Seis estrelas – 2017

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Sim, estamos três anos atrasados nesse quadro. Mas eu precisava dar continuidade a ele. E dessa vez nós falaremos sobre o primeiro Wrestle Kingdom que eu assisti inteiro, quando ainda sabia basicamente nada sobre o que acontecia pelas bandas da NJPW. Omega e Okada fizeram o até então mais longo combate da história do principal evento da New Japan, e vamos contar como foi aqui.

Antes de falar sobre o combate, vamos a uma rápida introdução de ambos os lutadores que, caso você acompanhe pouca coisa além da WWE, talvez não os conheça tão bem assim.

“Rainmaker” Kazuchika Okada

Okada já é para muitos um dos maiores nomes da história do wrestling japonês. Cinco vezes campeão IWGP e duas vezes campeão do G1 Climax, Kazuchika Okada foi eleito em 2017 o número 1 da famosa PWI 500, feito que conseguiu após um ano incrível de lutas memoráveis como esta do Wrestle Kingdom 11 que estamos falando, a do Dominion e as semi finais do G1 Climax de 2017. Todas essas lutas quebraram o famoso sistema de estrelas de Dave Meltzer, recebendo ao menos 6 estrelas.

Ele era, e ainda é, o cara a ser batido. Até hoje eu não consigo expressar em palavras o quanto o Rainmaker transcende carisma, e acredito que isso mereça um texto no futuro. Tendo vencido o IWGP Heavyweight Championship em 2016 contra Naito, no Wrestle Kingdom 11 ele tinha a dura missão de defender seu cinturão contra ninguém mais ninguém menos que o canadense Kenny Omega.

Kenny Omega

O até então líder da Bullet Club vinha para a sua primeira disputa pelo IWGP Championship. Kenny Omega fez história na NJPW antes de ingressar à AEW. Em 2017, ele foi eleito o Wrestler do ano na Sports Illustrated. Temos aqui então num mesmo momento o melhor lutador segundo a Sports Illustrated e o melhor lutador segundo a PWI, se enfrentando no mesmo ringue na melhor luta do ano de 2017. Tudo bem, estamos invertendo a ordem dos fatos, mas qualquer forma de elevar a grandeza dessa rivalidade é válida.

Era Chaos vs. Bullet Club, uma disputa entre as lideranças das duas stables consolidadas na NJPW. Omega se tornou o desafiante número um pelo título de Okada ao vencer a edição de 2016 do G1 Climax, que é um torneio de pontos corridos onde o maior pontuador do bloco A enfrenta o maior pontuador do bloco B para definir quem é o grande vencedor. Kenny Omega foi o primeiro wrestler não japonês a vencer o torneio.

Wrestle Kingdom 11

No grande dia, a missão para Okada e Omega era complicada. Na edição de 2016, a NJPW ainda contava com grandes nomes como Shinsuke Nakamura e A.J. Styles. O próprio Okada foi o main eventer do Wrestle Kingdom 10 contra Hiroshi Tanahashi, que fez uma grande luta contra Tetsuya Naito antecedendo o evento principal do WK 11. A missão era dura.

A entrada de Kenny Omega foi uma das mais icônicas da história, onde pudemos ver no vídeo sua versão de Exterminador do Futuro, exigindo as roupas de uns japas que encontrou na rua. O visual do The Cleaner era sensacional.

Mas ainda tinha Kazuchika Okada. Alguns podem dizer que a plateia japonesa é silenciosa, porém quando se trata de Rainmaker, o povo faz é muito barulho. Com muitas luzes e Okadólares voando, ele vem ao ringue com seu roupão brilhoso e todos os adereços que um verdadeiro campeão pode carregar tranquilamente sem parecer exagerado.

A psicologia da luta

A luta começou bem devagar, com muito estudo de ambos os lados. Holds e mais holds, os primeiros golpes de fato só aconteceram minutos depois do início da luta. O objetivo ali era minar o adversário, física e psicologicamente. Omega parecia ter o controle da luta no início. Okada tentou um Rainmaker e recebeu de volta um tapa na cara.

Os dois foram se soltando e a luta começou a ficar mais dinâmica. Muita correria e voadora para os dois lados. Dentro e fora do ringue. Não tinha nem 10 minutos de luta e Okada puxou uma mesa debaixo do ringue. Ele viria a se arrepender por isso depois.

