Será que dá pra falar de Djonga num texto sobre Luta-Livre?

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Gustavo Pereira Marques é, provavelmente, o maior nome da música popular do Brasil, o rap, na atualidade. Eu não sei se você o conhece, por isso lhe farei uma breve introdução.

Djonga, como é conhecido, lança há quatro anos seguidos álbuns no dia 13 de março. Suas letras falam de luta contra o racismo, autoconhecimento, autoestima, masculinidades, vivência, ancestralidade, amor, entre outros assuntos.

Nesse momento você se pergunta: o que ele tem a ver com Luta-Livre?

Se você acompanha meus textos, provavelmente já sabe do que eu vou falar. Se não me conhece, lhe farei uma breve introdução.

LKS, como sou conhecido, escrevo de forma recorrente para o WrestleBR. Meus textos falam sobre luta contra o racismo, autoconhecimento, autoestima, masculinidades, vivência, ancestralidade, amor, entre outros assuntos. E Luta-Livre, é claro.

Ontem, enquanto tentava me distrair ao aguardar uma importante notícia, veio a questão à minha mente: será que dá pra falar de Djonga num texto de Luta-Livre?

É claro que dá. Porque Wrestling é isso tudo e mais um pouco. Porque Wrestling É tudo. Sim, nosso pão e circo também é vida, e por isso imita a arte, e é por isso que eu escrevo. Entretenimento que reflete o dia a dia de um sistema que oprime mais do que alegra.

Djonga ascendeu para a cena do rap com um grupo chamado DV Tribo. Depois, lançou Heresia. É de junho de 94, um ano mais velho que Velveteen Dream, mas ascendeu ao estrelato em 2017 junto ao lutador.

D de Dream, D de Djonga, D de Deus – Foto: WWE

Tinha medo de ser obra de arte, aplaudido pelos brancos e depois virar descarte. Falou isso em Santa Ceia. Seria ele mais um dos Apollo Crews, Alicia Fox, Cedric Alexander ou Ricochet, entre outros que aparecem e somem com o estalar de dedos de Vince McMahon.

No ano lírico do rap nacional ele apareceu sozinho. Mas foi um ano depois, mostrando que queria ser Deus, que o menino virou homem. Pecador como os outros, potente no microfone. Ainda não era The Rock, mas já fazia duas vezes melhor para chegar no topo.

Já tinha botado fogo nos racistas e corrido deles também. Ele precisava estar vivo. Um preto em ascensão, coisa difícil de ver na Luta-Livre. Ele sabe que a vida imita a arte, e falou no seu terceiro disco, Ladrão, que nada mudou, nem ele. E por isso falava.

Ladrão é de 2019. O ano que eu voltei a escrever aqui. Eu também era como o mundo e como Djonga, não tinha mudado. Escrevi sobre a cultura do ódio na luta, reclamaram. Falei sobre a oportunidade dos negros, reclamaram. Falei sobre o machismo que cometemos com as mulheres, reclamaram. Falei do dinheiro de sangue da Arábia, reclamaram.

Meses depois reconheceram, estenderam a mão e melhoraram.

Cê guenta o risco real de diante do conflito tomar posição?

Djonga – Ladrão

Mas não quero falar disso em Ladrão, quero falar do que ele realmente importa. O terceiro ato de Djonga é sobre a reconquista dele e dos seus. Uma reconquista que só Deus poderia alcançar. A retomada da autoestima do negro, que brilha com o cordão de ouro e nike no pé.

Foi a Kofimania nos áudios um mês antes de acontecer. Kofi também foi Ladrão. Campeão Mundial na WrestleMania, coisa que nem The Rock fez. Tirou lágrima até do mais forte, ficou seis meses no topo. Sensação sensacional, disse Gustavo no Olho do Tigre.

A retomada da autoestima – Foto: WWE

Sou reflexo da sociedade, reflexo virou matéria
Os preto tá tão no topo
Que pra abater só um caça da Força Aérea

Djonga – Olho de Tigre

E pelo quarto ano seguido, Gustavo vem para decretar feriado no dia 13 de março. Memórias da Minha Área é uma conversa de Djonga, o Deus, com Gustavo, o homem. Aquele magrinho que ganhou o mundo com Heresia, mas não deixou de estar em casa com os seus.

E não só falou para os seus. Tirou os seus da reta da polícia. Deu sustento pros seus. Deu palavra. Não virou as costas. É pra isso que a gente vive, porra. É pra ajudar quem não tem voz a falar. E aqui mano, quem fala é a cifra. Ele olha para si e reconhece o homem que virou história da sua rua.

Todo mundo da minha área que chegou fui eu que pus
Eles ‘tão por mim, seja Sol ou Lua
E ‘cê só vai ser o maior do Brasil
Depois que for o maior da sua rua, chupa

Djonga – O cara de óculos ft. Bia Nogueira

E você ainda se perguntando o que isso tem a ver com Luta-Livre. Se não entendeu, acessa o site e olha os textos desse ano inteiro. Tem voz de tudo quanto é tipo pra você se ligar.

Dar voz pra quem não fala é missão de vida. Se você olha esse texto e ama ou não concorda com nada, minha missão tá feita. Você nunca vai sair daqui com apatia, ou é raiva ou é alegria.

Da camiseta de Jordan Myles à Kofimania, nunca vou esquecer dos meus. Tudo que eu aprendi fora daqui é pra falar pra eles.

Nós falamos pra nós – Foto: WWE

Irmão, você lembra de onde ‘cê vem?
E quando você chegar lá
O que ‘cê tem vai voltar pra de onde ‘cê vem?
Ou ‘cê nem sabe pra onde vai?

Djonga – Bença

E mesmo que os outros tentem, não vai ser fácil chegar nessa conclusão. Pra chegar metendo uma obra prima dessa é preciso ter vivência, coisa que não se aprende no youtube. E aqui nóis tem de sobra, né parceiro? Por isso que o mundo é nosso.

Não tem jeito, tamo em oto patamá.

Ouça o álbum Histórias da Minha Área clicando aqui.

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