um parceiro sensacional de se ter no ringue nesta noite.

Dustin Rhodes após o combate no AEW Dark

Um lendário lutador, com mais de 30 anos de estrada, promove seu parceiro, um jovem lutador, num exclusivo do YouTube.

Porque o cuidado também cura e nos faz crescer.

Isso seria apenas mais um momento da Luta Livre, se não fossem quem fossem e o quanto eles representam para cada um que, assim como eles, tem direito de chegar ao topo da maneira que são.

Às vezes, o Pro-Wrestling também fala de afeto.

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O AmarElo me fez lembrar disso.

E faz lembrar que cada dia que atravessamos na Terra é superado com gestos simples, desde um abraço, até um bom dia. Mesmo nos momentos mais difíceis, é o amor que aparece de forma mais espontânea que nos segura.

E que a luta sempre continua, porque não tá nada bem, mas vai ficar.

Quando Lacey Evans e Natalya abraçaram uma mulher emocionada ao fim da luta das duas no Crown Jewel, foi isso que elas passaram. Não apenas para aquela mulher, mas como para muitos que sentem num gesto inédito uma esperança de que tudo vai mudar para a melhor.

Porque o afeto era a maior coisa que elas poderiam demonstrar naquele momento.

Porque o abraço foi a melhor forma delas dizerem que vai ficar tudo bem um dia.

Essa semana qualquer fato relevante poderia ser abordado na minha postagem semanal, mas eu precisava falar do Emicida e da sua maneira de transmitir carinho para as pessoas através da música.

E que AmarElo, uma música em que um homem negro, uma drag queen e uma mulher trans protagonizam, me salvou em um momento difícil do ano, onde eu não sabia mas só precisava de um abraço.

Além disso, nós vivemos em uma comunidade pequena, onde muitos se abraçam e, mesmo com grandes dificuldades, estamos avançando. Esse é minha pequena vitória diária e minha esperança de que vai ficar tudo bem um dia.

Porque cada um aqui tem um momento de felicidade relacionado à Luta Livre, uma amizade que leva sempre no peito e um carinho que já recebeu nessa comunidade.

Porque, às vezes, o Pro-Wrestling também fala de afeto.

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Se você chegou aqui, meus parabéns, você vai recompensando com ótimas leituras, porque o Henrique, do Enfim Tag Team, fez um análise contrapondo a posição do NXT como salvação da WWE aqui.

Além disso, o Tanaka nos deu uma aula sobre vida e Pro-Wrestling ao contar a história da rivalidade entre David Starr e Jordan Devlin, dois lutadores que protagonizam o cenário britânico da Luta Livre.

E o Lequinho vai fazer uma análise do Crown Jewel amanhã. Que semana para saber ler e ser fã Luta Livre, hein?

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