15 minutos de luta e Omega continua a punir bastante Kazuchika Okada, golpes acrobáticos e mergulhos suicidas começaram a tomar conta da luta. Destaco aqui um Missile Dropkick diretamente na NUCA de Okada, que até hoje me dá nervoso de olhar. E teve o golpe da foto acima e do tweet abaixo. Mas sequer são os mesmos.

Resiliência é a chave

A retomada de Okada começou aos 20 minutos. Muitos golpes duros e submissões começaram a colocar a resiliência de Omega à prova. Mas ficou nítido que Kenny Omega não perderia fácil. Quando Okada começou a dominar, Omega devolveu com o golpe aí de cima e o pisão em cima da mesa. Eu te disse que Okada se arrependeria de puxá-la.

Mas se a resiliência de Omega era algo a se considerar, a de Okada está na mesma altura. O Wrestle Kingdom inteiro reagia aos movimentos e kick outs no último milésimo de segundo de ambos lutadores.

A mesa pode até ter ajudado Kenny Omega no começo, mas depois tornou sua vida mais complicada. Okada jogou o líder da BC diretamente para explodir junto com a mesa que estava fora do ringue. É aqui que a gente começa a perguntar o porquê deles estarem se matando desse jeito.

E as voadoras de Kazuchika Okada acertam em cheio. Uma após a outra, vemos a confiança do campeão subir e ao mesmo tempo uma incredulidade sobre o quanto Omega ainda aguentaria. Okada faz o seu famoso gesto e sabemos que é o começo do fim para Omega.

Rainmaker

As tentativas de Rainmaker aumentam, era questão de tempo. As costas de Omega já estavam dando sinais de que não aguentariam muito mais dano. E ainda assim, um suplex da terceira corda fazendo Okada cair diretamente de cabeça no ringue. Não seria o suficiente.

E aí começou o que levou a essa ser a melhor luta do ano. Uma troca de golpes que para qualquer outros seres seriam fatais, sendo trocados de forma ininterrupta. Chute na cara, piledrivers, e sim, o RAINMAKER.

1, 2, ………… NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!! A plateia foi à loucura. Foi a primeira vez que um wrestler não japonês escapou de um Rainmaker com toda sua força. AJ Styles escapou de um mais fraco, mas ainda assim, Kenny Omega foi o terceiro (ou quarto se considerar AJ) a escapar do derradeiro golpe de Okada.

A partir daí, a luta se resumia a um golpe SINISTRO seguido de uma contagem até dois segundos e meio. A luta já beirava os 40 minutos e estavam os dois ajoelhados trocando socos basicamente no modo automático.

Omega aumentava a força de seus golpes. Teve um descuido e RAINMAKER!!!!!! Okada já levantava os braços com a vitória mais do que certa. Mas não contava com Omega gastando o seu último gás para dar mais alguns chutes, só que a mão de Okada ainda estava ali e vamos para o terceiro RAINMAKER.

Não sabemos como, mas Omega continuava ali. E não só continuou como aplicou sua versão de Rainmaker que chamarei de JOELHOMAKER tal qual a imagem acima.

Okada foi ao chão. Kenny pensou que seria o fim, mas recebeu um spinning tombstone. Aí veio o quarto e derradeiro Rainmaker. Era o fim de uma das mais eletrizantes lutas de pro wrestling da história. 46 minutos, quarenta e seis minutos de luta encerrando o Wrestle Kingdom 11.

“Kenny Omega fez a luta de sua vida.”

Disse o comentarista, e não mentiu. A vitória foi de Kazuchika Okada, mas era apenas o primeiro de alguns históricos combates que esses dois fariam em 2017. Omega deu um valor a mais na dominância de Okada, e fez história. Nunca ninguém havia sobrevivido a tanto Rainmaker assim.

A melhor luta do ano foi feita no quarto dia de 2017. E foi dali em diante que eu passei a ver o Wrestle Kingdom com outros olhos. Desde então, tento compreender o que torna Okada tão forte e não consigo. É inexplicável, é indomável.

Essa foi a estreia do Japão nesse quadro, mas acredito que ele pode voltar nos próximos anos. Confesso que quando passei a tomar conhecimento dos lutadores e eventos da New Japan, percebi que é difícil negar que as melhores lutas estão lá.

Gostou da volta dessa série? Você pode conferir os outros anos aqui embaixo!

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